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Jonasnuts

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Se não percebem da poda, não podem

Jonasnuts, 30.08.11

Duas notícias que me assustam e preocupam, nos últimos dias.

 

A primeira, tem a ver com o desejo do Governo em criar uma base de dados que cruze os dados dos cidadãos, entre o Serviço Nacional de Saúde e as Finanças.

 

A segunda (e isto é visto como uma boa notícia, pela maioria das pessoas), que o Serviço Nacional de Saúde vai deixar de ter os resultados das análises e exames em papel, optando pela via electrónica, quer para os enviar aos médicos quer aos utentes.

 

E estas notícias, que estão relacionadas por ambas envolverem o serviço nacional de saúde, estão também relacionadas doutra forma, nomeadamente, porque em ambos os casos, as grandes costas largas que são os "meios electrónicos" são atirados para cima da mesa, sem grandes explicações.

 

Para que raio quer o governo criar uma base de dados que cruze informação clínica e fiscal dos utentes?

 

E quem é que teria acesso a esta base de dados que, tendo informação clínica, está ao abrigo do sigilo médico/paciente?

 

O mesmo se aplica ao envio de informação clínica por meios electrónicos, quer aos médicos, quer aos utentes. Quem é que tem acesso a esta informação? Não nos casos em que tudo corre bem, e como é suposto que corra, mas nos outros casos todos, os hackers que com maior ou menor facilidade conseguem ultrapassar as barreiras. A equipa técnica responsável pela infra-estrutura tem acesso a tudo.

 

E eu não quero que informação sensível minha (e do meu filho, já agora), esteja ao alcance de pessoas que não conheço e que não são os meus médicos.

 

E não me venham com tretas sobre a segurança dos dados, porque, para cada modelo seguro que me apresentem, eu arranjo com facilidade milhentas fragilidades e portas de entrada.

 

Portanto, senhores do governo, brinquem com o que quiserem, com as vossas pilinhas se vos aprouver, nada contra, mas deixem em paz a minha informação clínica, que nessa, mexo eu e o médico que eu escolher. Vocês não têm nada a ver com o assunto.

Fotos

Jonasnuts, 11.05.10

Há poucas fotos minhas. Não me refiro apenas ao online, refiro-me à generalidade. Não gosto que me tirem fotos. Provavelmente porque tenho uma mãe fotógrafa compulsiva que enquanto mandava alguma coisa me fez posar até em casas-de-banho de restaurantes, para tirar fotografias. Isso e o facto de ficar SEMPRE mal. É certo e sabido......foto minha fica um desastre, salvo raras e honrosas excepções. Mas pronto, não gosto.

 

A foto que está no cabeçalho deste blog é ao longe, nem se percebe muito bem se é um gajo se é uma gaja (já me disseram isso mesmo), e é das poucas que por aí andam.

 

De repente, no twitter, começam a dizer-me que viram fotos minhas da festa de hoje (Benfica @ SAPO), e eu estranhei. A minha mãe, Facebookiana dos sete costados a dizer-me que tinha gostado de ver as minhas fotos. Ficou-me a pulga atrás da orelha.

 

Fui ver.

 

A neve não caía, o ar condicionado não estava assim tão baixo, mas lá estava eu, publicadinha numa conta de Facebook de que nem sequer sou "amiga". Assim, escarrapachada. Nem autorização para tirar a foto nem autorização para a publicar.

 

Tiram-se as fotos e tunga, espetamos com as ditas cujas no Facebook, porque afinal de contas, aquilo é tudo família.

 

Cambada de atrasados mentais (e atrasadas), que puta de geração que não sabe o que é a privacidade. Ainda se fosse só a deles, é como o outro, mas a de terceiros? Assim?

 

Estou mesmo a ver a cena, ai que giras estas fotografias, deixa-me cá pô-las no "Face".

 

Esta gente droga-se.

 

Droga-se hoje. Amanhã ouve-me.

O erro de George Orwell

Jonasnuts, 04.02.09

Já lá vão uns anos valentes desde que li o 1984, mas penso que me lembro do essencial, para me permitir o título do post.

 

E afirmo que Orwell se enganou na sua previsão. Não há nenhuma entidade que nos registe e nos imponha determinadas regras, que siga os nossos passos, que nos tolha os movimentos. Não há, mas vai haver, e seremos nós os seus criadores.

 

Somos nós quem, de livre e espontânea vontade registamos os nossos dados, publicamos a nossa geografia e os nossos passos, identificamos os nossos amigos e respectivo grau de conhecimento ou parentesco. O que fazemos, com quem fazemos, quando fazemos e, muitas vezes, como fazemos. E fazemo-lo por iniciativa própria. Porque é giro, e em alguns casos prático, ou porque nos dão algo em troca. Usamos o cartão de débito e o de crédito, a via verde, encomendamos coisas online, damos a nossa morada para participar em concursos, blogamos, facebookamos, twittamos, flickramos, tagamos conteúdos, youtubamos, usamos o GPS e agora, até googlelatitudamos. Achamos que por ser nossa a iniciativa, e não duma entidade central e controladora, a coisa é menos perigosa ou menos intrusiva.

 

Mas não é. Não é preciso ser um génio para centralizar estes dados que, de forma absolutamente pública, vamos espalhando por aí, à espera que alguém os agarre. Confiamos sempre na boa vontade, e nos princípios das pessoas e das empresas a quem abrimos, assim, as portas das nossas casas (e casas aqui é no sentido lato da coisa). Somos no mínimo burros, no máximo, inconscientes.

 

Duma forma mais ou menos sistematizada, os dados já aí estão, à espera que um big brother em potência se lembre de os explorar. O Google é um óptimo candidato a big brother.

 

Agora que o homejacking está tão na moda (no meu tempo chamavam-se assaltos), quero ver quando é que aparece o primeiro caso em que o ladrão confessa ter sabido da ausência dos donos da casa por ter consultado o Google Latitude.

 

Aí vai ser um ai Jesus, um ver se te avias.

 

A minha pergunta é simples. Quando chegar esse momento, ainda será possível fazermos marcha atrás?

 

Creio que não.