Explorando loopholes
Uma das minhas decisões de confinamento passou por prestar mais atenção ao teatro.
Eu gosto de teatro, a minha mãe amava teatro (e fez, amador, durante anos), mas o stress associado (ai meu deus, e se eles se esquecem das falas e a coisa lhes corre mal?) nunca me deixou apreciar verdadeiramente a experiência.
Com os diretos do Bruno Nogueira, tive contacto com uma série de atores cuja existência desconhecia e, por arrasto e curiosidade, outros apareceram na minha vida, outros recuperei, e decidi que iria regressar ao teatro.
Esperava que o meu regresso fosse com a "Peça que dá para o Torto", do meu amigo Frederico Corado, mas só regressam em fevereiro.
Assim sendo, escolhi a Avenida Q. Por vários motivos. O primeiro dos quais, o facto da Sissi andar, desde sempre, a elogiar a Avenida Q, é logo meio caminho andado, e depois, depois por causa da Inês Aires Pereira, com quem contactei pela primeira vez nos diretos do meu homónimo, e que nunca mais larguei, salvo seja, e que é absoluta e fastasticamente brilhante :)
Estava decidido que ia ver a Avenida Q. Faltava o dia, e é aí que entra o loophole.
Inicia-se amanhã e dura até terça, um período durante o qual não podemos sair do nosso concelho de residência, porque, covid. Ora..... eu vou respeitar, claro, mas....... queria muito conseguir ir para o rio, no domingo. Uma pessoa rema no tanque, e corre tudo muito bem, mas no rio é outra loiça, e entristecia-me, ter de falhar o rio. Descubro então que, para se assistir a um espetáculo, pode mudar-se de concelho, desde que seja para o do lado, e caiu-me a ficha, que nestas coisas sou muito portuguesinha, e uma pessoa tenta sempre dar a volta ao texto.
Pois foi o que fiz, juntei a fome à vontade de comer, comprei um bilhete para ir ver a Avenida Q que passa a ser, em simultâneo, o meu salvo conduto para poder ir ao remo de manhã. Junto-lhe umas voltas de moto in between, para praticar, e é um domingo perfeito.
O mais que pode acontecer é alguém me mandar parar e perguntar-me onde é que eu penso que vou, para que eu, ufana, mostre às 9 da manhã o bilhete para uma peça que é às 18h00 mas, fã que é fã, abanca-se à porta da sala desde cedo, para ver entrar os artistas. Espero que acreditem.
Pronto, se alguém precisar de ir a Lisboa no domingo, é comprar um bilhete para ir ver a Avenida Q.