Nivelar por baixo
Nivelamos sempre por baixo. Adaptamo-nos ao que nos rodeia, descemos o nível. É mau, é triste, mas é verdade.
Este ano, durante as minhas férias, estivemos num sitio com piscina. As regras da piscina dizem que não se podem reservar cadeiras. Tansos, cumprimos. Quando chegámos à piscina, a hora perfeitamente aceitável (ainda não eram 10 da manhã) tudo ocupado com toalhinhas. Ficámos separados, reclamámos e pronto. No segundo dia, mais tansos ainda, repetimos a dose. O resultado foi obviamente o mesmo.
Ao terceiro dia, acordámos. Acordámos para a vida e acordámos mais cedo, e fomos pôr as toalhinhas nas cadeiras que queríamos. Às 8 da manhã, não havia ninguém na piscina, mas já havia imensas espreguiçadeiras reservadas. Passámos a reservar os nossos lugares todos os dias, mesmo que não fôssemos à piscina. Pelo sim pelo não, lá ficavam as toalhas a reservar o espaço. Nivelámos por baixo.
O nivelamento por baixo só não funciona quando colidem com os nossos princípios. Voltando à piscina. Tem um chuveiro, para que as pessoas possam tomar banho antes de entrarem na piscina. Em 15 dias que lá estive não vi UMA alminha a tomar duche antes de entrar na piscina (excepção feita às pessoas que constituem a minha família). De manhã, a água da piscina estava impecável, ao final do dia, um nojo.
Nivelamos por baixo, até um certo ponto. E é pena, porque o baixo, é muito baixo. E devíamos todos tentar nivelar por cima. Mas ninguém gosta de ser vítima dos chicos-espertos (que estão obviamente no nível mais baixo), e por isso engrenamos na coisa, e tornamo-nos ainda mais chico-espertos que os outros (porque somos menos chicos, mas mais espertos), e isto cria uma pescadinha de rabo na boca.
É uma merda, mas o caso da piscina, não sendo uma metáfora, podia ser. O que há mais para aí são piscinas, com regras que ninguém cumpre, e onde a água é um nojo, logo de manhãzinha.