Este "estudo" (que se trata na realidade de um apontamente com muito de opinativo e de experiência pessoal) feito por um estagiário adolescente do banco norte americano, Morgan Stanley, há-de chegar à nossa comunicação social (se é que não chegou ainda), e há-de fazer furor.
Os títulos oscilarão entre o conservador "os hábitos de consumo de média (ou mídia, como parece estar na moda) dos teenagers" e o mais arrojado "A morte anunciada dos meios de comunicação social tradicionais, às mãos dos adolescentes".
E vão empolar uma experiência pessoal de um puto inglês de 15 anos, a estagiar nos Estados Unidos, e vão extrapolar para o universo português, claro.
E vão achar que os putos são todos iguais. Os amigos do Matthew, todos os adolescentes americanos, e os portugueses.
E não vão parar para pensar. E não vão tentar lembrar-se das vezes que já ouviram aquilo que ali está escrito, contado por qualquer pai mais ou menos atento de crianças e adolescentes.
E eu vou, de novo, revirar os olhos. E afastar-me, ainda mais, da comunicação social tradicional. Alienam 2 públicos ao mesmo tempo.
Desde sempre que oiço os estudantes universitários, aliás a comunidade académica em geral, a louvar o ambiente académico doutros países. Inglaterra, Estados Unidos, até Espanha. Porque os professores não são peneirentos, porque não sobem para um pedestal, porque são acessíveis e estão disponíveis para satisfazer dúvidas, debater argumentos. O exemplo mais frequente é o "caramba, até os tratamos pelo primeiro nome, e não há cá senhor doutor, ou senhor professor ou senhor engenheiro".
Foi sempre com imenso agrado que ouvia pessoas da minha geração com este discurso. Pensei que era sintomático, e que o síndrome do senhor doutor atribuído a qualquer idiota que completasse uma licenciatura, tão tristemente português, estava a ver os seus últimos dias.
Mas, a verdade, é que essa geração licenciou-se (cá dentro, lá fora, não interessa), e o hábito do senhor doutor persiste, na realidade, está cada vez mais forte.
Encontro-os todos os dias, nas lojas, em reuniões, nas recepções, nos consultórios. Continua ostensivo, continua até a provocar a dose de respeito que se espera.
Mesmo as pessoas que mais veementemente repudiam a coisa, às vezes, é mais forte que elas, e quando dá jeito, lá deixam sair o doutor, assim como quem não quer a coisa.
Eu? Eu sou mais criativa. E o meu método é mais eficaz. Mais impacto que uma licenciatura tem um nome sonante. Uso vários, consoante o contexto.
Um prefixo académico pode dar jeito, mas se acharem que eu sou familiar da pessoa A ou da pessoa B, obtenho mais e melhores resultados. E mais rapidamente.
Não, não perdi o mau-feitio, ando só a canalizá-lo noutras direcções.
Gostava de saber se uma pessoa que tem gripe H1N1 fica imunizada ou se pode voltar a adoecer.
E assim de repente, de vagamente interessante foi só o que surgiu, para além de ter chegado à conclusão que eu dava uma belíssima condutora de ambulâncias, mas uma péssima pendura de ambulâncias. O que é que isto tem a ver com o que escrevi antes? Nada. Mas é verdade.
Isto não é, já se sabe, um blog político ou de política. Aliás, apesar de ter tido uma infância e uma juventude altamente politizadas (como qualquer português nascido na geração de 60), tenho-me vindo a afastar cada vez mais da política. Não falho umas eleições. Desde que tenho idade para votar, vou a todas, exerço o meu direito, mas ultimamente tenho votado em ninguém.
Quem me lê sabe também que não sou de floreados e formalismos. Gosto de ir directa ao assunto, perco pouco em discursos de ocasião. Bullshit não faz o meu estilo.
E a Assembleia da República faz-me confusão. Não é de agora. Ver aquela gente toda a usar um vocabulário que as pessoas normais não percebem. A brincar às políticas, a esgrimir argumentos que, vê-se logo, não se aguentavam numa discussão entre amigos. Mas usam os floreados todos. Vossa excelência para cá, vossa excelência para, senhor Ministro por quem sois. Nos corredores é pá para cá e pá para lá, são amigalhaços, mas ali, e em público, põem o verniz. Distanciam-se das pessoas normais. Que os elegeram.
Já há uns tempos caiu o Carmo e a Trindade porque um deputado disse entre dentes algo que soou a um palavrão. Ó meu Deus.
Hoje parece que é o fim do mundo porque um Ministro mimou uns cornos.
Escandalizam-se com pouco, as hostes. E pelas razões erradas.
Pessoalmente, não quero saber do vocabulário que usam, ou dos gestos que fazem.
Na verdade acho mais escandalosas as ajudas de custo, os horários principescos, os motoristas e demais mordomias, as reformas milionárias e a convicção de que serão muito poucos os que estarão ali pelo sentido cívico da coisa, e muitos os que estão ali por causa do tacho.
Se se preocupassem com o acessório da linguagem porque o essencial dos actos estava a um nível superior, eu entendia.
Mas a verdade é que este tipo de linguagem e gestos estão ao nível do resto.