Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Jonasnuts

Jonasnuts

Os palavrões do dicionário

Jonasnuts, 22.09.10

Leio no DN que há uma nova polémica, por causa de um dicionário recomendado para os alunos do primeiro ano, dicionário cuja edição contém "palavrões".

 

E está toda a gente muito chocada, porque os dicionários têm lá, com todas as letras, as palavras que os pais não querem que os filhos aprendam.

 

Tudo isto está muito bem, e as pessoas têm o direito de se insurgirem contra o que muito bem entenderem, mas a minha pergunta é esta:

 

Como é que sabem que lá estão os palavrões?

 

Não foram as crianças, de certeza absoluta que, estando no início do 1º ano, não sabem ler.

 

Portanto, foram os pais que foram à procura dos palavrões, que aparentemente conhecem, apesar de não terem nenhum dicionário que lhes ensinasse a coisa.

 

Há uns anos tive de comprar um dicionário para o meu filho. Não tinha qualquer referência da professora, portanto, o critério era o meu. Recusei-me a comprar qualquer dicionário que não tivesse pelo menos, a palavra "merda". Vai sabê-la, vai aprendê-la, ao menos que, tendo curiosidade, possa saber como é que se escreve e o que significa, tendo, para além da mãe, outras formas de obter essa informação.

 

Os paizinhos estão convencidos que os filhinhos vão ler o dicionário? Ninguém lê um dicionário. Vai-se ao dicionário à procura do significado duma palavra que se ouviu ou que se leu, o dicionário raramente é a origem da coisa. Mas é o esclarecimento.

 

Prefiro ter um filho que ao dizer ou escrever "caralho" saiba exactamente o que é que está a dizer, do que ter um filho que escreva "keralho", e pense tratar-se duma ferramenta de lavoura.

 

Por último, senhores jornalistas, não escrevam "os pais manifestam-se contra". Escrevam "alguns pais manifestam-se contra", não me incluam no lote de imbecis que não sabe que a silly season já terminou, bem como o século XIX.

 

Ao senhor Albino Almeida, da confederação nacional das associações de pais, que recomenda a manutenção dos tradicionais dicionários escolares, uma informação: a tradição já não é o que era, e phoda já se escreve doutra forma, vá ver o dicionário.

 

Isto deve ser visto pelo lado pedagógico, se por acaso uma criança pegar num dicionário e começar a lê-lo, antes de chegar ao "caralho" já tem mais vocabulário que muitos licenciados.

 

Merda do corrector ortográfico dos Blogs não é dos bons, marca-me ali uma série de palavras como se fossem erros. Há que mudar isso.

Reuniões de pais

Jonasnuts, 21.09.10

Ao princípio andamos todos às aranhas. Tirando as educadoras, cada um parece ter uma ideia muito própria acerca do que é suposto debater-se numa reunião de pais.

 

Depois, com a prática e o andar dos anos, habituamo-nos a reconhecer os que nunca falam, os que nunca vão, os que acham que sabem tudo, os que adoram falar dos feitos das criancinhas, os poemas que fazem aos 5 anos, os futuros músicos, engenheiros, as tendências de génio que os infantes já demonstram, em tão tenra idade, as conquistas, etc.

 

Com a prática aprendemos a catalogá-los, e eles a nós, provavelmente. É uma espécie de reunião de condomínio, mas com pessoas que não são nossas vizinhas.

 

No entanto, apesar de tantos anos que levo de reuniões de pais, confesso que continuo a conseguir surpreender-me com algumas avestruzes.

 

Estamos no século XXI e o grupo dos graxistas ainda existe. Os que tratam a professora por "seutora", os que dão os parabéns no final da reunião, pelo sucesso da mesma, tentando usar palavras mais caras do que o que têm para gastar. São, provavelmente, netos do puto que levava invariavelmente uma maçã para oferecer à senhora professora. Palavra que não entendo.

 

Mas hoje, pela primeira vez em quase 12 anos que levo de reuniões de pais, um interveniente levantou uma questão original.

Simulacros e instruções de conduta para situações de emergência. Fogos, sismos, pensarão vocês, como eu pensei.

 

Mas não. Aparente e adicionalmente o senhor referia-se a alunos armados de espingardas, à solta nas instalações, matando tudo e todos e depois eles próprios. Uma coisa assim como Columbine, mas num bairro de Lisboa.

 

Não sei o que é que me divertiu mais, se a questão colocada pelo progenitor, se a cara de espanto dos outros presentes, se a aflição da directora de turma que estava a levar a coisa.

 

Enfim, é o início de um novo ciclo que, pelo teor da reunião me parece auspicioso e, acima de tudo, muito divertido.