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Jonasnuts

Jonasnuts

Na vanguarda do atraso

Jonasnuts, 22.11.17

A Comissão das Liberdades Cívicas rejeita a proposta do Governo Português que recomendava a censura de conteúdos na Internet.

 

Obviamente. Qualquer pessoa com dois dedos de testa perceberia que esta proposta era indefensável. 

 

Portugal tem andado, ultimamente, na vanguarda do atraso, no que a direitos digitais diz respeito. 

 

O que é estranho, porque, publicamente, temos um Governo que parece acarinhar esta indústria.

 

Olhe-se para a Websummit e para o dinheiro que se investiu (reparem, não digo "gastou" digo "investiu"), mais as operações públicas de charme com a presença de vários elementos do governo e, até, do Primeiro-Ministro.

 

Olhe-se também para o aproveitamento que tem sido feito do Brexit, e da piscadela de olho que Portugal tem feito a muitas tecnológicas que estão à procura de alternativas. 

 

Reparem, acho isto muito bem. O problema é que não podem querer sol na eira e chuva no nabal. 

 

Não podem querer atrair esta malta e depois aprovar (ou recomendar) leis que são contrárias à indústria. 

Não podem querer ser uma coisa em público e outra em privado.

 

O que me leva à questão......... quem é que aconselha o Governo nesta matéria? 

Porque é que o Ministro da Cultura, quem é quem leva estes temas do direito de autor, está tão inflexível numa posição tão obsoleta? Quem é que o senhor Ministro anda a ouvir?

 

E porque é que isto é tudo feito sem um debate público? Este é o tipo de matéria que não se resolve com conversetas de damage control feitas por sms.

 

Não havendo responsáveis por aconselhar o Governo em matéria de estratégia digital, não haverá ninguém responsável por aconselhar o Governo em matéria estratégia política?

 

É que estes são temas em que o activismo é muito e de rápida propagação. Estes são temas que custam votos.

 

O direito de autor não é sexy e há sempre a alternativa do choradinho do "coitadinhos dos artistas", mas a censura é, lamentavelmente, muito sexy. A falta de respeito pelas liberdades civis, é muito sexy.

 

E meia dúzia de activistas com poder de influência são facilmente instrumentalizados e amplificados por uma oposição interessada em roubar votos.

 

Just sayin'

 

Caro Tozé Brito (claro que mete a #pl118)

Jonasnuts, 10.01.12

É com muito gosto, e penalizando-me pela demora, que retomo a nossa correspondência. (Ver 1ª carta, ver 2ª carta).

 

Gostei muito da entrevista que deste ao Jornal i, e gostei, sobretudo, porque significa que te encontras bem de saúde. Quanto ao resto, como já sabes, estamos em lados opostos da barricada.

 

Gostaria de te felicitar, também, pelo oportuno e espectacular sentido de oportunidade, uma sorte, um acaso, que o Jornal i tenha decidido, de repente, entrevistar-te, bem como a outros tubarões (e o termo é carinhoso, evidentemente) da indústria fonográfica. Ser media bitch não é para todos.

 

A entrevista que deste, carece de muitas coisas, nomeadamente de factos reais, completos, verdadeiros e honestos. Por exemplo, a quebra de 38% nas vendas de CDs, vinis e DVDs musicais não teve qualquer impacto na venda das músicas. Não sei se sabes, mas há uma coisa chamada iTunes (para dar apenas um exemplo), que vende música, sem que seja necessário um suporte físico. Há também serviços como o do Spotify (para dar apenas um exemplo), em que tu pagas para ter o direito a ouvir música, sem que tenhas de ter qualquer suporte físico, e há, ainda, a Amazon (para dar apenas um exemplo), onde muitos portugueses (yours truly, por exemplo) compra os poucos CDs que lhe apetece comprar. Há anos que não compro CDs. E DVDs, musicais ou dos outros, vêm de fora. Mais variedade, mais qualidade, sobretudo, menos DRM. Nunca deixei de comprar música. Confundir-me com pirata, ou querer fazer-me passar por criminosa é coisa que me irrita. Solenemente.

 

Também não concordo contigo, quando dizes que daqui a 10 ou 15 anos não haverá pessoas a viver da música. Eu reescreveria a tua frase, dizendo que, espero ardentemente que, daqui a 10 ou 15 anos, as únicas pessoas a viver da música sejam aqueles que de facto estão envolvidos na criação e interpretação da música, dispensando as indústrias parasitas que a evolução do tempo, da tecnologia e das mentalidades se encarregará de expulsar de um processo com o qual já nada têm a ver, e onde estão apenas para tentar preservar, à força da legislação, um modelo de negócio que já não faz sentido.

 

Até há uns anos, os autores, criadores, artistas, sabes, aqueles que de facto produzem aquilo que as pessoas querem consumir, dependiam das grandes empresas. E dependiam de várias formas. O equipamento profissional para gravação das músicas estava nessas grandes empresas, a distribuição passava por essas grandes empresas, e a promoção, a mesma coisa.

 

Mas, a evolução tecnológica, mudou radicalmente o panorama que em cima te descrevi (e que tu tão bem conheces), hoje, qualquer pessoa pode ter em casa um estúdio onde produz e grava com muita qualidade. Com a Internet, pode fazer o seu site, promovendo o seu trabalho. Pode pegar no mail, e mandar samples das suas músicas para as rádios. E pode criar a sua legião de fãs (umas maiores, outras mais pequenas), à medida que o seu trabalho vai sendo conhecido e divulgado, pelas redes sociais, a famosa web 2.0 é uma importante ferramenta de comunicação, e vocês, não a dominam. Um autor, pode fazer tudo isto, sem que haja um CD envolvido, sem que vocês sejam necessários, transformaram-se num peso morto.

 

O vosso modelo de negócio, tornou-se obsoleto; o da exploração de conteúdos alheios, e em vez de evoluirem, vocês optaram por estagnar, cobrir a cabeça com os cobertores, e usar lobbies para que a legislação proteja o vosso negócio (e estilo de vida, convenhamos), já completamente ultrapassado.

 

 

Por último, um desabafo. Que merda de jornalista te tocou na rifa. Sem fazer quaisquer perguntas de jeito, oportunas, aquilo que qualquer pessoa com dois dedos de testa teria perguntado, nesta altura do campeonato, com a PL118 em cima da mesa e nas bocas do mundo, enfim, tu deves ter gostado, foi fácil, lá está, foi meter a K7 e dizer aquilo que já dizes há uns anos, mas a verdade é que trabalho jornalístico, ali, não há. Bem sei que não tens culpa, que uma pessoa não escolhe nem encomenda as perguntas que lhe fazem.

 

Ou será que escolhe?

 

Um abraço, e um dia destes tomamos um café.

Lei Sinde na Europa

Jonasnuts, 17.05.11

Eu sei que passo a vida a falar nisto, mas, para mim, esta é uma questão fundamental, para que a Internet continue a funcionar como deve ser.

 

A Lei Sinde, que foi aprovada em Espanha (sob variadíssimo protestos) está, de acordo com o Público, a ser estudada na comissão europeia.

 

Vamos lá ver se a gente se entende. Eu não tenho nada contra a aplicação da Lei do Direito de Autor. O que me incomoda é que a aplicação dessa lei não passe por um tribunal que é a entidade que, mal ou bem, tem competências para o efeito.

 

Passar a responsabilidade da aplicação da lei do direito de autor para terceiros, é abrir a porta a feudos, máfias e indústrias que mais não querem do que manter os seus privilégios e os seus modelos de negócio arcaicos e ultrapassados que não querem evoluir (porque não sabem), optando por fazer lobbying a favor do que lhes convém. Reconheço-lhes o direito de fazerem pela vida deles, desde que, quem toma a decisão, pense também nos meus direitos.

 

Esta lei prevê que a aplicação das regras seja feita por uma "comissão" ou mesmo pelos fornecedores do serviço de internet (ISP). Ora, eu quero que o meu ISP seja, apenas e só, um ISP (Internet Service Provider), porque é nisso que ele é bom, não é a decidir sobre a legalidade do que eu faço ou deixo de fazer. Para isso servem os tribunais. Não as comissões onde são plantados os amigos das indústrias decadentes, que defendem os interesses de todos, menos os do povinho. Nestas comissões nunca há gente do mexilhão.

 

O Enrique Dans já escreveu mais e melhor do que eu, sobre a lei em causa, mais para mais porque vive num país onde esta já está em vigor. Recomendo vivamente (como é habitual) o Blog do Enrique, e sobretudo este post, sobre o que esconde a lei Sinde.

 

É preciso que muitas vozes se levantem, porque estas leis, aprovadas lá longe, vão-se instalando aos bocadinhos, devagarinho, mansamente e de repente, damos por nós, e estão em vigor, sem que tenhamos sequer tido a oportunidade de manifestar o nosso ponto de vista.

 

Pessoalmente acho que uma lei deste tipo abre caminho a que se ponha em causa a neutralidade da rede que feriria de morte o conceito da Internet como o conhecemos. E, se há 15 anos o que me agradava nesta novidade que era a Internet era precisamente o conceito, hoje, reconheço que é esse conceito que é a base de tudo o resto, e é isso que é preciso defender.

 

Gostava muito que o meu filho pudesse ter a mesma Internet que eu, e estou disposta a estrebuchar, se me quiserem mudar a coisa.

 

ADENDA: Recomendo vivamente a leitura deste documento, que explica tudo muito bem explicadinho (e vai bem mais além do que o tema de que falo neste post). Está em inglês e chegou-me pelo @jmcesteves no Twitter.

Parece que afinal os espanhóis estão lixados, com f de cama.

Jonasnuts, 05.01.10

Aqui há uns tempos falei dos espanhóis, e do movimento que se criou contra uma lei que o governo espanhol pretendia aprovar.

 

Acho que é uma questão de tempo até nos debatermos, por cá, com este tipo de problema. Aliás, já começaram a ser dados os primeiros sinais, com a porcaria da lei dos links (mais sobre este tema um dia destes).

 

Na altura regozijei-me (ena)  com o facto dum movimento de cidadãos ter conseguido parar uma tentativa de legislar que era (e é) idiota, e que ia (vai) contra os direitos básicos de muitos para defender os interesses de poucos (mas grandes).

 

Parece que me precipitei. O governo espanhol pareceu ter na altura travado a coisa, mas, qual operação de maquilhagem, regressa com uma "nova" proposta que não muda absolutamente nada, e, ao que parece, prepara-se para aprová-la.

 

Mais informação na notícia do El País e no site do Enrique Dans.