A minha família é melhor que a tua
A priberam diz-me que "família" é uma quantidade de coisas.
Curiosamente, em nenhum momento me diz que uma família é constituída por um par de adultos e um par de crianças. No entanto, essa parece ser a única definição que o estado aceita, pelo menos quando se refere ao acesso a sítios, museus, monumentos e património que se encontra sob a responsabilidade da Direcção Geral do Património Cultural.
Sim senhor, têm a indicação de que há descontos para famílias, aliás, como eles dizem "Estão também criadas condições de [...] promoção da visita familiar, entre outras gratuitidades e descontos.".
O problema é que, por exemplo, eu e o meu filho, que constituímos uma família, não podemos, nem nunca pudemos, usufruir destes descontos de família.
Na visão do estado, no que ao acesso à cultura diz respeito, família, é sempre constituída por dois adultos e duas crianças.
O resto são famílias de segunda. Não interessam. Descarte-se.
Alguém, em Agosto do ano passado, escreveu uma cartinha toda bonita à DGPC, expondo este tema e, inclusive, enviou os resultados do último census feito em território português, que demonstrava a diversidade das famílias e a sua representatividade.
A resposta foi dada no mesmo dia. Muito obrigada, vamos reencaminhar para o serviço competente (que não explicaram qual é) e até hoje, batatas.
A mesma pessoa contactou a Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG), dando conta da mensagem enviada à DGPC.
A CIG foi muito diligente e, no mesmo dia respondeu com um "informamos que a CIG solicitou a apreciação da sua questão aos Conselheiros Ministeriais para a Igualdade na área das Finanças e da Cultura, uma vez que o Despacho n.º 6473/2014, publicado no DR, 2.ª série, n.º 95, de 19/05/2014, na redação dada pelo Despacho n.º 5402/2017, publicado no DR, 2.ª série, n.º 118, de 21/06/2017, que fixa o desconto para o “bilhete família" é um despacho conjunto destes dois ministérios.". Resultado? Batatas.
Não me parece que isto seja um tema fracturante. Não me parece que isto seja subjectivo. Não me parece que haja dúvidas quanto ao que deve ser feito.
Aparentemente, os Conselheiros Ministeriais para a Igualdade na área das Finanças e da Cultura têm mais que fazer.
Aproveitem o fim-de-semana para visitar um museu, ou então não.