Reuniões de pais
Ao princípio andamos todos às aranhas. Tirando as educadoras, cada um parece ter uma ideia muito própria acerca do que é suposto debater-se numa reunião de pais.
Depois, com a prática e o andar dos anos, habituamo-nos a reconhecer os que nunca falam, os que nunca vão, os que acham que sabem tudo, os que adoram falar dos feitos das criancinhas, os poemas que fazem aos 5 anos, os futuros músicos, engenheiros, as tendências de génio que os infantes já demonstram, em tão tenra idade, as conquistas, etc.
Com a prática aprendemos a catalogá-los, e eles a nós, provavelmente. É uma espécie de reunião de condomínio, mas com pessoas que não são nossas vizinhas.
No entanto, apesar de tantos anos que levo de reuniões de pais, confesso que continuo a conseguir surpreender-me com algumas avestruzes.
Estamos no século XXI e o grupo dos graxistas ainda existe. Os que tratam a professora por "seutora", os que dão os parabéns no final da reunião, pelo sucesso da mesma, tentando usar palavras mais caras do que o que têm para gastar. São, provavelmente, netos do puto que levava invariavelmente uma maçã para oferecer à senhora professora. Palavra que não entendo.
Mas hoje, pela primeira vez em quase 12 anos que levo de reuniões de pais, um interveniente levantou uma questão original.
Simulacros e instruções de conduta para situações de emergência. Fogos, sismos, pensarão vocês, como eu pensei.
Mas não. Aparente e adicionalmente o senhor referia-se a alunos armados de espingardas, à solta nas instalações, matando tudo e todos e depois eles próprios. Uma coisa assim como Columbine, mas num bairro de Lisboa.
Não sei o que é que me divertiu mais, se a questão colocada pelo progenitor, se a cara de espanto dos outros presentes, se a aflição da directora de turma que estava a levar a coisa.
Enfim, é o início de um novo ciclo que, pelo teor da reunião me parece auspicioso e, acima de tudo, muito divertido.