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Jonasnuts

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A crise do croquete

Jonasnuts, 18.06.24

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Tinha de ser, não é? A crise do momento. E como eu até percebo uma coisa ou outra sobre crises (dos vários lados das barricadas), vamos lá.

Uma das coisas que costumo dizer quando estou a dar formação sobre gestão de crises, é que a melhor forma de gerir uma crise, é evitá-la. Parece La Palisse, não é? Mas não.

E as crises evitam-se de várias formas.

Saber comunicar eficazmente, é uma forma de evitar crises.

Claramente, o Rock in Rio falhou neste capítulo, ao não comunicar eficazmente (ou ao não assegurar que os seus parceiros o faziam junto das respetivas equipas). Se o tivesse feito, nem a Sónia Tavares nem a Bárbara Guimarães teriam cometido o pecado capital de sonegar dois croquetes, um bocadinho de salada russa e uma imperial (o que, já agora, para menu de uma tenda VIP, deixa muito a desejar).

 

Ter a equipa ideal para cada função, é também uma forma de evitar crises.

Quem está a gerir uma tenda VIP tem de ter competências sociais, tem de ser bem educado, tem de ter a sensibilidade e o discernimento para saber que one size does not fit all, e tem de saber quem são as pessoas com quem está a falar. A situação descrita pela Sónia Tavares e pela Bárbara Guimarães é inadmissível independentemente da pessoa a quem tivesse acontecido mas, convenhamos, é mais grave do ponto de vista mediático, quando é uma pessoa com acesso a uma audiência senão massiva, pelo menos muito qualificada. Não reconhecer a Sónia Tavares nem a Bárbara Guimarães, quando se está à frente de uma tenda VIP,  é sinal de que não se tem as competências mínimas para desempenhar essas funções.

Mas, apesar de tudo, há crises que não se podem evitar. Vamos supor que esta é uma dessas, uma das inevitáveis (que não era).

Uma vez partilhada publicamente a situação, há que fazer o damage control (ou o spin, que é outra forma de damage control, mas que aqui não caberia). Para se fazer isto, é preciso ter um bom departamento de relações públicas que tenha gente com capacidade para saber que é preciso avaliar os dados e o potencial do estrago, têm de ser locais ou de conhecer as idiossincrasias da população. Quem são as pessoas envolvidas? Têm muita audiência? Têm acesso a muitos profissionais de comunicação? Têm capacidade de amplificar a crise? Têm amigos em lugares poderosos? Têm pelo na venta?

Erros toda a gente comete. Só não erra quem não faz nada. A forma como se gere esse erro, e como se lida com o falhanço é, muitas vezes, outra forma de mitigar uma crise. Já aconteceu, já não a podemos evitar, mas podemos de imediato cortar-lhe as pernas (ou as asas, como queiram) e impedi-la de escalar.

É sempre a minha segunda recomendação. Mitigar, mitigar, mitigar. Estancar a hemorragia. E fazê-lo de forma proporcional.

Neste caso, o Rock in Rio deveria ter, através da sua cara mais reconhecível, Roberta Medina, falado de imediato com as visadas, de preferência pessoalmente, ao vivo e a cores, pedir desculpas, explicar que se tinha tratado de um erro e que a pessoa em causa tinha sido recambiada para funções mais compatíveis com as suas competências. Deveria ter oferecido meia dúzia de pulseiras VIP a cada uma delas. E depois de o fazer em privado, deveria tê-lo feito em público, de forma categórica e rápida.

 

Mas não, a organização do Rock in Rio faz um comunicado muito frouxo, que refere a coisa de forma muito light alegando "excesso de rigor e falta de sensibilidade... ...no momento da abordagem a Sónia Tavares e Bárbara Guimarães, e apresenta um pedido de desculpas pelo desconforto..." Um comunicado da organização. Não assinado. Ora, este comunicado serviria se as pessoas em causa fossem o Zé das Iscas e a Tina das Batatas. Não serve para a Sónia Tavares e muito menos para a Bárbara Guimarães. Não foi proporcional.

Só muito mais tarde, demasiado tarde, quando já é impossível mitigar seja o que for, estancar sequer um arranhão, quanto mais uma hemorragia, Roberta Medina faz uma story, mencionando as duas ofendidas, dizendo que vão rever os procedimentos (provavelmente a questão da comunicação juntamente com mas competências das pessoas que gerem o espaço, de que falo ali em cima), justifica levemente a atitude com a "pressão de um evento desta dimensão" (e não o devia ter feito), e pede desculpas, num texto para o qual não teve qualquer assessoria de comunicação ou, se teve, pelo amor da santa, mudem de assessor.

Esta story de Roberta Medina, vá, mais bem escrita, poderia ter surtido efeito se tivesse sido partilhada imediatamente a seguir, e não no dia seguinte. Assim, too little, to late.

A fúria mediática e a máquina de produzir conteúdos com base na atualidade encarregar-se-á de chupar o osso até ao tutano. E bem, que se puseram a jeito.

A Joana Marques já lhe deu um tratamento exemplar, no seu "Extremamente Desagradável", no programa das manhãs da Rádio Renascença, que está no top 3 das audiências portuguesas e cuja responsável, a Ana Galvão, por acaso, até participa num programa da Sic Mulher com a Bárbara Guimarães e com a Pipoca  chamado, muito oportunamente, "Temos de falar"(aquela coisa do "Têm acesso a muitos profissionais de comunicação? Têm capacidade de amplificar a crise? Têm amigos em lugares poderosos?" amplamente respondida).

O Lidl já tratou de capitalizar, bem e com piada, reagindo até antes da organização ter pedido desculpas. A equipa de comunicação do Lidl a ler a coisa muito melhor e mais rapidamente que a equipa de comunicação do Rock in Rio.

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O Licor Beirão, a mesma coisa (embora mais tarde).

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Aguardemos pela Control, que costuma apanhar estas boleias com muita piada.

Os memes estão ao rubro, partilhados no Instagram, no Twitter, no Facebook, no TikTok.

O Rock in Rio não pode agora fazer mais nada. É esperar que morra. O mais que pode fazer é evitar a próxima, lá está, seguindo as minhas recomendações ali de cima. Aprender com o que aconteceu. O que já não é mau (conheço mais do que um caso em que não aprenderam absolutamente nada e ainda se armaram em vítimas da sociedade woke - " também pá, já não se pode fazer nada").

Mesmo assim, acho que o Rock in Rio acaba por ter alguma sorte. Podia ter sido pior.

Podia a senhora que expulsou a Sónia Tavares e a Bárbara Guimarães ter estado de turno quando a Pipoca se afiambrou às gomas. E se tem tocado esta rifa à Pipoca, a coisa teria piado substancialmente mais fino. Lá está, aquela coisa do pelo na venta.

Numa próxima oportunidade, olhem..... contratem-me.

Mas antes, que eu prefiro (ensinar a) evitar crises, a geri-las.