Os filmes que eu não vi
Deve ser da idade, ou da experiência. Há filmes que eu não vejo. Nem de ficção, quanto mais os reais.
A sério, devo ter mais de uma dúzia de DVDs (do tempo em que ei ainda comprava DVDs) à espera de serem vistos. A ficção é sempre uma escolha, a realidade, na maioria das vezes, nem por isso.
Não vejo um vídeo online, se sei que me vai deixar na merda.
Não vejo os vídeos dos linchamentos.
Não vejo os vídeos de pessoas a serem mortas (por piores que elas possam ser).
Não vejo os vídeos do animal a ser atropleado/maltratado.
Não vejo os vídeas das miúdas a pregarem uma carga de porrada noutra.
Da última vez que uma merda dessas me entrou pelos olhos adentro, foi nos tumultos de Londres. Nada de violência extraordinária, mas extraordinariamente violento. Um jovem, provavelmente a tentar recuperar duma porrada, é ajudado por alguns, enquanto outros, aproveitando-se do momento, lhe abrem a mochila que levava às costas e o roubam. Não sabia ao que ia. Vi. Já passou muito tempo (o tempo, nos dias de hoje, passa mais depressa). Mas ainda não me consegui desfazer do sentimento de raiva. E ter raiva não é bom.
Não vejo vídeos. Não vivo num mundo cor de rosa, e sei que há pessoas más. Muitas.
Mas não vejo. Não preciso.
Por isso, não vejo.
E não vi, nem vou ver, o vídeo criança chinesa atropelada, e atropelada, e atropelada.
Para quê? Para que quereria eu ver o horror? Porque hei-de eu querer ficar com uma ferida que não desaparece, que deixa marca.
Thank you, but no, thank you.