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Jonasnuts

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Nick Cave ontem, no Coliseu de Lisboa

Jonasnuts, 22.04.08
Antes de mais, não sou fã de Nick Cave. Gosto de algumas coisas, mas não sou a fã que sabe as músicas todas de cor, das várias fases, das várias facetas. Eu andei a treinar, e a ouvir intensamente Nick Cave na última semana. Mas ia entusiasmada para ouvir o concerto, para ver se era melhor que o de há uns anos também no Coliseu, a que também fui.

Cheguei em cima das 21h00, que era a hora de início da banda de apoio. Muita gente. O meu esquizitómetro atingiu níveis mais altos do que no concerto dos Editors. Mas a mim, os esquizitóides não me fazem confusão, até animam o ambiente, distraem a vista.

Lá comprei as t-shirts da praxe, porque, havendo, compro sempre merchandising. São óptimas recordações dos espectáculos por onde andei mesmo quando já não servem a não ser para dormir.

Não conhecia a banda de apoio, e não fiquei a conhecer. Não percebo as pessoas que vão para um espectáculo pôr a escrita em dia e falar, alto, como se não houvesse amanhã. Atrás de mim estavam umas galinhas que não se calaram, aos berros, durante todo o concerto da banda de apoio. Não me parece que a tal da banda fosse grande coisa, mas mal por mal era preferível aos cacarejos das meninas. Quando foram à casa de banho foi um alívio, embora os namorados se tivessem esforçado por fazer igual barulheira. Não conseguiram. Não há como duas mulheres para cacarejar irritantemente.

Quando se aproxima a hora do espectáculo, começa a encher mais, o Coliseu. Começam os empurrões, as pisadelas e as cotoveladas. Ok, faz parte, a massa que é o público aninha-se e acomoda-se para passar a próxima hora e meia a ouvir um gajo de quem todos gostam. Só não percebo aquela onde do "dá-me licença" e em vez de passar ocupa o lugar onde eu estava e de onde saí para lhe dar a licença. Olhe, desculpe, eu estava aí. Licença, é para passar, não é para ocupar o espaço onde eu estava. Mas ok, é uma técnica, há mais e mais intrusivas.

Quase no início do concerto propriamente dito, o lugar das galinhas é ocupado por um grupo de sessentões, a reviver o passado da crise de meia idade de há 20 anos, a fingir que são cool, e que estão na onda, e que ainda estão para as curvas e que na tentativa vã de transmitirem esta mensagem, pisam, acotovelam e encostam-se a tudo e a todos. Estive vai não vai para lhes sugerir um concerto dos D'zrt, onde fariam mais sucesso, provavelmente. É tão giro ver avôs a acompanhar as netas.

Entra o Nick com as sementes, e o público ovaciona. É normal. É mais normal ainda no público português que ovaciona por tudo e por nada. Não somos nada parcos no que às nossas palmas diz respeito.

O concerto começa bem. Estou a gostar. Parece haver um desentendimento entre o Nick e os pedais da guitarra, mas pronto. Aquela luz direitinha aos meus olhos e que volta não volta me encandeia também podia estar melhor, mas ok, são detalhes, menores. Se a assistência que me rodeia não consegue cortar-me a boa onda, não são meras minudências técnicas que o vão fazer.

O gajo canta bem. O que é raro, num concerto de Nick Cave. Normalmente nos concertos são fífias atrás de fífias, mas a empatia, a encenação, o poder cénico a força do personagem em palco funcionam, contrabalançam e ultrapassam. Se o querem ouvir cantar afinado, comprem o disco. Se o querem ver, mais à mise-en-scène, vão ver ao vivo. Mas desta vez não. Estava a cantar lindamente. A coisa prometia.

Até mais ou menos à quarta música, a coisa correu muito bem. Depois disso entrou ali num marasmo descendente. Os pedais continuaram a dar problemas e houve mesmo um que levou um chuto que o fez voar para trás do palco. As duas baterias não funcionaram grande coisa e houve mesmo algumas músicas em que os músicos estavam cada um para seu lado. O próprio Cave reconheceu a coisa, no final de uma das músicas, em que disse que aquela, eles ainda tinham de aprender a tocar.

Umas pausas estranhas entre músicas que faziam perder o ritmo, e que não eram aproveitadas pela banda eram sobejamente aproveitadas pelo caramelo que estava ao meu lado, a quem alguém, um dia disse que "motherfucker" era um enorme elogio e que, com base nessa informação, se esforçava por elogiar a banda, frequentemente. Tinha uma paranóia qualquer com o Barbas, por quem também chamava muito.

O fumo era mais que muito, muitos cigarros, mas não só. Não era tão boa como a dos Editors.

Saí antes do fim.

Decidi (mais uma vez) que não me volto a meter no meio do maralhal. Devo ser eu que sou esquisita. O resto do pessoal gosta de porrada, cotoveladas, asnos a berrar aos ouvidos, pisadelas e afins. Eu nunca gostei, não era agora que ia começar a gostar. Meus ricos doutorais, minhas ricas cadeirinhas de orquestra.