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Jonasnuts

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A arte de bem reclamar

Jonasnuts, 30.08.12

Não é a primeira vez que escrevo sobre isto, aliás, uma das vezes em que o fiz, até usei o mesmo título para o post (auto-link).

 

Mantenho a ideia original, os portugueses em geral refilam muito, mas reclamam pouco.

 

Mas não é disso que se trata aqui. Reclamar é uma arte, e é raro ver, online, reclamações inteligentes (e contra mim falo). Mais raro ainda quando, no mesmo sítio se encontram dezenas de reclamações, de diferentes pessoas, todas elas bem escritas e orientadas pelo mesmo conceito, a ironia. Acho que nos anos todos que levo disto das internetes, esta é a primeira vez que assisto a este fenómeno e fico satisfeita por verificar que é na Amazon. Aliás, atrevo-me mesmo a dizer que isto só é possível na Amazon.

 

 

 

A história conta-se rapidamente. A BIC lançou um pack de canetas, todas muito cor-de-rosa e fofinhas, e cometeu o erro de pespegar na embalagem um "For her".

 

Não é novidade o estereótipo do cor-de-rosa para a menina, azul para os meninos, qualquer pessoa que visite uma loja de brinquedos, ou de roupa de criança (os sítios mais óbvios) sabe que isto tem vindo a acentuar-se. O erro da BIC não foi lançar as canetas cor-de-rosa, foi dizer que era "For her".

 

Até aqui nada de novo. Há uns tempos, a LEGO viu-se envolvida numa polémica semelhante, mas, o que diferencia a BIC da LEGO, são as reclamações ou, melhor, a forma como são feitas.

 

A Amazon incentiva a review dos produtos que vende. Sabe, há muito tempo, que a opinião das pessoas é importante e ajuda a vender. Experiências reais, de pessoas reais, que manifestam a sua opinião acerca dos produtos que adquiriram, sem que tenham nada a ganhar com isso.

 

O fino recorte de ironia transversal em quase todas as reviews que estão associadas à página deste produto da BIC é incrível. A primeira pessoa comentou de forma irónica, e praticamente todos os que se seguiram adoptaram o mesmo estilo (com variantes e perspectivas diferentes).

 

Uma pessoa inteligente, quando numa multidão, pode tornar-se absolutamente idiota, e essa é a regra mais frequente. É raro, uma multidão ser inteligente.

 

Neste caso, aconteceu. Dá gosto ler quase todas as críticas (muitas delas disfarçadas de elogios).

 

E é também interessante ver que as pessoas usaram as ferramentas disponíveis, para mostrar a sua aprovação. Não havendo um "Like", muitas foram as pessoas que clicaram no "Yes" à pergunta "Was this review helpful to you?" (eu incluída).

 

Acho que é a primeira vez na vida que leio TODOS os comentários a um produto da Amazon que não estou particularmente interessada em comprar.

 

Adorei.

 

 

Como é que a indústria devia funcionar

Jonasnuts, 16.02.12

Refiro-me, evidentemente, à indústria do entretenimento.

 

É simples, e vou usar um exemplo pessoal, acabadinho de ocorrer, para ilustrar a coisa.

 

Vejo um tweet do Enrique Dans, refere o título de um livro, diz que é fundamental, e tem um link, suponho que para o Blog. O título do livro chama-me a atenção. Sigo o link, vou ter ao post. Leio o post do Enrique, pessoa cuja opinião conheço, respeito e valorizo. No post, há um link para a Amazon, para a versão kindle do livro. É da Amazon Espanha, mudo para a Amazon.com e dou rapidamente com o livro. Tem uma review, que consulto. Posso comprar a versão em papel e versão Kindle.

Torço brevemente o nariz ao facto do preço ser exactamente o mesmo para as duas versões.

Compro a versão Kindle. Demora o tempo de 1 clique.

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Na página que me é mostrada, identificando o sucesso da operação, recebo (e confirmo) a indicação de que o livro já está disponível no meu Kindle (sim, o Kindle anda sempre comigo na mala), dão-me também alternativas, posso consumir, de imediato, o conteúdo que acabei de adquirir, no meu browser. Posso ainda informar automaticamente a minha rede de Facebook e Twitter de que acabei de fazer aquela compra. Funciona como recomendação.

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E foi assim, que em menos de 3 minutos eu soube da existência de um livro, vi a recomendação, fui à loja, comprei, já me foi entregue e, se não tiver que fazer à hora do almoço, começo já a ler.

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É tão estupidamente simples, não é?

 

Lamentavelmente, há muitos agentes da indústria que ainda não compreenderam a simplicidade e, mais grave, o potencial destas "novas" plataformas. E como não compreendem, querem que nós lhes paguemos para que eles possam continuar a não compreender, portanto, a não trabalhar.

 

Thank you but no, thank you.

 

Mudem de século. Está-se bem, por aqui.