Periferias
As periferias são, habitualmente, mal estimadas, mal amadas, desvalorizadas e, quem vem das periferias tem de levar com um habitual preconceito de quem não as habita.
Eu própria já sofri desse mal, confesso. Curei-me. A idade abriu-me os olhos. Mas isso agora não interessa para nada.
Porque eu cheguei à conclusão, e não foi hoje, até já escrevi sobre isso, algures neste espaço (adoro dizer "neste espaço" como se isto fosse uma coisa em grande), ia eu na conclusão a que cheguei; nós vivemos numa enorme periferia. Essa é que é essa.
Se no passado escrevi sobre sermos periféricos sob o ponto de vista tecnológico, hoje escrevo sob o ponto de vista culinário.
A modos que ando interessada cá nuns temas que envolvem uns doces, que se fazem, e que são muito bons (dizem, eu ainda não consegui lá chegar), e vai de comprar um livro. Duma americana. O livro é muito bonito, e coiso e tal, mas, para já, vem tudo naquelas medidas esquizitóides que eles usam em terras de Tio Sam, abençoado conversor do Mac, mas, mais grave, 99% dos ingredientes não existem por cá.
Portanto.... se eu quiser fazer aquilo, tenho de me deslocar aos states já que, encomendar alimentos online, vindos de fora da Europa, não tem sido uma possibilidade. Hoje passei em 2 lojas da especialidade, em Lisboa e, meus senhores...... que pobreza franciscana. Meia dúzia de frasquinhos de confetti (e quando eu digo meia dúzia, não é figura de estilo), uns moldes, uns cutters, umas bases, MUITA pasta de açúcar, muita coisa esgotada. Isto tudo em menos de 10m2.
E eu penso, que gostava de ter uma loja assim:
Mas depois percebo que, em Portugal, não há massa crítica (portanto, potenciais clientes) para que uma loja destas funcione e tenha lucro.
Se, do ponto de vista tecnológico eu disse que "somos penalizados por vivermos nos subúrbios da acção, na periferia da informação, na trafaria dos happenings." do ponto de vista culinário digo que somos penalizados porque vivemos nos subúrbios da acção, na periferia do açúcar, na trafaria dos buttercream frostings.