Dizia, precisamente, a cantiga. E era. A maioria das minhas canções de criança eram canções de intervenção. Sabíamos tudo de cor e salteado. Mudam-se os tempos, mudam-se as armas.
Desde que tenho um telemóvel com uma câmara em condições (acompanhem-me, eu sei que a mudança de tema é drástica) portanto, desde que a câmara do meu telemóvel é um bocadinho melhor e dá para distinguir as coisas, que tenho o hábito de fotografar prevaricações. Seja uma recolha do lixo fora de horas, seja um carro estacionado de forma estúpida, seja o que for. De há uns tempos para cá, dei em fotografar os chicos-espertos. Aqueles caramelos (e caramelas) que ao volante teimam em não respeitar o status quo. Numa bicha (desculpem lá, mas para mim há-de ser sempre uma bicha), não há prioridades, entra um do lado um do outro. Mas há sempre os chicos-espertos. Os que, tendo a lei do seu lado, a fazem valer, sem o mínimo vestígio de civismo. Eu fotografo.
O meu puto pergunta-me, o que é que estás a fazer, mãe? Estou a registar filho.
E vais pôr no Blog?
Se calhar.
Por norma, não ponho, mas tenho reparado que assim que saco do telemóvel e fotografo (de preferência ostensivamente) o chico-esperto prevaricador ele acalma. Pode vir desde lá de trás a fazer cagada, mas a partir do momento em que me vê a tirar-lhe o retrato, abranda.
Eu não faço nada com as fotos, não acredito no cidadão delator, isso era noutros tempos que, felizmente, já acabaram e é aliás uma cultura emergente que contraria a minha maneira de ser.
Mas lá que me dá um gozo do caraças explorar o medo que as pessoas têm de serem denunciadas, lá isso dá.
É pôr o pior das pessoas a trabalhar para nós. Não têm tomates para assumirem a cagada que fazem, por isso, quando há hipóteses de verem os seus actos registados, reduzem-se à sua insignificância.
A câmara é uma arma. Contra quem camaradas?