Eu não sou da rua. Nunca fui. Enfim, tirando descer a Avenida, claro, mas mesmo aí, caladinha. Faz-me confusão a manada. Faz-me confusão as palavras de ordem. Dificilmente é para mim, a rua. Participo e luto de outras formas (auto-link).
Mas, às vezes, é mesmo preciso. E algures em 2013, lá fui com a minha irmã, acho que do marquês à Assembleia da República. Nós e mais uma catrefada de gente, claro. Chegadas à Assembleia, como vínhamos relativamente no início, ficámos mesmo lá à frente, quase na primeira linha junto das barreiras e da polícia.
Como é habitual nestas coisas, os ânimos à frente estavam mais exaltados e o pessoal estava a começar a perder a cabeça, e as barreiras tinham começado a abanar forte e feio. Conseguir passar aquelas barreiras é medalha, não é? É uma conquista simbólica de um espaço que nos está vedado.
Eu e a minha irmã quietinhas, só na observação. Enfim, eu mais quietinha que ela. De repente, atrás de nós surgem vozes de incitamento; "vai", "salta", "p'ra cima deles". Olho para trás e está um grupo de 3 pessoas, tão quietinhos como eu e como a minha irmã, mas substancialmente mais participativos, pelo menos do ponto de vista vocal. Passado um bocado, a mesma coisa, muito empertigados e impulsionadores dos outros, mas ir lá para a frente para o meio da confusão, está quieto.
Aquilo durou mais um bocado, até que me irritei, virei-me para trás e, dando-lhes passagem disse qualquer coisa como "querem quebrar as barreiras? Querem ir lá para a frente? Podem passar, não há ninguém a impedir-vos". Entreolharam-se, calaram-se e, claro, ficaram quietinhos. Foram-se afastando e passado um bocado lá os reencontrei, à distância, a incitar à quebra das barreiras e a acicatar e agitar ânimos de pessoal de cabeça mais perdida, mais à frente junto à polícia, mas os próprios, quietinhos e sossegados, resguardados da confusão.
Eram agitadores profissionais. Pessoal que está ali de propósito para fazer aquele trabalho, tendo recebido instruções de pessoas, entidades, organizações, eminências pardas, a quem interessa um determinado tipo de comportamento, para fundamentar uma determinada retórica. Ou para abrir um telejornal. Ou para a foto do jornal. Ou, nos dias que correm, para um vídeo provavelmente viral.
Já sabia da sua existência, já tinha ouvido falar, já tinha visto vídeos, mas nunca tinha assistido à coisa em direto, ao vivo e a cores.
Tudo o que acontece irl (in real life) acontece online. TUDO. Natureza humana é natureza humana. Só mudam as plataformas e as ferramentas. Por isso, tal como irl, também nas redes sociais há agitadores profissionais. E que ocupados têm andado, ultimamente.
Há-os em todas as redes mas eu debruço-me (sem cair) sobre os do Twitter, naturalmente.
Sobretudo porque são habitualmente muito fáceis de identificar (mas nem sempre, porque há uns mais espertalhões).
Então, uma conta de twitter de um agitador profissional reúne algumas (não necessariamente todas) destas características:
É uma conta recente (tudo o que tenha menos de 1 ano, é recente)
É uma conta sem handle personalizado.
É uma conta sem avatar ou com avatar genérico (ou falso).
É uma conta com poucos seguidores.
É uma conta com poucos tweets.
É uma conta em que muitos dos poucos tweets, são RTs.
E, por fim, muito importante, é uma conta que entra na conversa com um tom provocatório e beligerante. Muitas vezes agressivo. O que estas contas pretendem é provocar uma reação, de preferência em cadeia.
Os seus alvos preferidos são contas com muitos seguidores, porque é onde conseguem impactar mais gente, com menos esforço, mas se, e só se, o interpelado morder o isco. O que vale é que a maioria do pessoal com contas grandes, tipo Insónias, não anda aqui há 3 dias e já sabe da poda, raramente caem na esparrela.
Daí que os principais alvos sejam pessoas com contas médias, acima dos 5.000 followers. Sobretudo se forem contas que falem habitualmente de política, temas fraturantes, economia, etc....
O que querem estes agitadores profissionais? Depende de quem as manda, não é? Uns querem umas coisas, outros querem outras, mas todos querem desestabilizar.
E se o ambiente anda propício à desestabilização. A malta anda ansiosa. Nervos à flor da pele. Tudo a deitar confinamento pelos olhos, tudo pronto a deitar as mãos ao pescoço uns dos outros. Basta assistir a uma noite de bola. É fácil ser-se agitador profissional, nos dias que correm.
Então, e o que fazer com os agitadores profissionais?
A instrução não é nova, pois não? Do not feed the trolls.
Cada qual faz como muito bem entender, naturalmente, mas eu faço como fiz naquela manifestação, sempre que os apanho a meter o nariz em conversas em que estou envolvida. Desmascaro e ignoro toda e qualquer resposta que seja dada depois disso. Não bloqueio (gosto de ver por onde andam, o que fazem, o que dizem e a quem).
Há vários exemplos disso aqui, aqui e aqui. Todos recentes..
Muitas vezes, depois de confrontados, mudam de handle, o que faz com que uma pessoa lhes perca o rasto, como aqui ou aqui. Recomeçam noutro sítio, mais à frente, como os da Assembleia da República.
Então e este relambório todo serve para quê?
Para que toda a gente os saiba reconhecer. Para ter um link para onde encaminhar quem me faz estas perguntas.
Mas, sobretudo, para desmascarar.
Porque esta também é uma forma de fazer a #fachina