Já toda a gente ouviu falar do Pokemon Go.
Há 3 dias, comentei que, ainda a missa ia no adro e já eu estava farta da coisa.
Deixem-me dar contexto pessoal, para explicar.
Conheço os Pokemons há quase 20 anos. E quando digo "conheço" refiro-me ao facto de conhecer muito bem alguns jogadores. Há cerca de 10 anos o meu contacto tornou-se mais assíduo, porque...... filho. Não só, mas sobretudo. Ainda gastei uns trocos valentes, em jogos, porcarias de plástico que se lançavam e se abriam e depois ficavam ali paradas, e em pokedex e numa parafernália de inutilidades que foram lançadas para que os putos tentassem transferir a sensação do jogo para a vida real.
Caramba, uma das festas de aniversário teve como temática a porra dos Pokemons (convites, bolo, pratos, guardanapos, decoração, essas cenas, em que as pessoas se metem).
Eram horas, passadas agarrado à porcaria da Nintendo, a caçar bicharada. As conversas, quando as havia cá por casa, andavam sempre à roda dos bichos, e das evoluções, e das pokebolas, e do pokedex e o raio que os parta que eu nunca pescava nada daquilo. Tenho, em casa, quem conheça todos os nomes dos bichos, das suas primeiras e segundas evoluções (quando as há), e de que tipo são, de pedra, de água, de fogo, venenosos e cenas do género.
Quando há umas semanas a coisa começou a ser falada, nos states, claro, percebi na hora que ia ser uma coisa em grande. Ainda não foi, mas vai ser.
A geração que nasceu nos anos 90, e respectivos pais, vai viajar na maionaise.
Isto apanha a miudagem que há quase 20 anos apanhou a febre Pokemon. Na altura miúdos e miúdas, agora recém-licenciados, com algum tempo em mãos, que podem, finalmente, realizar o sonho de andar à caça de Pokemons, irl.
Apanha também a miudagem que tem agora 16,17 e 18. Apanha os pais dessa miudagem, que, por obrigação paternal aprendeu tudo de cor, e que agora relembra a matéria dada.
É o primeiro fenómeno nostálgico a que esta geração é exposta, neste tempo em que tudo é rápido, volátil, descartável.
Apanha, por fim, aqueles e aquelas que, fartos de se sentirem excluídos das conversas, adoptam o mote "se não consegues combatê-los, junta-te a eles".
Não é necessariamente mau. Estou farta de ver gente a ridicularizar a coisa. Claro que há excessos, mas, a bem dizer, eu acho muito bom que a miudagem (e respectivos pais, onde isso se aplique) possa sair de casa. Sair da frente do computador. Andar. Conhecer as coisas à sua volta. Contactar com a natureza (há mais bichos junto de vegetação, água, etc.). Combate o sedentarismo e o isolamento.
Isto ainda agora começou, e não me cheira que seja uma coisa tamagochi, que dura um Verão e se reduz a meia dúzia de malucos. Estou convencida de que vai ser grande, e que veio para ficar e para durar, e que vai ser verdadeiramente global.
Na semana passada fomos jantar fora, eu fui de carro, eles foram a pé, para caçar Pokemons. Durante o jantar, fiquei o tempo todo calada, a reviver o passado em Brideshead, enquanto eles falavam dos bichos, e dos ginásios, e dos combates, e dos ataques.
Regressei temporariamente a 2005, excluída. Não pretendo reviver a sensação.
Instalei a app e criei conta no dia 14, na véspera do lançamento oficial em Portugal. Prevejo um Verão cheio de passeios, o que só vem ajudar à minha dieta e à minha decisão de fazer mais exercício físico.
Já tenho o meu Pikachu (não faço a menor ideia da sua utilidade, mas já o tenho).
Gostava, por fim, de chamar a atenção para um tema grave, de que ninguém ainda falou. Portugal está assolado por uma praga nefasta de Zubats, e ainda não vi ninguém a tomar medidas para a combater. Essa é que é essa.