Eleições europeias - Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo
Não tenho visto grandes notícias sobre isto, mas a verdade é que eu não consumo muita comunicação social tradicional, e muito menos a televisiva mainstream, por isso, se calhar, estou a ser injusta.
O estado decidiu chamar-lhe desmaterialização dos cadernos eleitorais o que, para as pessoas normais, tem muito pouco significado. Já se sabe que o estado gosta de usar o complicómetro.
Na realidade, traduzindo livremente sem me preocupar com detalhes técnicos, nas próximas eleições europeias o voto vai ser tudo, em todo o lado, ao mesmo tempo, isto é, qualquer pessoa com direito ao voto vai poder votar em qualquer mesa de voto, independentemente da sua localização.
Pessoal que vai aproveitar o fim-de-semana grande para fazer umas mini férias, podem votar no sítio das férias (desde que haja uma mesa, se vão para o estrangeiro, informem-se). Prevê-se até uma afluência maior às mesas algarvias, por via dessas mesmas férias.
Tenho dúvidas. Não só isto não está a ter grande divulgação, como as pessoas se estão um bocado borrifando para as eleições europeias (que é onde se decidem de facto as coisas, enfim, vá-se lá entender as pessoas).
Desta vez não estarei nas mesas. Quis meter o nariz no processo técnico (que eu sou muito relutante em relação à digitalização da voto) e por isso vou ser TAI - Técnica de Apoio Informático.
Já fui à sessão de formação. Já identifiquei pontos de falha (é natural, é a primeira vez, está tudo a aprender como é que se faz), e estou muito curiosa em relação à questão tecnológica.
Não em Lisboa ou centros urbanos, mas na vila lá longe, por trás do sol posto, que não tem pauzinhos de acesso à rede, e sem acesso à internet, nos computadores da mesa, não há voto para ninguém.
Diferenças para quem vai votar:
Não vão ver as listas de nomes, nem têm de se dirigir a nenhuma mesa em particular. Vão à que tiver menos gente. (isto fará mais confusão ao pessoal que há 50 anos que vota na mesma assembleia, na mesma mesa).
A mesa terá dois computadores, no sítio onde antes estavam as escrutinadoras, com os cadernos eleitorais, que tinham de dar com o vosso nome, depois da presidente da mesa o ler em voz alta.
Nesses computadores haverá um leitor de chip, para identificar os cartões de cidadão (também funciona com os das cidadãs).
Para quem, como eu, não gosta de dar o cartão de cidadão, a identificação dos eleitores pode ser feita por pesquisa à base de dados, por número do documento, mostrado à presidente da mesa (ou à vice-presidente). A app id.gov.pt é aceite.
Depois é business as usual. Uma vez validada a pessoa, é-lhe entregue o boletim de voto, vai à cabine, vota, dobra o boletim, sai da cabine, entrega o boletim à presidente da mesa (ou à vice-presidente), recebe o documento de identificação (se o deixou), e segue o seu caminho, com a noção de dever cumprido (as únicas eleições em que são as pessoas a inserir o voto na urna é nas autárquicas, mas quando estou na mesa, deixo as pessoas colocarem o seu voto, se quiserem. Acho que tem um peso simbólico grande).
Uma nota final para o site da CNE, que deve ter sido feito algures nos início dos anos 90 e não esconde, não tem motor de pesquisa (sim, eu sei que posso usar o google para pesquisar num site específico, mas muita gente não sabe), não tem informação sobre esta desmaterialização e, em mobile, mostra um suspeito "not secure", para além de não ser responsive. Já tratavam disso, senhores. Dá ideia de que a única coisa que atualizam é o ano no rodapé "©2024 CNE - Comissão Nacional de Eleições" (eu sei que atualizam conteúdo, permitam-me a hipérbole).
Dia 9, tirem 5 minutos e deem (custa-me, não ter ali o ^) um pulo à assembleia de voto que vos der mais jeito, e votem.
Não custa nada e, se votarem bem, até faz bem à saúde. Vossa e dos outros.
Para quem tem dúvidas e quer aceder à informação oficial, é clicar aqui.