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Jonasnuts

Jonasnuts

They dance alone

Jonasnuts, 19.04.23

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Quando passeio com a minha mais velha, cruzo-me com outros passeantes de bichos. Com o tempo, vamos criando algum contacto. Não sei como se chamam o donos, mas sei como se chamam os bichos, como se comportam, de que é que gostam ou não gostam.

 

Também sei da minha bicha, se gosta, se não gosta, se é para mudar de passeio ou se, pelo contrário, quer muito ir ter com aquele que ali vem, mesmo apesar de não ser dada a grandes simpatias com todos, só com aqueles de quem ela gosta.

 

Com o passar do tempo, vamos conhecendo e aprendendo a perceber a que horas é que encontramos quem.

 

É um mapeamento emocional do bairro. Para-se um bocadinho, enquanto eles se cheiram (acho sempre imensa piada aos donos que ficam muito encavacados quando os seus cães cheiram o rabo da minha cadela - pedem imensas desculpas e tentam puxar os bichos - deixe lá o bicho estar à vontade, que eles não têm esses impedimentos).

 

E trocam-se dois dedos de conversa, sempre sobre os bichos, que idade tem, de que é que gosta, a que é que é alérgico, se teve mazelas, se está a recuperar, que está magro (ou gordo), e demais idiossincrasias próprias, que só os donos identificam.

 

Às vezes vejo as pessoas sem bicho, durante o dia, e não as reconheço. "Desculpe - sem a Maré não a reconheci". Verdade seja dita, que ligo mais aos bichos que os donos. 

 

Há duas semanas, no passeio da noite, cruzo-me com o dono do Thor. Um sharpei malhado, adulto, que ao princípio era pouco amigável (mas nunca agressivo) que, à custa de bocadinhos de salmão, se foi tornando mais amistoso :-) O Thor e  a Uma nunca foram de grandes intimidades,  mas também não foram de grandes agressividades. 

 

Estranhei a ausência do bicho e perguntei, então, sem Thor? 

 

"O Thor morreu, de repente, de um momento para o outro, sem que nada o fizesse prever, no dia seguinte àquele em que nos encontrámos e em que brincou com a Uma Lembra-se, que até estranhei a sua ter reagido à presença dele e ter vindo atrás, lamber-lhe as orelhas? Não passou do dia seguinte. Tenho continuado a dar os passeios, porque me ajudam."

 

Foi um murro no estômago. Não era sequer um cão sénior. Era um cão adulto, bem constituído, saudável. Um daqueles azares.

 

Tenho-me cruzado com o dono do Thor quase todas as noites. Custa-me, vê-lo pela metade, de cabeça baixa, a fazer festas a todos os bichos com quem se cruza. Levo a mão ao bolso, para is buscar o salmão, num reflexo condicionado que ainda não me abandonou. 

 

Confronto-me com o meu futuro. Longínquo, espero, mas inevitável. Não farei os nossos passeios sem a minha mais velha. Pode ser que venha a fazer outros. Mas acho que não farei os mesmos.

 

Há caminhos que não se percorrem pela metade.

Mundo Maravilhoso

Jonasnuts, 10.02.23

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A primeira vez que ouvi o Rui falar do Mundo Maravilhoso, foi quando o conheci, no dia 4 de novembro de 2019.

Na altura, impressionou-me muito a paixão com que descreveu história, e a viagem da Flora Blue. E a história, a premissa, o contexto, tinham a minha cara. Criei muitas expectativas.

Dois anos mais tarde, tive o privilégio de ser uma das pessoas com acesso a uma espécie de draft do livro. E as expectativas foram cumpridas.

O que é a felicidade? O que é a auto-determinação? Queremos mesmo ser livres? De que é que estamos dispostos a prescindir, em troca de um mundo maravilhoso? Se o nosso mais ínfimo desejo é satisfeito à partida, poderemos ser felizes? Que deuses estamos dispostos a criar e a sacrificar?

Num momento em que os temas do dia são a inteligência artificial, a internet das coisas, os chats e os , a desinformação, os conflitos e já que parecemos estar a caminhar a passos largos para um futuro parido pela imaginação mista do Orwell, da Atwood, do Bradbury e do Huxley, o Mundo maravilhoso, do Rui Cordeiro, é uma reflexão essencial e imprescindível, embrulhada numa história irresistível.

Foi o meu presente de Natal para a minha miudagem quase toda.

 

O Rui, sabendo do meu interesse por este tipo de temas, e porque as nossas conversas são sempre animadas, achou que era boa ideia convidar-me para com ele debater e refletir um bocadinho sobre a premissa do livro. E eu disse que sim. E numa #booktalks da Fnac, no próximo dia 15 de fevereiro, às 18h30, na Fnac do Colombo, lá estaremos.

 

Apareçam também.