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Jonasnuts

Jonasnuts

Viagens na minha terra

Jonasnuts, 12.03.24

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Era para ter sido no final do ano passado, mais tardar início deste ano, mas é agora.

2023 foi o ano em que mais km fiz. Um trabalho que implicou muitas deslocações, para dar formação, e que me permitiu conhecer um bocadinho melhor (e em alguns casos, conhecer pela primeira vez) Portugal continental.

 

Nada de extraordinário, isto, não fosse dar-se o caso de ter feito todas as viagens de mota. Continua a não ter nada de extraordinário para o resto do mundo, mas é extraordinário para mim, que há meia dúzia de anos mal andava de bicicleta. Um post específico sobre isto, um destes dias.

Póvoa de Lanhoso, Tomar, Cartaxo, Valongo, Santa Comba Dão, Quarteira,  Guimarães, Braga, Viana do Castelo, Viseu e Coimbra (entre outros, mais perto e que não justificam presença na lista).

Mais de 6.000km, por estradas e auto-estradas, nem sempre com o tempo suficiente para visitas turísticas, mas mesmo assim, deu para conhecer muita coisa que não conhecia ainda.

Tanto sítio para onde me mudava já amanhã, sem pensar duas vezes.

Mas este é um post para assinalar km percorridos com a minha Maria.

Também teria dado para fazer de carro, mas não teria sido tão divertido (embora, devo confessar, em alguns casos, teria sido mais confortável - viajar à noite, de inverno, de mota, a chover e com frio e com vento não é o meu petisco preferido).

 

Mas foram km feitos, experiência ganha, para poder atirar-me a voos mais altos. Talvez no ano que vem :-)

Speed

Jonasnuts, 01.09.23

Image by fanjianhua on Freepik

 

Tenho este post encasquetado há, seguramente, um ano. Tem sido algo que se tem vindo a agudizar, à medida que percorro mais km. E, 2023, tem sido prolífero em km.

 

Temos um problema endémico de velocidade. Onde quer que eu esteja, lugar, aldeia, vila, cidade, estrada nacional ou auto-estrada, se não olhar para o velocímetro e me limitar a acompanhar a velocidade de quem me rodeia, estarei (amplamente) em excesso de velocidade. Independentemente de ir de carro ou de mota.

 

Eu já fui das velocidades, é um facto. Mas foi noutra altura da minha vida. Neste momento, já aprecio e valorizo o passeio, em vez do tempo que demoro a chegar ao destino, mesmo que seja um passeio para o sítio do costume.

 

No fundo, decidi abrandar. E foi quando decidi abrandar que me apercebi da existência deste problema. Anda toda a gente depressa demais. E reclamam, se uma pessoa for dentro do limite legal, mesmo que seja ali mesmo em cima do limite máximo. Todas as semanas tenho vários exemplos disto (momento em que digo - tenho de escrever aquele post), porque é com frequência que passo nos viadutos de Pedrouços, quer para um lado, quer para o outro. O limite é de 20km/h (já lá vamos aos limites absurdos, idiotas ou, pelo menos, de motivação difícil de compreender e sem fundamentação pública). Eu não cumpro este limite, confesso, mas mesmo que eu faça os viadutos ao dobro do máximo permitido por lei (portanto, 40km/h, que já dá uma multa muito simpática e remoção de pontos da carta de condução), dizia eu, se fizer os viadutos ao dobro da velocidade máxima permitida tenho, mesmo assim, sempre, alguém a encostar-se à minha traseira, e, não raramente, a fazer luzes e até a apitar para eu acelerar.

 

Ora........ quando se chegam à minha traseira e eu vou de carro, o problema é relativamente fácil de resolver, não é? Porque dá-se um cheirinho de travão, até com o pé esquerdo, só para acender a luz, e eles percebem a mensagem. Reclamam, espumam, mas desencostam-se da minha traseira. 

Já quando vou de mota, a história é diferente, não é? Eles encostam-se à minha traseira e quem tem traseira, tem medo :-)

 

Irritam-me muito, estes. O que faço normalmente é manter a minha velocidade, deixá-los ultrapassar assim que acaba o viaduto, e lá vão eles, cheios de pressa a acelerar até ao semáforo, momento em que os apanho.

 

Se me irritaram muito, meto-lhes a mota à frente, desço o descanso, desligo e vou lá falar com eles. Se não me irritaram muito, apenas faço as coisas muito lentamente. E depois quando me tentam ultrapassar, furibundos, deixo-os a ver a minha traseira ao longe. Não me põem mais a vista em cima.

 

Mas irrita, sentir-me em perigo, porque esta malta não só não respeita os limites de velocidade, como não respeita os limites da distância que se deve guardar para o veículo da frente. Tenho de retomar a minha ideia da pistola de paintball (auto-link).

 

Mas retomando o tema...... temos um problema endémico de excesso de velocidade. Basta olhar para as reações à instalação de novos radares. Tudo muito furioso e a gritar "caça à multa". Epá, andem dentro dos limites e já não são multados. E se não concordam com os limites, vão atrás e descubram qual é o processo para registar uma reclamação fundamentada e justificada. 

 

Porque o pessoal respeita os radares........ ali na avenida de Ceuta é um mimo, vai tudo ali na casa dos 100, até chegarem perto do radar, passa para 50 (muitas vezes com travagem brusca) e depois, quando chega à distância em que acham que já estão a salvo (aquela distância do "já deve dar"), volta tudo aos 100 e mais.

 

Não ajuda que muitos limites sejam absurdos. Ali no fim da 2ª circular, há um momento em que a velocidade passa dos 80 para os 60 e logo a seguir para os 50. Até hoje não percebi a razão de ser da velocidade ser 50. Vai ali tudo a 50, porque há radar, a olhar uns para os outros com ar de "não me lixem, porra, aqui é seguro ir mais depressa".

 

Eu sou muito a favor da descida da velocidade máxima permitida em muitos sítios das cidades, de 50 para 30. E sou a favor disto há relativamente pouco tempo. Desde que andei de bicicleta em Amesterdão.

O puto vive em Amesterdão. Quando foi para lá, disse-me logo que só ia andar de bicicleta (já era o que fazia por cá), e eu fiquei com medo, claro. Porque sou mãe e, por isso, o medo é condição básica, mas também porque ando no trânsito, aqui, de mota (mesmo que seja uma mota um bocadinho maior do que as scooters) e sei o perigo que é. 

E depois andei de bicicleta lá, e descansei. Um bocadinho, pronto. Porque os carros são menos. E porque andam mais devagar. E porque respeitam os ciclistas. Aliás, tive mais problemas com ciclistas do que com carros (andar de bicicleta não é a minha cena). 

 

Estamos a muitos anos do grau de civilidade ciclística e motora de Amesterdão, mas para diminuirmos essa distância, alguma coisa tem de ser feita, para além da instalação de radares.

 

Não serve para nada, diminuir a velocidade máxima permitida, se ninguém respeita os limites. 

 

Não sei como é que isto se resolve. Melhorar transportes públicos? Melhorar a formação das pessoas, quando tiram a carta? Teriam de começar pelos instrutores. Sensibilizar as pessoas para a empatia? Pensar no outro? Aprender a não fazer razias. Aprender a diminuir a velocidade em contextos onde esta represente um perigo para os outros (motas, bicicletas, trotinetas, peões). 

 

Mas como é que se ensina isto, se depressa e com pressa é o default de toda a gente?

Can you hear the silence?

Jonasnuts, 28.04.23

Screenshot 2023-04-28 at 13.32.35.png

Durante muito tempo, muitos, muitos anos, achei que ter a última palavra era fundamental. 

E, por isso, sempre me esforcei, às vezes até demais, para ter a última palavra, ser a última a escrever uma resposta, um comentário, um mail, um tweet, uma frase, o que fosse.

Sempre achei e, na verdade, continuo a achar. Mas. 

Não tendo estado enganada no feitio, andei enganada na forma.

Foram precisos uns anos de terapia, muitas leituras, muita descoberta, tropeçar em conceitos como o da aceitação radical e do grey rock, para compreender o extraordinário poder do silêncio. Caiu-me a ficha. Sim, no silêncio, também pode estar a última palavra.

 

Como em qualquer outra epifania, quando caiu a ficha, tudo ficou mais claro, mais fácil e, sobretudo, mais silencioso. E também mais poderoso. E mais confortável. E mais rápido. 

 

Passei a usar sempre que possível. Vai na volta, fui do oito ao oitenta. Mas a verdade é que é extraordinariamente libertador.

 

Há umas semanas fui emoldurar umas cenas. Enquanto estava ali na escolha das molduras e dos passepartout e demais opções de composição e emolduramento de serigrafias e cenas, senti o meu olhar a ser puxado, olhei para cima. Ali estava ela, emoldurada, exposta,  uma gravura. Estava muito lá para cima. Não se liam os escritos, nem da gravura nem da legenda. Mas as cores, as formas, a composição, atraíram-me de imediato. Fiquei por ali mais um bocado (muita coisa para emoldurar), e sem dar por isso, os meus olhos iam sempre dar à gravura. 

 

Tive de perguntar, claro. De quem é? Quanto custa? Da Marina Anaya (não conhecia). Custa uma pipa (não foi o que me responderam, mas foi o que achei). 

Só depois de muito namorar a gravura é que descortinei, finalmente, o que lá estava escrito. E, se estava indecisa (o facto de custar uma pipa não ajudava à decisão), o nome da gravura dissipou qualquer dúvida. Tinha de ser. Tudo me atraía. As cores, as formas, a composição e, por fim, o nome "Can you hear the silence?".

 

Não quis esperar que ma viessem entregar, veio comigo na hora, apesar de ser enorme e não caber no carro (tive de abrir a capota e veio meio de fora). Pendurei no dia seguinte. Adoro. Fica lindamente, na minha sala. É a gravura que ilustra este post.

 

Can you hear de silence?

Manual do bom manifestante

Jonasnuts, 26.04.23

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Nunca fui de manifs. Tirando aquelas a que fui com os meus pais, durante o prec, nunca fui muito frequentadora. Nem manifs nem comícios. Não sei porquê. Quer dizer.... até sei. Aquela gente toda. A confusão. A sensação de manada. A perceção de que estou a ser manipulada em benefício de alguém que vai guerrear números, mais logo nos telejornais. Sinto-me sempre deslocada. 

 

De vez em quando tento. Até já falei disso aqui (auto-link).

 

A única ocasião em que insisto em contrariar este meu desgosto, é no 25 de Abril. E desço a avenida. Comove-me. descer a avenida. Nem sempre a mesma avenida, que em 2021 estava no Porto com a Joana, mas desci a avenida lá do sítio. A mesma comoção.

 

Isto tudo para esclarecer que não tenho assim muita prática de manifestações, mas, mesmo assim, avanço com um manual do bom manifestante, baseado na minha (pouca, mas investida) experiência.

 

Estas são recomendações que pretendem beneficiar o próprio e os restantes. Amiúde, mais os restantes que o próprio.

 

Tomarás banho antes de ir para a manif

Sim, é importante. Porque vais estar ao livre, sim, mas também vais estar muito próximo do restante maralhal que, não estando constipado, vai sentir mais do que o cheiro a liberdade e alegria, e não queres contaminar o cheirinho a liberdade, com o odor do sovaco mal lavado. Se ainda por cima levas um cartaz, isso significa que vais de braços levantados, portanto...... maior exposição das glândulas sodoríparas, maior capacidade de contaminação. 

 

Não jogarás à apanhada no meio dos manifestantes

Julgar-se-ia esta recomendação prescindível mas, a julgar pela minha experiência de ontem, nem por isso. Sim, se vais a uma manifestação com milhares de pessoas que caminham a um determinado ritmo, necessariamente lento, senão era uma S. Silvestre e no fim havia medalhas, não deves andar a sprintar no meio das pessoas. Primeiro, porque é desagradável e depois porque é inevitável que acabes por empurrar, pisar ou de qualquer outra forma incomodar quem está à tua volta, por mais engraçado que o feito te possa tornar aos olhos dos amigos com quem jogas. Alternativamente, porque uma manifestante mais agastada com a coisa, pode achar boa ideia meter o pé no exato momento em que vais a passar e depois esbardalhas-te todo e é uma maçada. Mas sobretudo, porque incomodas.

 

Leva chapéu, protetor solar e água

Senão para ti, para as crianças que decidiste arrastar para a manif. Depois da primeira meia hora, dependendo da idade dos petizes, naturalmente, a miudagem já só quer é ir-se embora e já está muito farta do ajuntamento, do cheiro (ver primeira recomendação) do facto de não poder jogar à apanhada (ver segunda recomendação), pior será se, em cima disto tudo, ainda apanharem uma insolação e um escaldão. Ontem, por exemplo, fazia uma caloranga desgraçada, estava um sol esplendoroso e fartei-me de ver miudagem sem chapéu. A água, é para não desidratarem. Aplica-se também a cães que, coitados, ficam ainda mais à nora que as crianças (mas mais bem comportados).

 

Não atravesses a rua

A sério, não atravesses a rua, se está a passar uma manifestação. Estares numa passadeira é completamente indiferente (ontem houve uma que se saiu com esse argumento - isto é uma passadeira - coitada). Não atravesses. Mas, se de todo em todo tiveres MESMO de atravessar, é fácil e simples. Junta-te à manif, acompanha a população, andando no mesmo sentido e enquanto andas em frente, deslocas-te LENTAMENTE na direção do sítio para onde pretendes ir. Se não fizeres isto,  pode acontecer-te o mesmo que ao gajo que andava a jogar à apanhada (ver mais acima), um pé mais maroto, e esbardalhas-te. Vai que até entornas a imperial que levas na mão e que te deu tanto trabalho a arranjar. Não vale a pena.

 

Não fumes

O conteúdo do cigarro, para o efeito em apreço, é irrelevante. Mas não fumes. Bem sei que não é ilegal, e que estamos ao ar livre mas, vivemos em sociedade e, afinal de contas, é uma manif, estamos todos uns em cima dos outros, salvo seja, pelo que não consegues evitar que o fumo da merda que que estás a fumar, vá para cima dos outros, que não têm culpa nenhuma que sejas um energúmeno e que não tenhas tido quem te ensinasse, em casa, as regras mais básicas da convivência em sociedade. Fica a dica. Se queres fumar um cigarro, ou um charro, dá igual, abandonas a corrente humana em movimento, páras numa zona mais calma, com menos movimento e com menos gente por m2, fumas o teu cigarro, ou o teu charro, lá está, e depois retomas a coisa. Em última análise, até haverá áreas da corrente humana, onde a acumulação é menos densa e até dá para fumar e andar ao mesmo tempo, mas não é no meio da maralha.

 

Levanta o teu cartaz

Os cartazes são giros. E toda a gente quer levar um. Enfim, muita gente quer levar um. Mas depois do entusiasmo inicial, depois da primeira hora, os braços já acusam o esforço, e já não se levantam tão alto os cartazes da liberdade e da paz e do pão e da habitação e da saúde e da educação. Baixam-se os braços e, consequentemente, os cartazes. O que significa que estes passam a estar ali ao nível da cabeça dos restantes manifestantes. Está-se mesmo a ver, não é? Vais passar dois terços da avenida a bater com a porra do cartaz na cabeça das pessoas que te rodeiam. Não é boa ideia. Leva um cartaz mais leve. Ou treina pesos, antes de pensares em levar um cartaz.

 

Haverá certamente mais dicas, que poderão ser acrescentadas nos comentários, mas estas são um bom ponto de partida, uma boa base de trabalho, ainda frescas da avenida de ontem.

 

Mas não há imbecilidade que me corte a comoção do 25 de Abril. 

 

É sempre muito bom, descer a avenida.

Para o ano há mais porque, 25 de Abril, sempre. Fascismo nunca mais.