Computadores públicos, vícios privados
O título do post pode ser enganador.
Isto por causa da cena hoje, na Assembleia da República, em que alguns deputados se chatearam com os fotógrafos que invadem a sua privacidade (conseguindo fotografar o ecrã do computador que ali têm disponível) e o presidente da Assembleia da República a explicar-lhes que a AR é um espaço público e que os computadores não são privados. A notícia, aqui.
Cá para mim o Jaime Gama é um infoexcluído. A questão não é o instrumento, é o que se faz com ele (sim, também se aplica aqui, esta máxima). Se o deputado estiver a consultar a sua conta bancária, são dados privados. Se estiver a ver o mail, são dados privados, se estiver a inserir passwords, são dados privados. O computador pode ser um bem público, mas o que se faz com ele pode (e muitas vezes deve) ser privado.
E não me venham com a treta do "se está no hemiciclo só pode fazer coisas relacionadas com o que está a ser debatido, quer consultar a conta bancária, que consulte a partir de casa", vivemos nuns tempos em que cada vez mais o horário de expediente deixa de existir, e o social, o profissional, o familiar se entrecruzam. Já não há horas marcadas para as coisas, os telemóveis e a internet trouxeram-nos, também, isso.
Aquela coisa de ter um emprego toda a vida, entrar à mesma hora, ir almoçar a casa, regressar e sair a horas certas, já não existe. Com o telemóvel e a internet (e agora, com ambos) estamos disponíveis sempre que tenhamos o telemóvel ligado. Ou achariam bem que um jornalista ligasse a um deputado para lhe fazer uma pergunta e deputado respondesse, lamento imenso mas são 18h05 e já não estou a ser deputado a esta hora. Cairia o Carmo e a Trindade. E com razão.
Decidam-se. Não podem ter sol na eira e chuva no nabal.