Giroflé e Adriano Correia de Oliveira
Jonasnuts, 17.10.07
Quando a minha irmã nasceu, em 1971, eu tinha 3 anos. Tinha até à altura vivido no bem bom do colinho da avó e do avô, em vez de ir para o colégio. Mas por motivos vários, os meus pais optaram por espetar com as duas num colégio. Toca de escolher um colégio que fosse perto de uma das avós (a outra avó), e que também fosse mais ou menos perto de casa.
A escolha, que foi feita com base na localização geográfica da escola, recaiu sobre o Giroflé, que era (será que ainda é?) na Pascoal de Melo. Descia-se um bocadinho a rua, e estávamos em casa da minha avó.
Lembro-me que odiava e detestava o Giroflé. Habituada a ser A menina, passei a ser apenas mais uma menina, a quem os outros davam pontapés. Rapidamente aprendi a responder na mesma moeda, ou mesmo a elevar a fasquia.
E o que é que isto tem a ver com o Adriano Correia de Oliveira? Calma, já lá vamos.
O Giroflé tinha uma particularidade que os meus pais orgulhosamente descobriram apenas mais tarde. O Giroflé tinha 2 tipos de crianças. As "normais", como eu e a minha irmã, cujos pais pagavam uma mensalidade no final do mês. As outras, eram filhas de presos políticos, ou filhas de pessoas que andavam na clandestinidade, e não podiam pagar a escola.
O 25 de Abril de 1974 viveu-se, naquela escola, de maneira especial. Muitos meninos conheceram os seus pais apenas naquela altura. E andava toda a gente com um sorriso de orelha a orelha, e eu lembro-me da atmosfera.
Mas onde é que entra o Adriano Correia de Oliveira?
Não entra, mas entram os filhos, principalmente a filha. Mais velha que eu, um ou dois anos. Loira. Feminina. Linda. Chamava-se Isabel (e presumo que ainda se chame). Com a aura de ser não só uma criança lindíssima, mas a filha do Adriano Correia de Oliveira. E, naquele meio, esse facto fazia dela uma estrela cintilante. Pelo menos aos meus olhos.
Eu era maria rapaz, e gostava de ser maria rapaz, mas às vezes queria ser como aquela menina. Tinha portanto, às vezes, um bocadinho de inveja.
Tenho fotografias do recreio do Giroflé (já nessa altura eu gostava de gadgets, e sim, tinha uma máquina fotográfica), e lembro-me de apontar a câmara à Isabel, e tirar-lhe uma fotografia, à socapa. Ainda tenho essa foto. Algures.
Nunca me esqueci daquela menina.
Anos mais tarde, soube que o Adriano Correia de Oliveira tinha morrido. E lembrei-me da Isabel. E deixei de ter inveja.
Honras ao pai da Isabel, por ter cantado uma das músicas que fizeram (fazem) parte da minha infância, Menina dos olhos tristes.
E sempre que revisito esta música, lembro-me da Isabel.
A escolha, que foi feita com base na localização geográfica da escola, recaiu sobre o Giroflé, que era (será que ainda é?) na Pascoal de Melo. Descia-se um bocadinho a rua, e estávamos em casa da minha avó.
Lembro-me que odiava e detestava o Giroflé. Habituada a ser A menina, passei a ser apenas mais uma menina, a quem os outros davam pontapés. Rapidamente aprendi a responder na mesma moeda, ou mesmo a elevar a fasquia.
E o que é que isto tem a ver com o Adriano Correia de Oliveira? Calma, já lá vamos.
O Giroflé tinha uma particularidade que os meus pais orgulhosamente descobriram apenas mais tarde. O Giroflé tinha 2 tipos de crianças. As "normais", como eu e a minha irmã, cujos pais pagavam uma mensalidade no final do mês. As outras, eram filhas de presos políticos, ou filhas de pessoas que andavam na clandestinidade, e não podiam pagar a escola.
O 25 de Abril de 1974 viveu-se, naquela escola, de maneira especial. Muitos meninos conheceram os seus pais apenas naquela altura. E andava toda a gente com um sorriso de orelha a orelha, e eu lembro-me da atmosfera.
Mas onde é que entra o Adriano Correia de Oliveira?
Não entra, mas entram os filhos, principalmente a filha. Mais velha que eu, um ou dois anos. Loira. Feminina. Linda. Chamava-se Isabel (e presumo que ainda se chame). Com a aura de ser não só uma criança lindíssima, mas a filha do Adriano Correia de Oliveira. E, naquele meio, esse facto fazia dela uma estrela cintilante. Pelo menos aos meus olhos.
Eu era maria rapaz, e gostava de ser maria rapaz, mas às vezes queria ser como aquela menina. Tinha portanto, às vezes, um bocadinho de inveja.
Tenho fotografias do recreio do Giroflé (já nessa altura eu gostava de gadgets, e sim, tinha uma máquina fotográfica), e lembro-me de apontar a câmara à Isabel, e tirar-lhe uma fotografia, à socapa. Ainda tenho essa foto. Algures.
Nunca me esqueci daquela menina.
Anos mais tarde, soube que o Adriano Correia de Oliveira tinha morrido. E lembrei-me da Isabel. E deixei de ter inveja.
Honras ao pai da Isabel, por ter cantado uma das músicas que fizeram (fazem) parte da minha infância, Menina dos olhos tristes.
E sempre que revisito esta música, lembro-me da Isabel.