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Jonasnuts

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Os adolescentes e o detergente

Jonasnuts, 18.01.18

tide keep away from children - Pesquisa Google.jpg

 

A ligação não é óbvia, entre adolescentes e detergentes, mas ganhou protagonismo nos últimos dias. 

E é um protagonismo justificado, perguntam vocês. E eu respondo que não, que não é justificado e que nasce por um lado da ignorância e por outro da necessidade de audiência.

 

A história é simples. Nos Estados Unidos da América, o país que elegeu Trump, na primeira quinzena de Janeiro, em resposta a um desafio colocado no Youtube por algum adolescente imbecil, começaram a surgir alguns casos de adolescentes igualmente imbecis, que metem à boca uma cápsula de detergente da roupa, daquelas transparentes cheias de molhanga, e depois acontece o óbvio...... aquilo sabe mal, cospem tudo, os mais sortudos safam-se com sintomas muito ligeiros, os mais incautos têm de ir ao hospital, porque, lá está, ingerir detergente para a máquina de lavar roupa não dá saúde a ninguém. Nunca deu, por isso é que é recomendação geral que este tipo de produtos esteja, guardados longe do alcance de crianças.

 

Mas é isto. Nos States, onde há 310 milhões de habitantes, houve um grupinho que nem meia centena é, que decidiu ser imbecil.

 

Como seria de esperar, por lá, obteve alguma cobertura mediática. Justa, se formos pelo grau de estupidez e pela necessidade de exercer alguma pedagogia.

 

Mas, repito, é uma coisa nos Estados Unidos da América, e estamos a falar de meia dúzia de adolescentes. Não é a primeira vez. Não será a última.

 

E porque é que isto é notícia por cá?

 

Porque a nossa comunicação social adora dar a conhecer cenas que não eram conhecidas nem relevantes, na esperança de que peguem por cá, para que possam ter notícias acerca dos resultados dramáticos.

 

Isso e a conta de Facebook da PSP, que decidiu partilhar a coisa com um "Há um novo desafio viral na Internet que consiste na ingestão destas cápsulas ou na sua colocação na boca, filmando e partilhando nas redes sociais.".

A Internet é uma rede de redes que conta com milhões de milhões de milhões de ocorrências por segundo pelo que uma coisa viral é algo que tem um volume extraordinário e um impacto grande. Não é o caso. 

 

Em Portugal, se não fosse o Facebook da PSP e alguns órgãos de comunicação social tradicional, a coisa não teria passado dos comentários jocosos no Twitter de "olha lá o que meia dúzia de palermas americanos andam a fazer agora" e isto por causa das notícias em órgãos de comunicação social americanos. 

 

Isto é um não tema. É um não problema. É uma inexistência. É um inconseguimento.

 

Até a PSP e os jornais se meterem ao barulho. 

 

Irresponsáveis.

 

A 1ª causa de morte em Portugal

Jonasnuts, 14.10.16

Não. Não são os cancros, ou as doenças cardiovasculares, ou a diabetes ou qualquer coisa do género.

 

A julgar pela grande maioria da comunicação social, as pessoas morrem de doença prolongada. Não morrem de cancro, não morrem de complicações da diabetes, não morrem de complicações relacionadas com doenças mentais.... não, a doença prolongada é o pior dos males.

 

Não percebe, a grande maioria da comunicação social, que ao tentar dourar a pílula, está a desinformar.

 

Parabéns a todos os que tratam as coisas pelo nome. Um cancro, é um cancro, é um cancro. E nem sempre é mortal. E nem sempre é prolongado.

Caro Observador

Jonasnuts, 07.03.16

Gosto muito do teu formato (embora, não necessariamente do teu conteúdo, sempre). Acho que estás no grupo da frente dos órgãos de comunicação social tradicionais, no que ao online diz respeito. É um caminho que não fazes sozinho, mas ao qual chegaste há pouco tempo, pelo que estares no grupo da frente é bom sinal.

 

O teu clickbait, que, convenhamos, existe, é, normalmente inteligente, apesar de um ou outro artigo que roça o boçal. Pronto, uma andorinha não faz a Primavera. O saldo é, quanto a mim, positivo.

 

Mas não serve de nada teres em rodapé das notícias um "Proponha uma correção, sugira uma pista: endereço@de.mail"  se depois não dás uso à informação que te chega por essa via. Por via do mail, esse sim, filho do falecido, ao contrário do @.

 

Na notícia de 6/03/16 reportando a morte de Raymond Tomlinson, referes logo no título um erro básico. 

Morreu o pai da tão usada arroba - Observador.jpg

Ora..... o homem tem descendência muito mais importante e, acima de tudo, mais real. A descendência que lhe apontas, é bastarda, portanto.

 

O famoso @ não foi inventado por Tomlinson. Este deu-lhe o uso a que hoje estamos mais habituados, é um facto, mas está longe de ser o pai da coisa, como, aliás, uma rápida pesquisa poderia ter confirmado.

 

Mas pronto...... errar é humano. 

 

Errar e persistir, quando alertado para o erro através dum mecanismo que tu próprio disponibilizas no rodapé da notícia também é humano, mas é em simultâneo, vá, burro.

 

Podes dizer que o tema é pouco importante, e que o que interessa é o sentido lato da coisa, e que não é o pai mesmo pai, mas que anda lá perto. E não estarás errado. Mas eu também avalio as coisas simples. Porque se um meio não acerta nas coisas simples, como é que vai acertar nas complicadas?

 

Muda lá a paternidade do @ na notícia. É fácil. Pões umas aspas, ou substituis pai por padrasto ou, melhor ainda, fazes como o Público, e referes a invenção que realmente importa. A do mail. Mas, lá está, tu não vês mails.

O que disse a senhora Merkel, não se diz

Jonasnuts, 06.11.14

Por outro lado, a senhora Merkel não disse aquilo que tentaram fazer-nos crer que ela disse.

 

Vamos por partes. Não nutro especial simpatia pela senhora Merkel. Também não nutro especial simpatia pela grande maioria dos Órgãos de Comunicação Social tradicionais portugueses, ou de qualquer outra nacionalidade.

 

Anteontem não se falava de outra coisa. Fomos mesmo bombardeados com as alegadas afirmações da senhora por órgãos de comunicação social que costumam tentar distanciar-se de outros, enfim, mais useiros e vezeiros nestas matérias.

 

Houve mesmo um ministro que respondeu às alegadas afirmações da senhora. Crato, who else.

 

Nas redes sociais (Twitter e Facebook) foi uma festa. Só comentários indignados, e outros pior ainda. Eu própria comecei por embarcar na coisa.


Mas depois parei para pensar e fui atrás.

Todos citavam a Lusa e Bloomberg. A Lusa referia a Bloomberg. Na Bloomberg, nada. Órgãos de comunicação social espanhóis? Nada. Imprensa internacional? Nada.

 

Eu conseguia encontrar várias notícias sobre o discurso da senhora, mas referências a Portugal e Espanha? Nada.

 

Recorro ao Twitter e ao Facebook. Pergunto. Alguém sabe? Pessoas a viver na Alemanha? Nada. No Luxemburgo. Em Espanha. Em França. Ninguém conseguia encontrar nada.

E eu queria contexto. 

 

E finalmente chega-me o contexto e o enquadramento de que eu precisava, e que me devia ter sido dado pelos órgãos de comunicação social. E chegou-me através da Helena Ferro de Gouveia que deixou um comentário num post que a Helena Araújo escreveu no Facebook.

 

O que a senhora disse foi (adaptado da tradução da Helena Ferro de Gouveia):

 

“Eu peço a todos vocês para tornarem claro nos vossos discursos em escolas e perante jovens: a formação profissional é um excelente pré-requisito para levar uma vida de prosperidade. Não tem necessariamente que se ter tirado um curso superior. Isto é muito, muito importante. Faremos tudo o que estiver no nosso poder, também a OCDE, que nos fornece muitos números úteis que afirmam que não é uma “descida” social, que o filho ou a filha de um trabalhador qualificado complete uma formação como trabalhador qualificado novamente e, de seguida, se torne num bom técnico. Internacionalmente reconhece-se que não é uma “descida” e que isto não significa que o sistema de educação tenha fracassado. Temos que abandonar a ideia de que o ensino superior é o Nonplusultra para uma carreira bem sucedida. De outra forma não poderemos provar a países como Espanha e Portugal, que têm demasiados licenciados e procuram hoje vias de formação profissional, que isso é bom”.

Ora, isto é muito diferente de "Merkel diz que Portugal tem demasiados licenciados". Isto é um "temos, nós próprios, de tomar consciência disto, porque senão não temos moral para dizê-lo aos portugueses e aos espanhóis".

 

Eu não estou a dizer que concordo (o sistema educativo alemão a mim parece-me extraordinariamente estranho), não estou a dizer que a senhora tem razão, e acho que ela está muito mal informada em relação ao número de licenciados portugueses. Não é esse o meu ponto.

O meu ponto é que alguém pegou nisto, subverteu, baralhou, descontextualizou e distribuiu. E quem está no meio da cadeia, devia ter recebido, e devia ter ido atrás. E verificado. E dado contexto. E feito aquilo que eu acho que é o trabalho jornalístico de base. Deviam ter-se informado, para informar. Pelo contrário, desinformaram.

 

E ganharam o quê? Mais cliques. Sem dúvida. Não frequento, mas estou certa de que o número de comentários a esta "notícia" ultrapassou a média habitual.

 

Os nossos órgãos de comunicação social estão a trabalhar para o agora, sprintam. Não estão a trabalhar para o futuro, na construção duma imagem de seriedade e de credibilidade. Pelo contrário, os poucos que ainda têm essa réstia de credibilidade estão a delapidá-la vertiginosamente. Ganham no sprint, mas perdem na maratona.

 

A mim já me tinham perdido, como consumidora habitual há muito tempo. Sou uma mera consumidora pontual, online. E, pelo acima descrito, cada vez menos.

 

Não percebo a estratégia de degradar qualidade e passar a cobrar os acessos (pay per view). É ao contrário senhores. O pay per view só funciona quando a credibilidade e a seriedade são inatacáveis E quando não há alternativa. 

 

Junte-se a isto o que por aí vem de quererem receber para serem indexados no Google (é um caminho que os espanhóis estão adoptar, é uma questão de tempo até chegar cá, caminho, por sinal, já encetado e entretanto arrepiado pelos alemães) e temos o quê?

 

Uma indústria moribunda, sem respostas e sem ideias, que não se sabe adaptar os seus modelos de negócio a novas plataformas e que há-de ir ao fundo.

 

Não faz mal, pelo caminho hão-de pressionar os pressionáveis para que estes criem uma taxa sobre o papel higiénico (auto-link), porque lhes faz concorrência. É uma receita com provas (quase) dadas.

 

 

Edição posterior: O Marco deixou nos comentários um link para um caso exactamente igual, passado há relativamente pouco tempo. 

Requentadas

Jonasnuts, 07.03.14

Vejo hoje, nos noticiários da manhã, uma grande atenção dedicada a um vídeo de uma criança a invadir o campo de futebol onde jogava (ou tinha acabado de jogar) a selecção brasileira, e a reacção do Neymar. É um vídeo fofinho, que vai para aquela parte dos noticiários que tem de ser lúdica porque, como se sabe..... as notícias têm de distrair, não têm de informar.

 

Não gosto de notícias lúdicas, mas o problema, neste caso, não é esse.

 

A porcaria do vídeo é de anteontem. ANTEONTEM. As televisões (e os órgãos de comunicação social tradicional em geral) divulgam notícias requentadas, como se fosse actualidade.

 

Por isso é que há já alguns anos que não uso os órgãos de comunicação social tradicionais como fonte primária de informação.

 

Depois queixem-se que perdem audiência.