A arte perdida de fazer piscas
Não tenho a certeza de que se trate de um problema novo. Não tenho a certeza de que não tenha sido eu a mudar. É possível. Mas o que é facto é que sinto diferença.
Antes, eram só os BMW, claro, que vêm sem piscas de fábrica, já se sabe, faz parte da cultura empírica de quem anda na estrada. Os Mercedes também acima da média, de há uns anos valentes para cá, os Audi a querer pertencer ao clube e ultimamente os Tesla. Com esta gente, já se sabe que a ausência de pisca não significa que não vão mudar de direção, enquanto que, mais raramente - claro, a sua presença não obriga a que ela seja mudada.
Com esta gente, dizia eu, já sabemos com o que contar, isto é, não podemos contar com nada, e isso já é alguma coisa.
Mas reparo agora, de há uns tempos para cá, que mais e mais gente quer fazer parte do clube dos que acham que a estrada é só deles e não têm de prestar contas nem comunicar com o resto dos comuns mortais.
Não sei se é por praticamente só conduzir mota e, por isso precisar mais de saber e antecipar o que os outros vão fazer, ou se é uma coisa da idade, dou por mim a insultar (apenas mentalmente, claro) os imbecis que não usam pisca. Os e as, que isto parece não discriminar e afeta igualmente portadores de pénis e portadoras de vaginas.
Há multas, para quem não faz pisca? Deve haver, em teoria mas, na prática, suspeito que não. De outra forma a famosa dívida nacional estaria já paga. O estado daria lucro.
Há outros comportamentos na estrada de que me apercebo mais desde que ando de mota, porque tenho mais visibilidade sobre o que fazem os condutores de carro e, creio que darei aqui início a uma série de "artes perdidas", mas hoje foi o pisca. Porque já andava para escrever este post há uns tempos valentes e porque fiz a marginal de Cascais, às 11h30 da manhã e, desde S. Pedro do Estoril até ter virado para a Avenida de Ceuta não vi um único pisca. Um. Para amostra. Nada. Niente. Zero. Null. Só em Alcântara me apareceu o primeiro pisca. Pelo meio, rotundas várias, saídas, entroncamentos, desvios, muitas oportunidades para se usarem as luzes que deveriam assinalar a mudança de direção, e não houve uma alminha que achasse necessário assinalar essa mudança de direção.
Sou só eu a ficar rezinga, ou estamos mesmo a esquecer a arte de fazer piscas?