Sempre adorei a idade que tive. É estranho, mas é verdade.
A primeira vez que pensei no assunto foi enquanto apagava as velas do meu 10º aniversário. Lembro-me exactamente onde estava, o que é que tinha vestido, que penteado tinha, e o meu pensamento enquanto apagava as 10 velas do bolo foram "ena, 10 anos, já posso dizer há dez anos eu fiz isto ou fiz aquilo". Não pensei em desejos. Com 10 anos, não pedi bonecas, nem póneis, nem coroas, limitei-me a expressar interiormente a minha satisfação por já poder dizer, como os crescidos, há 10 anos.
Nunca desejei ter nem mais nem menos anos. Todas as idades foram fantásticas, com os seus prós e contras. Sempre me fez confusão os problemas que as mulheres têm com a idade. A minha mãe andou vários anos a fazer 39 (o que me baralhou as contas até hoje, que preciso sempre de fazer as contas ao ano em que nasceu), e apesar de ser uma mulher muitíssimo interessante, a coisa da idade pesava-lhe. Outros tempos.
Quando se faz 30 dizem-nos ah, agora é que é a sério. Aos 31 chegam os comentários originais "que grande 31", aos 33 ouvimos o óbvio comentário acerca da idade de Cristo, aos 35 dizem que agora é que atravessámos a meia-idade, quando chegamos aos 39 dizem-nos para curtir este último ano das nossas vidas.
Bom, não sei se sou muito diferente do resto das pessoas, e sou uma mulher do meu tempo, tempo em que as mulheres de 40 anos não têm bigode, não se vestem de preto, não se escondem por baixo de umas roupas que as fazem parecer uns sacos de batatas. Parece que antigamente as mulheres chegavam aos 40 e pronto. Já estava. Quando é que chegam os netos?
Hoje é diferente, pelo menos comigo. Com os tais 40 (e os 39 e os 38 e etc.) não tenho uma personalidade muito diferente do que tinha há 20 ou 25 anos. As características base continuam cá, algumas mesmo mais apuradas. Continuo teimosa, impetuosa, frontal, lamechas, preguiçosa, desorganizada, refilona, trabalhadora (quando faço algo de que gosto), trapalhona (quando faço algo de que não gosto), desarrumada, curiosa. Mas já pego no garfo mais acima, e não precisei de me casar (private joke). Sou mais segura, de mim e dos outros. E sei fazer melhor as coisas. Portanto, sou mais bem desarrumada agora do que era antes.
Portanto, meninas e meninos de 20 anos (ou menos), quando olharem para as pessoas mais velhas, não imaginem uns cotas. Imaginem alguém que é mais maluco que vocês, conhece mais maluqueiras do que as que vocês vão conhecer proximamente, tem €€€ para pôr em prática uma série de coisas que ainda estão na vossa wishlist e provavelmente já concretizou um porradão daquelas coisas que estão ainda no reino das vossas fantasias, alguém que tem mais e melhor sexo, alguém que pode ouvir música alto, e tocá-la mais alto ainda , alguém que chega a casa às horas que quer e que não tem horas para comer e, por último, ainda tem pedal para vos dar uma ratada em qualquer joguinho de consola.
Só deixo um pedido, não me lixem, não me tratem por senhora. A senhora é a minha mãe, ou a outra que está no altar.