Droguem-nos
Qualquer mãe ou pai sabe que, quando tem um filho, empenha durante muitos anos as suas horas de descanso. E se não sabe, descobre-o rapidamente.
Faz parte do kit.
Pessoalmente não me posso queixar muito (nem muito nem pouco, não me posso queixar nada), mas conheço muitos casos em que, principalmente os primeiros anos são caóticos.
Com o correr do tempo, as coisas tendem a normalizar um bocadinho, mas há quem fuja ao padrão. Num blog que leio, uma mãe queixava-se de que a sua criança, que já não é um bebé, sofre de crises de ansiedade quando chega a hora de dormir e durante o sono. Acorda imensas vezes, aflita, quer dormir de luz acesa, quer a companhia de alguém. A mãe está desesperada, claro. Pressenti que o desespero se prendia mais com o bem-estar da criança do que com as suas horas de descanso, sugeri a consulta um bom pedo-psicólogo que ajudasse a encontrar a raiz do problema, e que ajudasse (mãe e criança) a ultrapassá-lo.
Os dois outros comentários ao post em questão dão nomes de medicamentos para adormecer a criança.
Estou certa de que são comentários bem intencionados (tal como o meu é), e claro que cada um sabe de si, mas se uma criança tem problemas de ansiedade, a solução é dar-lhe medicamentos? Anestesiá-la? Não é isso o mesmo que dizer-lhe: olha, não temos de resolver o teu problema, nem de pedir ajuda a um médico, porque há aqui um remédio que trata disso? Tomas um xarope, e a coisa passa.
Não é a mensagem errada?
Não sou anti medicamentos, mas acho que devem ser usados com muita parcimónia, e sempre como recurso extremo. O puto tem febre? Deixa ver como é que evolui. Deixa ver como é que o corpo responde. Vamos deixar que o organismo aprenda a reagir. Controlando. Passa dos 38.5? Anti pirético. Se aos 37 começamos a dar remédios, o corpo não desaprende?
Tenho-me dado bem com este sistema e a verdade é que falo de barriga cheia, tenho um filho absolutamente saudável, na volta estou a cuspir para o ar, mas esta coisa de encher as criancinhas de medicamentos por dá cá aquela palha, tratando os sintomas e não as verdadeiras causas dos problemas, a mim, faz-me comichão.
Sim, já sei, se está com comichões, toma um anti-histamínico.