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Jonasnuts

Jonasnuts

Caro Tó Zé Brito

Jonasnuts, 06.03.09

Tenho por si um carinho especial, uma vez que faz parte das minhas memórias de infância, primeiro com a abelha maia e mais tarde com a participação no festival da canção, no tempo em que o festival da canção era relevante. Daí esta minha cartinha.

 

Escrevo-lhe porque através da comunicação social tive acesso a umas declarações que prestou, no âmbito do workshop A Indústria da Música em Portugal. E uma vez que a sua área é a música, não entendo porque é que optou por um discurso eminentemente tecnológico, que não é o seu mister. O seu mister é a música e a forma como ela chega aos seus clientes. Presumo que enquanto intermediário entre o artista e o consumidor tenha o difícil trabalho de agradar a 2 clientes, os artistas e quem consome a música, mas em última análise, quem paga as continhas, é quem compra a música. Nesse sentido, tenho visto a indústria a que pertence a tratar muito mal a sua clientela. Seja através dos preços ridículos que cobra, quer pelo facto de tratar como ladrões todos aqueles que são (eram) os seus clientes.

 

Veja o meu caso. Há anos que não compro um CD. E nem é só pela questão do dinheiro. Os últimos CDs que comprei, não os consegui ouvir nos vários equipamentos de que disponho. Ora se eu compro um CD, é para eu ouvir quando quiser, onde quiser, como quiser, e não é o revendedor que deve decidir isso por mim.

 

Não me admiro muito com os números que partilhou connosco, onde refere que no espaço de 6 ou 7 anos as vendas de discos e DVDs que atingiam os 100 milhões de euros/ano caíram para metade. O que faltou dizer foi que muitas das pessoas que deixaram de comprar CDs passaram a adquirir os mesmo conteúdos, legalmente, sem recorrer ao suporte físico do CD ou DVD. Mais, tendo em conta a forma paupérrima das edições portuguesas dos DVDs, inclua também as pessoas que, como eu, passaram a comprar as edições estrangeiras, via Amazon (ou outra).

 

Não queiram pôr os fornecedores do acesso à Internet a fazerem o push do vosso negócio. Os ISPs não sabem, de facto, o que é que são downloads ilegais (quem determina a legalidade ou ilegalidade são os tribunais, não são ISPs).

 

Não queira transformar os ISPs em polícias da Internet, porque não é essa a sua competência. Ou vai pedir aos fabricantes de automóveis que reportem à polícia todos os veículos que circulem acima da velocidade legal? Ou vai pedir à indústria farmacêutica para reportar os casos em que o consumo de um determinado fármaco ultrapassou o receitado pelo médico?

 

Não peça aos outros para fazerem o trabalhinho sujo. O problema foi criado pela indústria, e pela forma arrogante e prepotente como andou a tratar as pessoas durante anos. Há formas inteligentes (e lucrativas) de resolver o problema a gosto de todos. Se calhar a indústria intermediária não vai ter os mesmo lucros milionários, é um facto, mas ainda será um negócio lucrativo e interessante.

 

A prisão da tal meia dúzia de pessoas, que é a sua recomendação, é palerma, desculpe-me a frontalidade. Por duas razões. Porque para substituir essa meia dúzia aparecerão 2 dúzias, e porque essa meia dúzia são potenciais grandes clientes seus. Quer mesmo que os telejornais abram com as imagens da Judiciária a prender meia dúzia de adolescentes com um ar imberbe e inofensivo, em nome da indústria discográfica? Eu, se estivesse no seu lugar, não quereria.

 

É que nem sequer é esse o caminho. A sério.

 

Sabe, é que não é com vinagre que se caçam as moscas.

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