Salamaleques
Nunca gostei de salamaleques. Não são a minha praia. São contra natura.
Há, no entanto, pessoas que não vivem sem. E que, amiúde (adoro a palavra amiúde, quase tanto como debalde), amiúde, dizia eu, confundem salamaleques com boa educação, respeito e profissionalismo.
São as pessoas que gostam muito do "Exmo. Senhor Doutor", e do "Atenciosamente" ou do "Antecipadamente grato", "Faria o obséquio", "Fazer a fineza", "Vossa Excelência" e coisas do género. Acham que um mail iniciado por "Caro Arquiteto" é sinal de respeito, falhando a ironia de que, para mim, quanto maior for o salamaleque, maior é a falta de respeito e desprezo.
Reparem, não tenho problema em começar um mail com Exmo. Senhor Professor Doutor qualquer coisa, se for esse o cargo e o estatuto da pessoa que contacto e com quem não tenho qualquer tipo de relação. Ou em comunicações formais e institucionais usar o tratamento compatível, mesmo quando são pessoas que, noutros ambientes, trato mais informalmente. Não gosto, mas não me custa, é a norma, e vai demorar até que a norma se desconstrua.
O que me chateia é o salamaleque dispensável. O salamaleque que é exigido porque se é administrador de condomínio. Um salamaleque sem qualquer significado e apenas valorizado porque aquela pessoa não tem noção de que fala com os pés e come de boca aberta.
Às vezes, cada vez mais vezes, não estou para me chatear e mando um mail cheio de salamaleques, de tal forma artilhado que os desgraçados têm dificuldade em perceber o que é que se pretende, no meio de tanta armadilha linguística e de tanta inutilidade.
Outras vezes, cada vez menos, mas ainda acontece, apenas os mando à merda, ou pior. Muitas vezes sem que percebam. Ainda sabe bem :)