Ensaio sobre a surdez
Viajar com crianças, a partir de uma certa idade, deixa de ser fácil. Ao princípio é fácil, na maior parte dos casos o ronronar do motor e o balanço da estrada embala-os, e é raro não adormecerem. À medida que vão crescendo, passam a estar mais atentos, e quando crescem um bocadinho mais, passa-lhes a atenção e chega a impaciência. É aí por volta dos 7 ou 8 anos. Quando é que chegamos? Ainda falta muito? Quanto tempo é que falta? Repetindo esta frase até à exaustão, de 10 em 10 segundos.
Se são dois (como é o caso), brincam. Onomatopaicamente. Ruidosamente.
Foi o caso, ontem.
Nós, os da frente, fartamo-nos das onomatopeias. Ontem adoptámos uma nova estratégia. Quanto mais altas as onomatopeias (de explosões, de movimentos de karaté, de mortos e feridos), mais nós subíamos o volume da música.
Não sei quem é que ganhou a competição, mas chegámos todos ao destino um pouco surdos.