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Jonasnuts

Jonasnuts

Mas afinal, quantos mil, para continuar Abril?

Jonasnuts, 30.04.24

Foto de Diogo Ventura para o Observador

Somos muitos, muitos mil, para continuar Abril é uma das palavras de ordem que se ouve, todos os anos, no 25 de Abril, quando descemos a avenida.

Este ano não foi exceção. 

Mas...... afinal quantos mil?

Em todos os ajuntamentos de pessoas, a comunicação social e as entidades oficiais são céleres a divulgar números, e desta vez, nicles.

Sim, eu sei que os números valem o que valem, e cada um puxa a brasa à sua sardinha e contar multidões não é uma ciência exata e permite várias sardinhas, dependendo de quem as põe a assar.

 

Mas se noutras ocasiões não parecem ter tido dificuldade em chegar a uma ordem de grandeza, no que diz respeito ao dia 25 de Abril de 2024, parecem estar com problemas de matemática.

E isto aplica-se a Lisboa e aplica-se a todos os outros pontos do país onde, quem esteve, disse categoricamente que nunca tinha visto tanta gente.

Assustaram-se por verem tanta gente, meninos?

São números que não interessa revelar?

É, não é?

 

Sim, eles são muitos. 

 

MAS NÓS SOMOS MAIS, CARAÇAS!

E NÃO PASSARÃO!

 

A foto é de Diogo Ventura, para a fotogaleria do Observador.

O povo, unido, jamais será vencido

Jonasnuts, 26.04.24

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Ontem, como de resto nos outros dias 25 de abril, tinha planeado descer a avenida. Já é tradição, há muitos anos.

Falei disso no meu post anterior (auto-link), era importante que fôssemos muitos. É sempre importante sermos muitos, mas este ano era mais importante ainda. Não por ser o 50º aniversário. Mas porque há 50 fascistas na Assembleia da República.

Descer a avenida é o único ajuntamento a que vou por iniciativa própria. Eu não adoro ajuntamentos. Multidões. Manadas. Esperas. Tenho muitas dificuldades e, por isso, tento proteger-me. Vou cá mais para o fim, quando as pessoas começam a ir mais espaçadas, quando o barulho dos megafones e da música já não nos entra pelos ouvidos adentro.

Este ano, indo com estreantes, mais importante ainda, a coisa passar-se harmoniosamente.

Combinámos às 15h00 na estátua do Marquês. Cheguei às 14h30, eu acompanhada da minha mania de preferir chegar adiantada do que atrasar-me. 

E ali ficámos, à espera que a multidão se diluísse, que começasse a escoar. "Jonas, tu que já conheces, há mais gente este ano?". Sim, sem ser preciso pensar muito, porque a diferença era grande, logo desde o princípio que dava para ver. 

E esperámos, esperámos, esperámos....... "mas nunca mais começa, Jonas? De que é que estamos à espera?", e eu a explicar...... estão ali as mesmas bandeiras que estavam há duas horas, isto ainda não começou a andar.

Pela primeira vez na minha vida de descendente da avenida, não consegui descê-la. Era tanta gente que não houve, pura e simplesmente, espaço para que toda a gente descesse. Não saí do Marquês. Vim embora já passava das 18h30. E o final do cortejo ainda ali estava, a impedir o trânsito. 

A minha companhia, mais corajosa, aventurou-se avenida abaixo, mesmo no meio da confusão. Estreantes valentes. A foto que ilustra o post é da Manuela, uma das valentes.

Deixei-me ficar. Conheci pessoalmente um amigo de pelo menos uma década, o Paulo Jacob, e respetiva família.

Tive sorte, mesmo assim, porque pude assistir ao mini espetáculo dos Tocárufar que habitualmente descem a avenida, mas este ano também não conseguiram.

O ambiente foi fantástico, como habitualmente, gente de todas as idades, de todas as cores, de todos os feitios, só que mais. Muito mais.

Os portugueses democratas (sem esquerdas nem direitas, eu acho que a avenida é de todos os democratas) saíram à rua. Perceberam que este ano, tinha de ser.

Perceberam que os outros são muitos.

Mas nós somos mais, porra. Somos muito mais. E provámo-lo, na rua.

Agora a ver se o provamos nas próximas eleições (europeias, 9 de junho - um dia excelente para o pessoal se baldar, porque é no domingo que antecede a semana dos feriados, e o pessoal acha sempre que as europeias não servem para nada - embora sirvam para quase tudo, porque é lá que as coisas estruturantes se decidem).

Anyway...... o importante é que a avenida estava linda, estava cheia e o ambiente estava fantástico.

 

Para o ano há mais. Lá estaremos.

(Gostava que a minha mãe tivesse visto a avenida, ontem).

Traz outro amigo, também

Jonasnuts, 22.04.24

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Este ano, como todos os anos, mas mais do que em todos os anos, é preciso muita gente a descer a avenida.

Arrebanhem aqueles amigos que sempre quiseram, mas nunca foram.

Convençam os hesitantes.

Expliquem a quem não gosta de ajuntamentos, que é só uma vez por ano.

Digam como é pacífico e alegre e que ninguém é obrigado a porra nenhuma.

Mostrem que podem ir onde quiserem.

Provem que é apartidária.

 

Este ano, temos de encher a avenida, várias vezes, muitas vezes.

 

Porque não passarão.

 

Porque eles são um milhão.

Porque eles são muitos, mas nós somos mais, porra.

Manual do bom manifestante

Jonasnuts, 26.04.23

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Nunca fui de manifs. Tirando aquelas a que fui com os meus pais, durante o prec, nunca fui muito frequentadora. Nem manifs nem comícios. Não sei porquê. Quer dizer.... até sei. Aquela gente toda. A confusão. A sensação de manada. A perceção de que estou a ser manipulada em benefício de alguém que vai guerrear números, mais logo nos telejornais. Sinto-me sempre deslocada. 

 

De vez em quando tento. Até já falei disso aqui (auto-link).

 

A única ocasião em que insisto em contrariar este meu desgosto, é no 25 de Abril. E desço a avenida. Comove-me. descer a avenida. Nem sempre a mesma avenida, que em 2021 estava no Porto com a Joana, mas desci a avenida lá do sítio. A mesma comoção.

 

Isto tudo para esclarecer que não tenho assim muita prática de manifestações, mas, mesmo assim, avanço com um manual do bom manifestante, baseado na minha (pouca, mas investida) experiência.

 

Estas são recomendações que pretendem beneficiar o próprio e os restantes. Amiúde, mais os restantes que o próprio.

 

Tomarás banho antes de ir para a manif

Sim, é importante. Porque vais estar ao livre, sim, mas também vais estar muito próximo do restante maralhal que, não estando constipado, vai sentir mais do que o cheiro a liberdade e alegria, e não queres contaminar o cheirinho a liberdade, com o odor do sovaco mal lavado. Se ainda por cima levas um cartaz, isso significa que vais de braços levantados, portanto...... maior exposição das glândulas sodoríparas, maior capacidade de contaminação. 

 

Não jogarás à apanhada no meio dos manifestantes

Julgar-se-ia esta recomendação prescindível mas, a julgar pela minha experiência de ontem, nem por isso. Sim, se vais a uma manifestação com milhares de pessoas que caminham a um determinado ritmo, necessariamente lento, senão era uma S. Silvestre e no fim havia medalhas, não deves andar a sprintar no meio das pessoas. Primeiro, porque é desagradável e depois porque é inevitável que acabes por empurrar, pisar ou de qualquer outra forma incomodar quem está à tua volta, por mais engraçado que o feito te possa tornar aos olhos dos amigos com quem jogas. Alternativamente, porque uma manifestante mais agastada com a coisa, pode achar boa ideia meter o pé no exato momento em que vais a passar e depois esbardalhas-te todo e é uma maçada. Mas sobretudo, porque incomodas.

 

Leva chapéu, protetor solar e água

Senão para ti, para as crianças que decidiste arrastar para a manif. Depois da primeira meia hora, dependendo da idade dos petizes, naturalmente, a miudagem já só quer é ir-se embora e já está muito farta do ajuntamento, do cheiro (ver primeira recomendação) do facto de não poder jogar à apanhada (ver segunda recomendação), pior será se, em cima disto tudo, ainda apanharem uma insolação e um escaldão. Ontem, por exemplo, fazia uma caloranga desgraçada, estava um sol esplendoroso e fartei-me de ver miudagem sem chapéu. A água, é para não desidratarem. Aplica-se também a cães que, coitados, ficam ainda mais à nora que as crianças (mas mais bem comportados).

 

Não atravesses a rua

A sério, não atravesses a rua, se está a passar uma manifestação. Estares numa passadeira é completamente indiferente (ontem houve uma que se saiu com esse argumento - isto é uma passadeira - coitada). Não atravesses. Mas, se de todo em todo tiveres MESMO de atravessar, é fácil e simples. Junta-te à manif, acompanha a população, andando no mesmo sentido e enquanto andas em frente, deslocas-te LENTAMENTE na direção do sítio para onde pretendes ir. Se não fizeres isto,  pode acontecer-te o mesmo que ao gajo que andava a jogar à apanhada (ver mais acima), um pé mais maroto, e esbardalhas-te. Vai que até entornas a imperial que levas na mão e que te deu tanto trabalho a arranjar. Não vale a pena.

 

Não fumes

O conteúdo do cigarro, para o efeito em apreço, é irrelevante. Mas não fumes. Bem sei que não é ilegal, e que estamos ao ar livre mas, vivemos em sociedade e, afinal de contas, é uma manif, estamos todos uns em cima dos outros, salvo seja, pelo que não consegues evitar que o fumo da merda que que estás a fumar, vá para cima dos outros, que não têm culpa nenhuma que sejas um energúmeno e que não tenhas tido quem te ensinasse, em casa, as regras mais básicas da convivência em sociedade. Fica a dica. Se queres fumar um cigarro, ou um charro, dá igual, abandonas a corrente humana em movimento, páras numa zona mais calma, com menos movimento e com menos gente por m2, fumas o teu cigarro, ou o teu charro, lá está, e depois retomas a coisa. Em última análise, até haverá áreas da corrente humana, onde a acumulação é menos densa e até dá para fumar e andar ao mesmo tempo, mas não é no meio da maralha.

 

Levanta o teu cartaz

Os cartazes são giros. E toda a gente quer levar um. Enfim, muita gente quer levar um. Mas depois do entusiasmo inicial, depois da primeira hora, os braços já acusam o esforço, e já não se levantam tão alto os cartazes da liberdade e da paz e do pão e da habitação e da saúde e da educação. Baixam-se os braços e, consequentemente, os cartazes. O que significa que estes passam a estar ali ao nível da cabeça dos restantes manifestantes. Está-se mesmo a ver, não é? Vais passar dois terços da avenida a bater com a porra do cartaz na cabeça das pessoas que te rodeiam. Não é boa ideia. Leva um cartaz mais leve. Ou treina pesos, antes de pensares em levar um cartaz.

 

Haverá certamente mais dicas, que poderão ser acrescentadas nos comentários, mas estas são um bom ponto de partida, uma boa base de trabalho, ainda frescas da avenida de ontem.

 

Mas não há imbecilidade que me corte a comoção do 25 de Abril. 

 

É sempre muito bom, descer a avenida.

Para o ano há mais porque, 25 de Abril, sempre. Fascismo nunca mais.