Bem sei, nem sei, já toda a gente escreveu sobre isto, sob todos os pontos de vista, e já faz parte das notícias do passado. Convenhamos, é uma notícia de pré-silly season, a "professora primária", que está ali a formar as jovens mentes das crianças de Mirandela, e que nas horas livres se despe e posa nua para a fotografia da revista que os homens compram exclusivamente para ler os artigos que lá são escritos.
Vou evitar escrever o nome da publicação, porque muita gente vem aqui ter quando pesquisa por esse nome, e eu não quero defraudar expectativas. Mas, se veio aqui parar à procura de senhoras menos vestidas, siga este link, que fica mais bem servido.
Eu estou dividida. Se por um lado concordo com o que está escrito aqui (que é uma opinião belissimamente fundamentada, contra a professora), também li algumas coisas a favor. E debati em família.
E continuo dividida.
À partida, parece-me que o que a professora faz nas horas vagas não diz respeito a ninguém, a não ser a ela própria. E as vozes que se levantam, estão a tecer juízos de valor, como se fossem donos da moral e dos bons costumes. E coitadinhas das crianças, cuja personalidade está em formação, serem assim, expostas à nudez da professora. Vai traumatizá-las para sempre. Porque, como se sabe, quem se despe, são as putas (ou as artistas, mas nesse caso só se ganharem óscares). Porque são as professoras, especialmente as de das actividades extracurriculares, que formam as mentes das crianças. Os pais, coitaditos, impotentes (provavelmente de forma literal, na maioria dos casos), viram-se assim de repente confrontados com a sexualidade da professora, esse ser, que se quer assexuado, apolítico, atudo, porque, lá está, vai formar as mentes das criancinhas. Os pais não têm qualquer responsabilidade nessa formação. Desresponsabilizam-se também dessa última competência, e descarregam mais uma carga de trabalhos nos professores. Eu não abdico do meu papel de mãe. Cabe-me a mim, em primeiro lugar, não aos professores. Não ouvi ninguém perguntar como é que as crianças tiveram acesso às fotos. Na casa de banho dos pais, está-se mesmo a ver.
Mas continuo divivida.
Sei que o que faço fora das horas de "expediente" pode afectar e influenciar o meu trabalho e o meu empregador, e tenho algum cuidado e discernimento. Por exemplo, há coisas acerca das quais não falo, neste Blog. Mas não falo porque EU não quero, a empresa que me emprega não é minha dona. Mas espera de mim algum discernimento (pelo menos espero que espere). Há algumas questões em que a minha opinião e a da empresa em que trabalho divergem. Vou um bocadinho mais longe. Há algumas questões em que a minha opinião e a opinião vigente divergem. E, nesses casos, o que fazer? Há 3 hipóteses. Amochar. Go with the flow. Seguir a carneirada. Não fazer ondas. A 2ª opção é a contrária, ser disruptiva, ser intransigente, nadar contra a maré, afrontar. E há a terceira via (estou muito Tony Blair, não estou?) que é aquela que eu acho que escolho. Ir pelo meio, dar uma no cravo uma na ferradura, persistir quando acho que posso fazer valer a minha opinião.
É mais ou menos isto que eu faço (embora a minha tendência seja sempre a 2ª via). Há coisas de que não abdico. Ir vestida duma determinada forma, mesmo que esperem que eu me vista de outra. É um pequeno exemplo, mas significativo. Também é preciso estar-se preparada para pagar o preço. Fosse eu mais disponível para fazer certas concessões, a mim própria, e sei que já estaria noutro cargo, com outras responsabilidade, sobretudo, com outro ordenado. Pago o preço.
Quanto à professora? Continuo dividida.
Remeto-me ao mal menor.
No fundo, prefiro uma professora que se despe para uma revista, do que uma professora que leva sistematicamente no trombil, do marido.
Suspeito que há muitos mais destes casos, de professoras que sofrem de violência doméstica, do que professoras que se despem para revistas.
Mas não vejo ninguém a gritar por estas professoras.
Provavelmente, as pessoas gostam mais de ver nódoas negras do que de ver maminhas.
Pessoalmente, prefiro maminhas.