No-reply
Este é um post que me está atravessado há muito tempo. Há anos, mesmo. Mas acabou por nunca acontecer, até hoje.
Enquanto consultora para a área de comunicação digital, é minha competência, responsabilidade e dever, aconselhar os meus clientes, no que diz respeito a todas as vertentes da comunicação digital, quer com os seus clientes, quer com a sua audiência e restantes stakeholders.
Um dos meus mantras é: "nunca se deve desperdiçar uma oportunidade de contacto". Seja qual for o canal, todos o potencial meio de contacto deve ser valorizado e integrado no pipeline de atenção e resposta.
Pensei que isto fosse óbvio, uma espécie de lapalissada, um mantra generalizado por todos aqueles que trabalham em comunicação em geral, e em comunicação digital em particular.
Desde sempre que nos "meus" serviços todos os canais eram merecedores de atenção. Mail, mensagens, comentários num blog, tweets, comentários de facebook ou instagram, telefone, presencial, etc....
É por isso com muita estranheza que encontro com muita frequência mails cujo remetente é um no-reply. Normalmente são mails que sou obrigada a receber, por parte de fornecedores de serviços. Não só, mas sobretudo. E é sempre com muita perplexidade que vejo o no-reply no remetente.
O que é que passa pela cabeça destas pessoas, destas equipas de comunicação, das consultoras que as servem, desperdiçar desta forma uma oportunidade de comunicação?
Para mim, isto é um erro colossal de comunicação empresarial. Num momento em que as marcas lutam por conseguir a atenção das pessoas, investem milhões em marketing e publicidade e descuram uma forma tão óbvia de potencial de contacto com os destinatários dos seus mails. Lá está, são empresas antigas, que ainda alinham pela comunicação unidirecional, em vez de avançarem até ao século XXI, compreendendo que a bidirecionalidade da comunicação é o futuro (enfim, para algumas empresas é já o presente).
E porque é que este post, que está para ser escrito há tanto tempo, é escrito hoje?
Porque a Galp me mandou um mail, com uma continha para pagar. Como habitualmente, o mail tem um anexo em PDF e, também como habitualmente, o remetente do mail é um no-reply.
E o anexo diz o seguinte:
Gostava muito de explicar à Galp que quem gerou o pdf se enganou, e usou uma fonte proprietária, sem que tenha identificado uma alternativa, o que faz com que qualquer pessoa que não tenha esta fonte instalada, não consiga ler o documento. Gostava de explicar, mas não consigo, porque o remetente desta mensagem é um no-reply.
E reparem, a Galp até quer muito que eu seja sua cliente em mais áreas do consumo energético do que apenas no gás, e passa a vida a dizer-me isso (de forma muito irritante e intrusiva, diga-se), em anúncios online. Mas este canal de comunicação, barato, óbvio e eficaz, não valoriza.
Há casos em que o no-reply pode fazer sentido. Mas na maioria dos casos em que é usado, não só não faz o menor sentido, como é um desperdício.
Há mais casos de mantras e lapalissadas que eu sempre julguei óbvias, mas que tenho descoberto que afinal não são tão óbvias como isso.
Dedicar-lhes-ei algum tempo, brevemente.