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Jonasnuts

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A ponta e o ponto

Jonasnuts, 09.11.07
Imagem retirada daqui

O meu primeiro contacto com relógios de ponto foi há muitos anos, através da minha mãe.
Trabalhava na Lintas, e a Lintas tinha relógio de ponto. Se bem me recordo, eram uns cartões, que se inseriam num obliterador, marcando a hora de entrada. Havia também um chefe, seria um Williams?, que periodicamente pegava nos cartões todos, e assinalava com um círculo vermelho as entradas tardias (sim, mãe, eu tenho boa memória, e sim, eu sei que só tinha 6 ou 7 anos). Também me lembro que a minha mãe refilava com o ponto, e uma vez, apanhou o cartão do tal chefe, e marcou com círculos vermelhos todas as entradas tardias do senhor :)

É portanto genética, esta minha embirração com relógios de ponto.

Em toda a minha vida profissional, nunca tive de usar relógio de ponto. As empresas onde trabalhei não usavam essas coisas.

Lembro-me perfeitamente que quando entrei para o SAPO perguntei especificamente se havia relógio de ponto, e a resposta, sorridente foi, não, nem pensar, isso é só para as pessoas da Telepac, nós no SAPO somos diferentes. Excelente!

Algum tempo depois, mais precisamente 5 anos depois, toca-me um belo cartão de funcionária (palavra linda), e a obrigatoriedade de picar o ponto. E picar com todos os requintes. Quando entro e quando saio, e se não pico tenho de justificar, e se pico mais tarde do que o suposto tenho de justificar, e se não justifico, no fim do mês a remuneração decresce. Passo mais tempo a justificar as vezes que me esqueço de picar a porcaria do ponto (quer à entrada quer à saída) do que o que tenho.

Faz sentido que as pessoas que se regem por parâmetros e padrões mais antigos (antigos tipo, CTT TLP) usem relógio de ponto. E usem esquemas do tipo, se eu sair às tantas e picar e depois voltar a entrar, tenho mais 10 minutos para almoço que posso transferir para a saída e depois pico outra vez e depois amanhã já posso chegar 3 minutos mais tarde.

Mas eu, não tenho jeito, nem queda, nem, cima de tudo, tempo, para estas manigâncias. E, além disso, eu trabalho com Internet. E o "meu" serviço está online 24 horas por dia, o que faz com que a minha disponibilidade não possa passar pelos horários típicos do ponto (acho que é das 9h00 às 18h00, mas não tenho a certeza). Não só não pode passar por essa disponibilidade condicionada, como não precisa. Tenho Internet em casa (imagine-se), e uso-a, também, para trabalhar. Aliás, sou mais produtiva nas 2 ou 3 horas que trabalho todos os dias, em casa, do que em muitas das horas que passo no meu local de trabalho.

E explicar isto a pessoas que não compreendem o conceito de "trabalhar fora de horas"?

Alguém me explica, porque é que num negócio de tecnologia de ponta, ainda há ponto?

O trânsito de Lisboa

Jonasnuts, 26.10.07
O trânsito de Lisboa é, habitualmente caótico, especialmente em horas de ponta, mas não é obrigatório. Já apanhei bichas (eu cá não sou de eufemismos), bichas (e repito) a horas perfeitamente insuspeitas, e já apanhei abertas em horas de ponta. Mas é cada vez mais raro.

Presumo que todos estão de acordo acerca do factor stress que o trânsito de Lisboa provoca nos cidadãos que são obrigados, todos os dias, a fazer a sua vidinha de sai de casa, põe criança na escola, vai para o trabalho, vai buscar o puto à escola e vai para casa.

Não sei das outras pessoas, mas eu tenho horários. Mais importante, o meu puto tem horários. Os horários do meu puto são mais importantes que os meus. Quero que ele seja uma pessoa pontual, e respeitadora do tempo dos outros, e dos seus compromissos. É com muito orgulho que ele me mostra o boletim de avaliação periódica a dizer "aluno assíduo e muito pontual". Eu também fico orgulhosa, porque sei o esforço que me exige, levantar-me com as galinhas, para ele estar, a horas, na escola. Odeio levantar-me cedo. Sempre odiei. Mas esforço-me por passar a mensagem certa, que nesta coisa de filhos, não há como as acções. Funcionam muito melhor do que o paleio.

Os horários do meu filho são os mais importantes do mundo.

Como é que eu explico ao meu filho que, por causa de uns senhores que não conhecemos de lado nenhum, milhares de pessoas vão chegar atrasadas aos seus trabalhos, aos seus compromissos, às suas aulas?

E depois o mesmo, ao fim do dia. Quantos pais chegaram tarde para ir buscar os seus filhos à escola? Quantos pais chegaram a casa em cima da hora de jantar, com uma enorme dose de stress, já sem paciência para os banhos, as brincadeiras, o jantar?

Porque é que aqueles senhores, em plena hora de ponta, têm auto-estradas inteiras, fechadas para poderem passar?

O que é que aqueles senhores são mais do que nós?

Não vou cair na piada fácil do filho da Putin. Porque o Putin não tem culpa nenhuma. A responsabilidade passa por quem aceitou as condições que o pessoal da segurança do Putin impôs. Ou então arranjavam uma pensão modesta em Mafra, e espetavam com o gajo por lá. Sei lá, qualquer coisa ali perto, que não obrigasse a deslocações de vários Km, à hora de ponta da manhã e à hora de ponta do fim do dia.

Deve ser qualquer coisa relacionada com a mania das grandezas, de pobrezinho mora longe. Fechaste a praça vermelha para eu poder fazer jogging para a fotografia? Ok, eu fecho várias vias de comunicação, centrais, de acesso à capital do meu país, para tu poderes ir ali a Mafra. Diz que tem uns pastelinhos muito bons.


Imagem da A5 hoje, às 9h00 da manhã, com um contingente policial a impedir a entrada de carros, no sentido Lisboa - Cascais.

Aquel gente toda que se vê de pé, para além dos polícias, são motards, desmontados, em amena cavaqueira.

Claro que o trânsito no sentido contrário atascava por causa dos palermas dos curiosos. Mas isso fica para outro post.