Este post vai ser ligeiramente comprido e aviso já que nada do que aqui falarei é invenção. Acontece, hoje mesmo, a todas as horas, em cidades portuguesas, e as vítimas e respectivos familiares nem dão por ela.
Então funciona assim: alguém, que diz ser olheiro duma agência de modelos que representa a conhecida modelo A e a actriz de novelas B, aborda uma adolescente num bar, numa sexta-feira ao início da noite. Diz-lhe quem é, e vai de passar o cartão para a mão da miúda, e diz o que qualquer miúda desta idade quer ouvir: acho que tens um óptimo potencial para ser modelo fotográfico e, quem sabe, até entrar numa novela, que eles estão sempre à procura de caras novas e bonitas.
Qualquer adolescente quer ouvir isto, e mais, quer acreditar que é verdade. Numa altura da vida em que tudo tem a ver com afirmação e confirmação, e em que aparecer numa revista é o top of the pops, aparecer um "especialista" a dizer aquilo com que secretamente sonham deve ser o equivalente a ganhar o totoloto, mas em bom. Não interessa muito se a miúda é extraordinariamente bonita e com as medidas certas para a indústria. Aliás, isso é o menos.
As miúdas vão para casa e contam aos pais, e que é tudo muito sério, e que há uma entrevista, mas que a especialista disse que ela tinha imenso potencial, e ela tem imensa vontade de fazer aquilo, que sempre foi o sonho da sua vida. E já se vê nas capas das revistas, ou no genérico duma novela juvenil da TVI.
Os pais têm 3 hipóteses. Cheira-me que a mais comum é ficarem, eles próprios, lisonjeados. Afinal de contas trata-se duma terceira pessoa a confirmar aquilo que eles sabiam desde sempre, a sua filha é a mais linda do mundo (a não ser que tenha irmãs, nesse caso é ex aequo), e vão atrás, eles próprios, da ilusão.
A 2ª opção é ir à cautela, vamos lá ver quem são os senhores e o que é que querem e que história é que eles contam, e logo se vê. Claro que estes não têm qualquer hipótese de fazer marcha atrás, porque uma vez aberta a porta dos sonhos da miúda, vai ser impossível fechá-la.
E depois há os raros que percebem logo o esquema desde o início e tentam explicar à miúda que a "especialista" não é especialista porra nenhuma, que é um mero engodo para a lista de compras de serviços que terão de ser adquiridos à tal da agência.
Porque, caso não saibam, depois daquela primeira conversa há a tal da entrevista com uma especialista ainda mais especialista, que só falta dizer que a miúda é a reincarnação da Claudia Schiffer se esta já tivesse morrido. E a fotogenia, e o brilho, e o cabelo, e tudo o que lhes passar pela cabeça, e que recomendam que se faça uma sessão fotográfica com "profissionais" (paga pela miúda, claro). Mais o book (pago pela miúda, obviamente), mais o curso de passerelle dado pela starlete da moda (pago), e o curso de representação, enfim, estão a ver onde é que isto vai dar, certo?
As miúdas empenham as mesadas até ao ano de 2043, os pais financiam a coisa e chegam-se à frente com o €€€, e lá vão elas fazer cursos da treta, e ficam com um book "profissional", que nada mais é do que um álbum de fotografias pesudo-profissionais.
E aí andam eles, nas nights das cidades portuguesas (sim, não julguem que é só em Lisboa), a fazer algo completamente legal (?), no fundo "apenas" vendem um serviço, mas a forma como o fazem é desonesta, imoral, oportunista e devia ser proibida.
Uma pesquisa nos Blogs do SAPO encontraram vários resultados, dos quais destaco este exemplo, não só pelo post, mas também pelos comentários que ali foram deixados.
E não se pode fazer nada? As agências a sério, que as há, fazem o mesmo e está tudo entregue à bicharada, ou há ainda gente séria a trabalhar na indústria da moda, e da representação de modelos e actores, em Portugal?
E se fossem brincar com as vossas filhas e deixassem em paz as filhas dos outros?