Can you hear the silence?
Durante muito tempo, muitos, muitos anos, achei que ter a última palavra era fundamental.
E, por isso, sempre me esforcei, às vezes até demais, para ter a última palavra, ser a última a escrever uma resposta, um comentário, um mail, um tweet, uma frase, o que fosse.
Sempre achei e, na verdade, continuo a achar. Mas.
Não tendo estado enganada no feitio, andei enganada na forma.
Foram precisos uns anos de terapia, muitas leituras, muita descoberta, tropeçar em conceitos como o da aceitação radical e do grey rock, para compreender o extraordinário poder do silêncio. Caiu-me a ficha. Sim, no silêncio, também pode estar a última palavra.
Como em qualquer outra epifania, quando caiu a ficha, tudo ficou mais claro, mais fácil e, sobretudo, mais silencioso. E também mais poderoso. E mais confortável. E mais rápido.
Passei a usar sempre que possível. Vai na volta, fui do oito ao oitenta. Mas a verdade é que é extraordinariamente libertador.
Há umas semanas fui emoldurar umas cenas. Enquanto estava ali na escolha das molduras e dos passepartout e demais opções de composição e emolduramento de serigrafias e cenas, senti o meu olhar a ser puxado, olhei para cima. Ali estava ela, emoldurada, exposta, uma gravura. Estava muito lá para cima. Não se liam os escritos, nem da gravura nem da legenda. Mas as cores, as formas, a composição, atraíram-me de imediato. Fiquei por ali mais um bocado (muita coisa para emoldurar), e sem dar por isso, os meus olhos iam sempre dar à gravura.
Tive de perguntar, claro. De quem é? Quanto custa? Da Marina Anaya (não conhecia). Custa uma pipa (não foi o que me responderam, mas foi o que achei).
Só depois de muito namorar a gravura é que descortinei, finalmente, o que lá estava escrito. E, se estava indecisa (o facto de custar uma pipa não ajudava à decisão), o nome da gravura dissipou qualquer dúvida. Tinha de ser. Tudo me atraía. As cores, as formas, a composição e, por fim, o nome "Can you hear the silence?".
Não quis esperar que ma viessem entregar, veio comigo na hora, apesar de ser enorme e não caber no carro (tive de abrir a capota e veio meio de fora). Pendurei no dia seguinte. Adoro. Fica lindamente, na minha sala. É a gravura que ilustra este post.