Os cornos do ministro Pinho
Isto não é, já se sabe, um blog político ou de política. Aliás, apesar de ter tido uma infância e uma juventude altamente politizadas (como qualquer português nascido na geração de 60), tenho-me vindo a afastar cada vez mais da política. Não falho umas eleições. Desde que tenho idade para votar, vou a todas, exerço o meu direito, mas ultimamente tenho votado em ninguém.
Quem me lê sabe também que não sou de floreados e formalismos. Gosto de ir directa ao assunto, perco pouco em discursos de ocasião. Bullshit não faz o meu estilo.
E a Assembleia da República faz-me confusão. Não é de agora. Ver aquela gente toda a usar um vocabulário que as pessoas normais não percebem. A brincar às políticas, a esgrimir argumentos que, vê-se logo, não se aguentavam numa discussão entre amigos. Mas usam os floreados todos. Vossa excelência para cá, vossa excelência para, senhor Ministro por quem sois. Nos corredores é pá para cá e pá para lá, são amigalhaços, mas ali, e em público, põem o verniz. Distanciam-se das pessoas normais. Que os elegeram.
Já há uns tempos caiu o Carmo e a Trindade porque um deputado disse entre dentes algo que soou a um palavrão. Ó meu Deus.
Hoje parece que é o fim do mundo porque um Ministro mimou uns cornos.
Escandalizam-se com pouco, as hostes. E pelas razões erradas.
Pessoalmente, não quero saber do vocabulário que usam, ou dos gestos que fazem.
Na verdade acho mais escandalosas as ajudas de custo, os horários principescos, os motoristas e demais mordomias, as reformas milionárias e a convicção de que serão muito poucos os que estarão ali pelo sentido cívico da coisa, e muitos os que estão ali por causa do tacho.
Se se preocupassem com o acessório da linguagem porque o essencial dos actos estava a um nível superior, eu entendia.
Mas a verdade é que este tipo de linguagem e gestos estão ao nível do resto.
Sinceramente, não entendo o espanto.