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Jonasnuts

Jonasnuts

O único higiénico que se aproveita, é o papel

Jonasnuts, 07.10.07
Este disclaimer começa a tornar-se um hábito no início dos posts, mas é importante fazê-lo. Este é o meu Blog pessoal, aqui são expressas única e exclusivamente as minhas opiniões pessoas que não reflectem necessariamente (e provavelmente não reflectem de todo) as opiniões dos que me rodeiam, da empresa onde trabalho, etc.


Diz-nos o Priberam que higienizar é:
 
tornar higiénico;
aplicar a higiene a;
sanear.
E vem isto a propósito de quê?

A propósito de uma discussão que é recorrente. Acompanha-me desde que ando nestas coisas da Internet, há mais de 15 anos.

Sempre que um serviço começa a ter alguma popularidade junto dos utilizadores, e passe a alojar conteúdos de muita diversidade, levantam-se de imediato as vozes da higienização. É preciso manter o serviço completamente higiénico. Em nome da moral e dos bons costumes, é preciso assegurar que as maminhas e os rabos (e mais que haja) sejam excluídos, saneados, filtrados e censurados.

No Terràvista, o ministro mandou tirar a ficha da tomada (sic) porque o serviço não era suficientemente higiénico de acordo com os seus padrões (na realidade não era suficientemente higiénico para os padrões (?) do Tal & Qual, mas ia dar ao mesmo).

Tenho uma vaga ideia de, no tempo da outra senhora, haver uma comissão de higienização. Só passava o que era higiénico. Se formos mais longe ainda, à época da 2ª guerra mundial, também havia quem quisesse higienizar, mas levavam ainda mais longe o conceito.

E isso leva-nos a uma questão importante. Quem é que define o que é higiénico e não é? Eu já tive essa missão, em vários serviços online e, garanto, não é fácil. O que é higiénico para mim não é higiénico para a pessoa do lado.

Na minha opinião, cada um deve escolher o que quer ver. Não deve haver comissões de filtragem ou de lápis azuis a escolher o que é que os outros podem ver. Não se deve ir pela negativa, pela exclusão. Destaquem-se os conteúdos que têm qualidade, mas permitam-se todos os conteúdos (legais).  Dêem às pessoas o direito de escolherem o que querem e o que não querem ver.

Em última análise, se há menores envolvidos, devem ser os pais, os professores e os encarregados de educação a fazer esse filtro. O meu filho pode ver maminhas, não sei se o filho da vizinha poderá ver maminhas. A responsabilidade da educação dos menores pertence, em primeiro lugar, à sua família. Eu não delego as minhas responsabilidades em terceiros.

Faço parte da equipa que gere os Blogs do SAPO. Desde que lançámos esta nova plataforma, apagámos (apaguei) um blog. Era um Blog com conteúdos ilegais, que ofendiam a constituição portuguesa. Mas mesmo nesse caso, que era gritante, tive dúvidas. Acabei por apagá-lo, mas ainda hoje tenho dúvidas. Se fosse hoje voltava a fazê-lo, voltava a apagar o Blog? Não sei. Na altura (e ainda hoje) várias vozes se levantaram. Uns apoiaram, outros condenaram.

Acredito que não me cabe a mim (nem a nenhuma pessoa) o papel de seleccionar o que os outros devem poder dizer,  o que os outros devem poder ver.

Tenho sempre muitas suspeitas e reservas acerca de pessoas que apoiam a higienização.  Normalmente são pessoas que acham que sabem mais que os outros, que se acham superiores e detentores da razão. Eu acredito mais no discernimento pessoal, na liberdade de escolha e na liberdade de expressão. Foi isso que os meus pais me transmitiram, é isso que transmito ao meu filho.

O mal das janelas abertas, no Expresso

Jonasnuts, 06.10.07



Na revista Única desta semana, há um "artigo", sob a designação genérica de "Bem estar" que tem o título deste post, "O mal das janelas abertas".

O artigo vem assinado por Nelson Marques, que não conheço, não sei portanto qual a sua nacionalidade. Mas sei que escreve num jornal português, o Expresso.

Nessa perspectiva, ficaria bem se usasse o português de Portugal. Reparem, não tenho nada contra o português do Brasil. Não sou sequer da opinião que o português de Portugal seja melhor que o português do Brasil. São diferentes, e são ambos igualmente bons. Cada um no seu país, obviamente.

Assim, se na "Veja" eu ler: "E ainda há tempo e espaço para consultar três blogues, comunicar com quatro ou cinco pessoas no Messenger e baixar as músicas do computador para o leitor de MP3." eu não estranho.

Acho normal, porque no Brasil, não se transfere, baixa-se. No Brasil, não é um ficheiro, é um arquivo. E mais diferenças há. Saudáveis, respeitáveis, ditadas muitas vezes pela proximidade geográfica dos EUA, ou de quaisquer outras influências menos lusas. 

Mas, a verdade é que eu não estava (desta vez) a ler a Veja, estava a ler a Única, do Expresso.

Um jornal português, de Portugal. Onde se deveria usar o português, de Portugal.

Em Portugal, não baixamos nada a não ser, talvez, as calças. Eventualmente, no contexto do artigo, poderemos transferir as músicas do computador para o leitor de MP3, mas, definitivamente, não as baixamos.

E pronto....depois de ler isto, que vem logo no início do artigo, deixei de acreditar no que ali estava escrito ou, melhor, o meu sentido crítico perspectivou-se de outra forma.

Assim, informo o autor do artigo que, em primeiro lugar, para estar a fazer aquelas coisas todas ao mesmo tempo, o "Daniel" seria obrigado a ter um super computador, com um processador muito acima da média. Como há poucos computadores desses em Portugal, para estar a fazer aquilo tudo ao mesmo tempo, o "Daniel" teria de esperar tempos infinitos pela resposta do computador, pelo que, nada mais natural do que empregar esse tempo para se distrair.

A saber, o personagem da história estaria a elaborar a monografia de final de curso em aplicação não especificada, mas era provavelmente o curso de gestão, portanto estaria a usar o power point e o excell, estava também a aceder ao mail, num site de fotos, num site de vídeos, a consultar um PDF, a fazer o download de músicas, em 3 blogs, na conversa, via messenger com 5 pessoas diferentes, e a transferir músicas do computador para o leitor de MP3. Tudo isto em Windows descrito como o "programa estrela" da Microsoft.

Por último, o "Daniel" e o Nelson são homens o que justifica a dispersão. As mulheres têm ma capacidade de multitasking muito maior do que os homens.

Porque é que, tal como acontece no football, toda a gente acha que sabe escrever sobre tecnologia? Bem sei que a tecnologia está, hoje em dia, ao alcance de todos, mas dá algum trabalho. O facto de chamarem programa a um sistema operativo, usarem terminologia técnica errada (pelo menos em Portugal), tem dois maus resultados:
1 - Descredibilizar completamente o Jornal/Revista/Rádio/Televisão/Site onde tais barbaridades vêm escritas, pelo menos junto de uma comunidade mais tecnologicamente competente.
2 - Para os que têm menos competências tecnológicas que (ainda) são a maioria, está a dar-se informação errada. O que, num órgão de informação, me parece contraditório.

Estão a lançar e a perpetuar o erro. Pela parte que me toca, estão a descredibilizar-se, ainda mais.