Eu costumo dizer que, no Facebook, sou uma meretriz.
E é verdade. Sempre fui muito selecta, só adicionava (ou permitia que me adicionassem) se estivessem cumpridos determinados critérios que até eram rígidos. Isto é, eu não precisava de conhecer pessoalmente para adicionar, mas tinha de saber quem eram. Há pessoas com quem me dou e de quem sou amiga (na verdadeira acepção da palavra) e que nunca vi na vida.
E depois aconteceu aquela cena da ensitel, e centenas de pessoas pediram-me amizade nessa altura. E como em tempo de guerra não se limpam espingardas, aceitei todos os pedidos de amizade.
Foi a ensitel que fez de mim uma meretriz, facebookiamente falando.
Mais coisa menos coisa, mantive essa política. O Facebook, o meu Facebook, é uma mera extensão do meu Blog, com mais uns pós. Não publico coisas demasiado pessoais. Não publico fotos dos meus. Nada que não possa ser lido por qualquer pessoa.
Tive sempre alguns cuidados mínimos, e uso vários critérios para aceitar ou recusar um pedido de amizade. Um dos critérios que mais valorizo é o dos amigos em comum. Em linguagem técnica, o FOAF (Friend of a friend).
Recebo um pedido de amizade, vou ver o que é que aquela pessoa publicou ultimamente e dedico especial atenção aos amigos que temos em comum. Se não há amigos em comum, sou mais esquisita. Mas normalmente há (lá está, fruto da minha meretricidade), e são uma boa referência. Ok, este chegou-me através dos meus amigos dos Blogs. Este chegou-me através da cópia privada. Esta chegou-me das publicidades. Este veio do SAPO. Este é família. Agrupo as pessoas.
Os amigos em comum são uma recomendação. Se fulana e beltrano são amigos deste caramelo, é sinal de que pode ser interessante, ou que é de confiança.
E isto é um erro. A começar porque se toda a gente for como eu, aceitando todos os pedidos, arrasa completamente esta rede de confiança por interpostas pessoas. E depois porque o que é interessante para as pessoas que conhecemos pode não ser interessante para nós.
E vem isto a propósito de quê?
A propósito de um palerma que excluí hoje da minha lista de amigos. Palavra de honra que fui ver por mais do que uma vez, durante a "conversa" os amigos que tinha em comum com aquela aventesma. 12 amigos em comum. Enfim, 11, porque um já morreu, mas ainda tem perfil no Facebook.
12 pessoas, 7 das quais conheço pessoalmente. Uma com quem já trabalhei durante uns anos e duas a quem já prestei serviços de consultoria de gestão de imagem e reputação online, e o morto, um grande amigo da minha mãe e de quem eu gostava bastante. 12 pessoas. E podiam ser 12 pessoas que eu conhecesse vagamente e que me fossem indiferentes, mas não. 12 pessoas de quem eu gosto ou que respeito.
Estas 12 pessoas, ao serem amigas deste caramelo, cujo pedido de amizade aceitei há uns tempos, credenciaram este senhor, a não ser que, lá está, sejam como eu.
E também por causa de saber exactamente de quem é que ele é amigo, no Facebook, decidi responder-lhe a uma questão que tinha colocado sobre transexualidade, porque é um tema sobre o qual tenho conhecimentos acima da média, por ter acompanhado uma transição mais ou menos de perto. Eu também já tive perguntas.
Resultado? Uma pessoa ignorante (e com vontade de se manter assim) e preconceituosa. Eu também sou ignorante acerca de muitos temas, mas se tenho uma oportunidade de ser um bocadinho menos ignorante, aproveito-a. E também tenho os meus preconceitos, sim senhora. São relativamente inócuos, mas tenho. Mas como sei que os tenho, preparo-me para os desvalorizar, sempre que os apanho em acção.
Mas, acima de tudo, o que me fez confusão, foi a total incapacidade para a empatia. A capacidade de se pôr no lugar do outro. E empatia, é algo que me assiste e que valorizo muito, sobretudo se for em relação a alguém que eu considere mais desprotegido, mais vulnerável, mais injustiçado.
Disse-lhe mais ou menos isto, e o senhor ofendeu-se.
Por palavras mais polidas (lá está, os amigos em comum) mandei-o ir dar sangue para chouriços e deixei-o a falar sozinho. Desamiguei e fiz unfollow, que é algo que faço relativa facilidade, sempre que vejo alguém a publicar coisas que são de todo em todo incompatíveis com a minha maneira de pensar. Reparem, não digo "diferentes da minha maneira de pensar", digo "incompatíveis" que são coisas diferentes.
Acho que devia haver no facebook um disclaimer, para as pessoas que, como eu, são umas meretrizes das amizades, do género daqueles anúncios que apareciam nos jornais há uns anos:
Eu, abaixo-assinado, declaro que não me responsabilizo pelos actos, posts, fotos, mensagens ou comentários publicadas pelas pessoas com quem mantenho um vínculo bidireccional de "amizade" no Facebook.
Não vá alguém comer gato por lebre.