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Jonasnuts

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O Casino Patriarca

Jonasnuts, 14.01.09

Anda aí tudo aos pulos, com as declarações que o Cardeal Patriarca de Lisboa fez no Casino da Figueira da Foz. Com alguma razão, diga-se. Mas, eu por acaso sei, quem é que está contentíssimo com a polémica. O dono do casino da Figueira deve estar exultante.

 

A coisa conta-se em poucas linhas. A Figueira da Foz é o Algarve do Norte. Estância de banhos de Coimbra, por exemplo. Não é que não seja uma cidade fantástica, e não tenha habitantes fabulosos (eu por acaso até conheço 4 deles, pessoalmente). Mas não tem uma dimensão muito grande. Rentabilizar um casino, em época baixa, não deve ser fácil. Na tentativa de dinamizar a actividade de época baixa do casino, o seu dono (ou responsável, who cares), lançou há cerca de um ano estas tertúlias.

 

Em Lisboa não se dá muito por elas, mas em Coimbra, por exemplo, são anunciadas em campanhas publicitárias de mupis e cartazes.

 

Não sei se têm tido sucesso ou não, mas tive oportunidade de estar presente num dos momentos iniciais de planeamento/discussão desta estratégia do Casino, e o objectivo era, claramente, promover a marca, e colocar o Casino na ordem do dia.

 

Até agora, nenhum dos convidados tinha sido suficientemente polémico nas suas declarações para que a coisa ganhasse alguma proporção, e nem sequer sei se a operação tem levado mais gente ao Casino, mas ontem foi diferente. Não sei se o Cardeal Patriarca é amigo do dono do Casino da Figueira, mas se não é, parece.

 

Pela primeira vez foram alcançados os objectivos, e já ouvi falar mais do Casino da Figueira esta manhã do que no resto da minha vida.

 

Claro que amanhã ou depois o Cardeal (ou o patriarcado) emitirá um comunicado explicando que não era bem aquilo, que estava descontextualizado, que a imprensa exagerou, que foi mal interpretado. Pode até pedir desculpas, a bem do bom relacionamento entre Igrejas (e a bem  do seu próprio cu, que quem o tem, tem medo), e fica a coisa mais ou menos como dantes.

 

Menos para o Casino. O Casino fica melhor.

As libelinhas do Bordalo

Jonasnuts, 14.01.09

Gosto de libelinhas. Não sei porquê, mas gosto.

 

No Natal em casa da minha Tia Helena, soube que a Fábrica Bordalo Pinheiro tinha um serviço completamente inspirado em libelinhas e até salivei. Também há com galos, e com borboletas e etc., mas o que me interessavam eram as libelinhas.

 

Soube, através do poço de informações que é a minha prima Gabriela, que a fábrica tem uma loja em Lisboa, na Rua Eiffel. Opá, é que até fica aqui nas redondezas, dá-se lá um pulinho à hora do almoço.

 

Mais ou mesmo na mesma altura passaram pelos meus olhos algumas notícias que davam conta de dificuldades na fábrica, e que não havia encomendas e que já havia salários em atraso.

 

Bom, junta-se a fome à vontade de comer, vou lá comprar um serviço. É a minha contribuição.

 

Entrei na loja pequenina, pequenina, pequenina onde não reconheci nos artigos expostos qualquer peça de Bordalo Pinheiro. Hummm, será que me enganei na loja? Esperei que alguma das duas senhoras que estavam na loja me dirigissem a palavra. Mas não. Estavam ocupadas a limpar o pó e a falar entre si, uma delas era muitíssimo parecida com a Filipa Vacondeus, e falava da mesma forma afectada. Bom dia, será que me pode ajudar? Diga. Ando à procura de um serviço, o serviço libelinha, do Bordalo Pinheiro. Cara de espanto. Anda? Pois, mas isso quase já não há nada. Ó não sei quantas, quando lá foste à fábrica viste alguma coisa da libelinha? Não, da borboleta havia uma saladeira, mas da libelinha não, não faz mal que vai dar mais ou menos ao mesmo.

 

Suspiro.

 

Olhe, então nesse caso eu queria encomendar. Ah....encomendar, pois, olhe, não sei, não garanto nada. Tem a certeza que quer fazer a encomenda? É que, pronto, não há prazos. Ok, eu não tenho pressa, queria fazer a encomenda. Então que peça é que lhe falta? Todas, não tenho nenhuma peça do serviço e quero fazer o serviço completo. Ah pois, mais complicado ainda. Para quantas pessoas é que é o serviço? Para 6, mas se só fizerem para 12, eu alinho. Está bem, então vou fazer o favor de tomar nota da encomenda. Partiu do princípio que eu queria o serviço verde, azar, quero o branco ("há" branco, amarelo, verde, vermelho e azul). Em branco, mais difícil ainda. Lá ficou com o meu nome e com o meu contacto, mas a verdade é que depois daquele discurso, tirei o serviço da ideia.

 

Uma marca mal trabalhada, um marketing inexistente, um atendimento ao cliente paupérrimo, pouco stock, o site não permite fazer encomendas nem tem o catálogo completo, e uma concorrência muito agressiva são os dados em cima da mesa.

 

É extraordinário que uma empresa com um património e um know how ímpares, com tudo para dar certo e fazer muita gente rica, esteja nas ruas da amargura e prestes a fechar as portas.

 

Bem sei que o portuguesinho típico prefere ter um serviço daqueles italianos, caríssimo, é mais fashion, dá mais status, daria algum trabalho  associar este status à marca Bordalo Pinheiro, mas está longe de ser impossível ou difícil. O que falta à fábrica Bordalo Pinheiro é gestão de qualidade, visão e estratégia.

 

Esta minha experiência acontece num momento complicado da empresa, mas tenho pessoas distantes na família que estão relacionadas com a fábrica que já me diziam há uns anos (10, mais coisa menos coisa), que a gestão da empresa era uma porcaria.

 

A fábrica Bordalo Pinheiro tem, para além do património artístico, outra vantagem fundamental (e rara), que são trabalhadores empenhados e que gostam do que fazem. Portanto, tem marca, tem património de qualidade, tem recursos humanos, tem meios e tem espaço. O que é que faltou? Gestão.

 

E porque é que ninguém deu por isso?

 

Vão ser salvos, fábrica, e o património, de certeza que vão. É impensável que não sejam. Mas vão ser salvos com o dinheiro dos nossos impostos, e a gestão vai continuar a ser dos mesmos senhores que não a conseguiram gerir nos últimos anos. Ou transformam a coisa num museu, o que vai dar mais ou menos ao mesmo.

 

E a malta vai fechar os olhos (afinal é só mais uma fábrica que fecha), e vai continuar, contentinha, a comprar pratinhos italianos caros, ou suecos baratos.