Geração da partilha
Partilhar teve em tempos um significado simpático. Era o que se dizia aos miúdos, quando estes manifestavam o egoísmo típico da idade. Tens de partilhar. Era uma coisa boa. Partilhávamos o que era nosso, porque gostávamos do outro (ou porque nos diziam que era preciso, pronto).
Hoje em dia, partilhar tem um significado completamente diferente. É uma espécie de doença.
Partilhar é, para alguns, viver.
E o sentido crítico que se deseja, está ausente. O acto de partilhar é mais importante do que aquilo que se partilha. Precisamos de partilhar para nos sentirmos validados.
Não me refiro apenas à malta miúda. Refiro-me a toda a gente.
E vem isto a propósito de quê? De duas coisas, que são reflexo da mesma base.
Há neste momento, no Facebook, duas "promoções" que incentivam os incautos a fazer share, e a tagar os amigos nos comentários.
As duas páginas são obviamente falsas. E quando eu digo obviamente, não estou a ser fundamentalista. Ambas são muito recentes (um ou dois dias). Não têm qualquer enquadramento ou validação das marcas que dizem representar. Não são oficiais. Têm apenas um post, que é precisamente o da "promoção".
Apenas isto deveria servir para que as pessoas percebessem que se trata de páginas falsas, e devia originar uma acção apenas: denunciar a página.
No entanto...... olhem para os números. Milhares de likes, milhares de shares e milhares de comentários.
Ok. Vai na volta e eu ando nisto há mais anos e estou mais habilitada que o comum dos mortais para identificar este tipo de esquemas. Não creio, mas vamos assumir que sim.
Pedagógica, aviso as pessoas que fazem parte da minha lista de amigos. Olha..... isso é um esquema. A página é falsa. Apaga, reporta e avisa os teus amigos. Pronto, nem sempre de forma tão cordial, mas tentando sempre ser construtiva.
Um comentário deste género deixado numa das páginas deu origem a uma série de insultos, à minha pessoa, em privado (claro), porque o que eu queria era ficar com o anel só para mim. Eu, que nem uso anéis.
A maioria das pessoas que avisei, agradeceu e apagou o post.
Depois temos a excepção. A que agradeceu, queixando-se que o meu comentário não tinha sido nem cordial nem educado. Enganou-se. Não sendo cordial, o meu comentário não era mal educado. Pedi desculpas pela falta de cordialidade.
Regresso hoje ao perfil da dita cuja pessoa, e lá está na mesma, o post da patranha. E o argumento para a manutenção do post é hilariante "Está e estará o tempo que eu quiser porque este é o Meu espaço pessoal na internet e aqui mando eu.".
Não deixa de ser verdade, no mural de cada um, manda cada um.
Mas alguém que, sabendo que se trata de um esquema, que prejudica terceiros, que é uma falsidade, opta por, mesmo assim, manter o post porque aqui mando eu, é alguém que não tem noção. É alguém que é palerma.
Nada contra. Apenas não me interessa. Unfriend.
São estas pessoas que provavelmente se queixam de que a comunicação social tradicional andou a veicular durante todo o dia de ontem um vídeo de 2011, em Moscovo, como sendo dos atentados de ontem, de Bruxelas, mesmo apesar dos vários avisos para a falsidade da coisa.
Vai na volta e não, não são estas pessoas. Estas pessoas são as que vêem o vídeo de Moscovo e acreditam que se trata de um vídeo de Bruxelas. Engolem tudo o que lhes põem à frente. Não engulam pá, cuspam.
Estas pessoas são o nosso amanhã. A elas, recomendo vivamente que vejam um filme em que são heróis e heroínas.