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Jonasnuts

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Como não reclamar

Jonasnuts, 28.11.11

Uma das formas mais frequentes e mais palermas de reclamar é escrever uma mensagem de mail, incendiária mas pouco explicativa e cheia de exigências, e mandar para uma lista de destinatários deste tipo:

 

 

Ninguém sabe para quem é. Ninguém percebe o que se passa. Ninguém faz nada.

Greve

Jonasnuts, 21.11.11

Eu não vou fazer greve. Não tenho nada contra quem a faz, mas eu não faço.

 

Quer dizer..... não faço, mais ou menos. Não sei.

 

Eu não faço greve, mas não sei se posso ir trabalhar. Não sei se o puto tem escola. Nem vou saber tão cedo. Não é que não tenha tentado, que tentei, mas na escola dizem-me que só no dia é que vão fazer a contagem e logo dizem se há escola ou não.

 

O liceu do meu filho tem mais de 1000 alunos (bem mais). Todos entram às 8h15 da manhã.

 

Portanto, o que vai acontecer é que os pais vão lá pôr os putos, e ficam cá fora, à espera. Se eles aparecerem passado um bocado, é porque não há aulas, se eles não aparecerem, é porque há aulas.

 

Nos entretantos, os pais ficam por ali.

 

Não se podia perguntar às pessoas se estavam a pensar fazer greve ou não, para que a miudagem pudesse ser avisada com antecedência? A mim poupavam-me uma trabalheira.

 

Portanto, eu não faço greve, mas não sei se posso ir trabalhar.

 

Carneireira

Jonasnuts, 19.11.11

Eu sou carneireira. De acordo com todos os dicionários online que encontrei, quer isto dizer que sou dona de um rebanho, mas não é a isso que me refiro.

 

A minha avó era originária de São Pedro do Sul. Nas raras visitas que fiz à terra de origem da minha avó, as pessoas olhavam para mim e para a minha irmã e diziam: estas não enganam ninguém, vê-se logo que são carneireiras.

 

Queriam com isto dizer que, a contrário do que é habitual e Portugal, não somos morenas, de olhos castanhos e baixinhas. Quer eu quer a minha irmã somos altas (comparadas com a média portuguesa), loiras e de olhos claros (verdes, no nosso caso). Durante muito tempo procurei a razão de ser desta genética, injustificada, tendo em conta as ascendência, quer a directa, quer a menos directa. Nunca descobri. Eventualmente, podemos ir lá muito atrás, ao tempo das migrações das populações holandesas, que se deslocavam à Península Ibérica, para as colheitas, e que por cá tenha ficado (ou deixado filhos feitos).

 

Isto tudo a propósito duma entrevista que me fizeram esta manhã. Cedo, por razões que agora não interessam, eu estava na zona da Sé, ao pé do Castelo de São Jorge. Estava sentada na esplanada da cerca moura. Aproxima-se de mim uma moçoila, de microfone na mão, e um rapaz, de câmara ao ombro. Dirigem-se a mim em inglês. Good morning. Good morning, respondo com um sorriso. Estivemos uns bons 10 minutos à conversa, sobre a beleza de Portugal em geral e de Lisboa em particular, e sobre o que eu mais gosto em Portugal, em Lisboa, nos portugueses. E estavam deliciados, com as minhas respostas, pelo menos a julgar pelo sorriso e pelo entusiasmo com que as perguntas eram feitas. No final, para terminar, a última pergunta: Where are you from? I'm from Lisbon. Yes, but where do you live? In Lisbon. É portuguesa? Sou. Então porque é que não disse logo? Porque deve ter sido a única pergunta que não fizeram. Ficaram chateados, viraram costas a refilar, nem me deram tempo para perguntar de que órgão de comunicação social é que eram.

 

Eu percebo. Desde muito cedo que me habituei a que partissem do princípio de que eu seria tudo, menos portuguesa. Inglesa, alemã, holandesa, sueca.....

 

Eu percebo, mas não gosto.

 

Eu não sou estrangeira, eu sou carneireira.

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