Bora à #Fachina ?
Ontem (na realidade hoje, porque já passava da meia-noite, mas ainda não tínhamos ido dormir, portanto, ontem), no calor de mais uma indignação/provocação (os paspalhos que foram para o restaurante LAPO, confraternizar em manada, aparentemente ao abrigo da exceção ao confinamento para trabalho político) no calor, dizia eu, de mais uma indignação, e de mais uma chegada a um beco sem saída "o que é que podemos fazer em relação a esta merda?" e num dia marcado por um novo recorde de mortes, e de notícias de que o SNS já está muito para além da capacidade máxima, e de pessoas que conhecemos e que estão doentes e aflitas, e no rescaldo do resultado que o outro paspalho conseguiu, o Insónias, em conversa, saiu-se com uma proposta/desabafo (é ler a thread).
Como o #movember, um mês de sensibilização para problemas de saúde especificamente masculinos, o Insónias sugeriu que se criasse um mês de limpeza mediática, de ignorar, bloquear, deixar de dar palco a tudo o que sejam conteúdos daqueles imbecis (tweets, notícias, posts, clips, podcasts, etc...).
A lógica é simples.
1- Técnica. Sempre que fazemos RT (ReTweets, no Twitter o equivalente ao share), ou fazemos like, ou respondemos, ou mencionamos um determinado conteúdo (ou um handle), sobretudo (mas não só), por parte de contas que têm bastantes seguidores, estamos a dizer ao algoritmo do Twitter que aquele conteúdo é relevante, é importante, gera tráfego. O Twitter reúne essa informação e coloca-a ao serviço da plataforma, e expõe aquele conteúdo a mais pessoas. E mais pessoas falam do conteúdo e, de repente, criou-se um trending topic. Do trending topic à "mainstream media" é um pulinho pequeno.
2 - Social. O Twitter não é uma rede de massas. Não tem em Portugal, comparativamente com outras redes sociais, o mesmo volume de utilizadores e tráfego. Mas tem uma coisa que os outros não têm, ou têm mais diluída; qualidade. Há mais opinion makers, há mais decisores, há mais influenciadores, daqueles que influenciam mesmo a agenda mediática, e não a fila de pessoas que se mete nos saldos da zara. Há muitos jornalistas, advogados, opinadores, bloggers (sim, ainda existem, ainda contam, não como noutros tempos, mas ainda), podcasters (sorry Bronn). São pessoas com poder de decisão sobre o que vai sair da bolha, para a famosa "mainstream media". E decidem com base no que lhes dará mais tráfego. Não nos iludamos. Podem mascarar a coisa como quiserem mas, tal como o twitter quer mais users e mais tráfego, os órgãos de comunicação social querem exatamente a mesma coisa e vão espremer todo e qualquer conteúdo (verdadeiro, falso, assim-assim, relevante, irrelevante, dispensável) até ao máximo da audiência e engajamento desse conteúdo.
Quantas vezes não ouvimos uma notícia na televisão e na rádio "As redes sociais dizem que......" ou "esta notícia teve origem no site Twitter" (que se transformou num clássico instantâneo)? E às vezes vamos ver, e foram meia dúzia de tweets, originados por meia dúzia de contas provocadoras (outro post sobre isso, para breve), e que viralizaram porque, lá está, o pessoal adora fazer RT a dizer "estes gajos são do pior", sem se aperceberem de que estão, inadvertidamente, a fazer-lhes o joguinho e as vontades.
Assim que o Insónias fez aquele tweet e disse mata, a malta aderiu e disse esfola. A John sacou imediatamente duma hashtag fabulosa, #fachina e foi assim que se deu início à coisa.
Portanto, a partir das 15h00 de hoje, 28 de janeiro, e durante um mês, não responder, não dar visibilidade, não interagir, não nomear, não partilhar, não porra nenhuma a conteúdo daquela proveniência. Se precisarem mesmo de referir a coisa, olha, façam como com a outra, usem o sandra, em vez do sofia (auto-link). Bloqueiem, façam mute se for essa a vossa estratégia para não interagir, a contas, a temas, a hashtags. Whatever works.
É uma experiência. De recondicionamento do algoritmo e de verificar se tem impacto na agenda mediática.
"Ah, mas isso é o mesmo que não fazer nada e não é por ignorares um problema que ele deixa de existir". Pois não, mas ninguém está a sugerir que se ignore o problema. Ninguém está a sugerir que se baixem os braços ou que se deixe de lutar, noutras frentes, com menos visibilidade, mas de eficácia mais direta. Ninguém está a sugerir que nos enfiemos numa bolha. É apenas uma luta menos visível.
Bem sei, bem sei, esta estratégia não dá tanta visibilidade, não gera tantos likes. Nada como um belo RT de um conteúdo chegófilo, com o comentário "estes gajos são do pior", para gerar de imediato uma onda de likes e de shares e de comentários "you go, girl". São as putas das endorfinas, não é? É a porra do umbigo. É o tamanho da pila. E depois explicamos, olha...... se calhar fazias isso com um screenshot, porque KPIs e algoritmos, não? E a resposta é "ah, vocês levam-se demasiado a sério, eu estava só a brincar" ou "é preciso não deixar passar para eles perceberem que não estamos de acordo".
Eles estão-se cagando para que estejas de acordo ou não, lindinha. Já lhes serviste os propósitos, já lhes fizeste share ao conteúdo, amplificando a mensagem e, sobretudo, reforçando o algoritmo. Espero que os likes e os shares que a coisa te rendeu em massagem ao ego compensem a contribuição que fazes para a ascensão da extrema direita. Bom trabalho.
Portanto, e porque isto já vai longo, bora à #fachina