O acórdão da Palmada
Jonasnuts, 13.04.06
TSF, ontem de manhã, "Acórdão do Supremo Tribula de Justiça aplaude e recomenda palmadas e estaladas como atitudes pedagogicamente recomendáveis, por parte dos bons pais de família".
Dito assim, chocou-me, obviamente. O desenvolvimento da notícia, persistia na tónica, e nesta altura do campeonato já toda a gente ouviu falar deste caso, mas para os que andam mais distraídos, têm informações aqui aqui e aqui.
Primeiro fui ler o acórdão e mais informação adicional, e apesar de conseguir excluir todo o sensacionalismo da nossa comunicação social, continua a chocar-me o caso, aliás, agora que conheço um pouco melhor os detalhes, choca-me ainda mais, a saber:
1 - Que uma pessoa (a agressora) cuja instrução não ultrapassa a 4ª classe, tivesse a seu cargo 15 crianças deficientes, num trabalho que implicava um esforço de 15h por dia.
2 - Que, conhecendo à partida todas as limitações expostas no ponto anterior, a gestão/coordenação pedagógica/comissão de acompanhamento/psicóloga etc. sobrecarregasse esta funcionária com responsabilidades que estavam, visivelmente, muito além das suas competências e capacidades.
A responsabilidade não é da agressora, agrediu porque foi assim que foi educada, por achar que estava a fazer bem, e porque estava cansada. A responsabilidade é de quem lhe atribuiu funções e responsabilidades, não tendo em conta as suas competências e possibilidades.
A responsabilidade foi de quem não acompanhou, foi de quem não auditou o processo.
Quanto ao acórdão propriamente dito, e transcrevo aqui a parte que pretendo comentar:
Dito assim, chocou-me, obviamente. O desenvolvimento da notícia, persistia na tónica, e nesta altura do campeonato já toda a gente ouviu falar deste caso, mas para os que andam mais distraídos, têm informações aqui aqui e aqui.
Primeiro fui ler o acórdão e mais informação adicional, e apesar de conseguir excluir todo o sensacionalismo da nossa comunicação social, continua a chocar-me o caso, aliás, agora que conheço um pouco melhor os detalhes, choca-me ainda mais, a saber:
1 - Que uma pessoa (a agressora) cuja instrução não ultrapassa a 4ª classe, tivesse a seu cargo 15 crianças deficientes, num trabalho que implicava um esforço de 15h por dia.
2 - Que, conhecendo à partida todas as limitações expostas no ponto anterior, a gestão/coordenação pedagógica/comissão de acompanhamento/psicóloga etc. sobrecarregasse esta funcionária com responsabilidades que estavam, visivelmente, muito além das suas competências e capacidades.
A responsabilidade não é da agressora, agrediu porque foi assim que foi educada, por achar que estava a fazer bem, e porque estava cansada. A responsabilidade é de quem lhe atribuiu funções e responsabilidades, não tendo em conta as suas competências e possibilidades.
A responsabilidade foi de quem não acompanhou, foi de quem não auditou o processo.
Quanto ao acórdão propriamente dito, e transcrevo aqui a parte que pretendo comentar:
"Qual é o bom pai de família que, por uma ou duas vezes, não dá palmadas no rabo dum filho que se recusa ir para a escola, que não dá uma bofetada a um filho que lhe atira com uma faca ou que não manda um filho de castigo para o quarto quando ele não quer comer?
Quanto às duas primeiras, pode-se mesmo dizer que a abstenção do educador constituiria, ela sim, um negligenciar educativo. "
O Tribunal acha que a atitudes de violência se deve responder com violência. Acha que a mensagem que se transmite a uma criança ao puni-la fisicamente é pedagogicamente correcta. Portanto, se o meu filho me levantar a mão e me der uma palmada, o que eu devo fazer é dar-lhe de imediato um estado ou uma palmada, para ele ver que é feio dar estalos e palmadas.
(E sim, eu já dei palmadas ao meu filho - e não gosto - e quando acontece é sempre uma reacção a quente, nunca é premeditado).
Por último, e tentando transferir a situação para a minha vida..... eu que soubesse que alguém (com a 4ª classe ou com licenciatura mestrado e doutoramento) tinha tocado com um dedo no meu filho (sim, independentemente do que ele tivesse feito), e havia de ser bonito.
Fica o Supremo Tribunal de Justiça com a responsabilidade moral (têm) de todas as estaladas, palmadas e castigos que legitimaram.