Abracemo-nos, portanto
Hoje acordei com esta atravessada.
A falta que sinto dos abraços.
O abraço é o gesto universal do amor, da paixão, do carinho, da ternura, do aconchego. É o colo sem braços, é o beijo sem boca, é o sexo sem cópula. É maternal, é fraternal, é sexual e é visceral.
É uma dança ritmada. Marca o ritmo. Eu acompanho. É diverso e poderoso para acomodar tudo e todos.
Quando gostamos mesmo de alguém, queremos o seu abraço e queremos abraçá-lo.
Não é desde sempre, que tenho esta noção. Ou melhor, é desde sempre que tenho esta noção, mas não o seu usufruto. Nunca fui de grandes abraços.
Tenho alguns abraços no meu currículo, que tenho, mas, por exemplo, o meu melhor abraço, o que está em primeiro lugar destacadíssimo no top de todos os meus abraços memoráveis, é um abraço que vivi do lado de fora. E tenho tantas saudades desse abraço.
Temos também os abraços irrepetíveis, porque a vida é feita de irreversibilidades. São os que custam mais, naturalmente. É difícil não ter saudades do que se teve e que já não se pode ter.
E, neste momento, claro, os abraços que gostaríamos de dar e não podemos, por uma razão ou por outra. Há mais do que uma razão. Esquisito, estranho, contraditório, que um gesto de amor possa também ser um princípio de um fim.
Estes abraços que andamos a acumular, alguns desde março, alguns desde muito antes, e que estão ali, pendentes, a pesar-nos cada vez mais nos braços. Cada vez mais amontoados. Cada vez mais urgentes. Cada vez mais prementes.
Dei alguns abraços, mesmo assim. O desgraçado do puto é o destinatário de todos os abraços que já não consigo deixar de dar. Tem-se portado muito bem. Suspeito até de que gosta um bocadinho.
Também há os abraços virtuais, claro. Não sendo a mesma coisa, que não são, podem ser, mesmo assim, muito aconchegantes e transmitir exatamente aquilo que se pretende. Fica a faltar o calor, a força, o toque, a urgência, mas o sentimento está todo lá. Tenho recebido alguns. Ficam ali a meio caminho entre os que estão na fila dos pendentes e os que demos de facto.
Ando a acumular abraços na lista dos pendentes há muito, muito tempo.
Quando tudo isto terminar, e o meu isto é mais do que o isto que nos toca a todos neste momento, acho serei muito mais abraçadora.
Tenho muita escrita para pôr em dia. Muito abraço em atraso. Muito abraço atravessado.
E isto não é um post "dá-me um abraço", é um post "encosta-te a mim".
Abracemo-nos, portanto.