Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Jonasnuts

Jonasnuts

25 anos de Terràvista

Jonasnuts, 23.03.22

terravista.gif

Faz hoje 25 anos, estava com uma direta, mas o Terràvista tinha sido lançado.

 

Há 25 anos, "5MB de língua portuguesa, grátis, na net"  era o slogan do que foi, para muita gente, o primeiro contacto com a possibilidade de publicar conteúdo próprio, online. 

 

As Homepages foram o primeiro serviço de user generated content em domínio pessoal (ou personalizado, vá). Éramos uma cópia do Geocities, mas com uns pós, os Estaleiros, espalhados pelo país, onde havia equipamento, acesso à internet e know how para ensinar quem quisesse a fazer uma página pessoal e a colocá-la online.

O Terràvista foi o meu primeiro desafio profissional nesta área (meu deus..... um quarto de século, sou jurássica), e permitiu-me aprender muito, fazendo, como gosto, com as mãos na massa.

 

Ainda longe da massificação e das redes sociais, o Terràvista permitiu-me, sobretudo, aprender, errando, sem que ninguém apontasse de imediato o dedo. Fiquei a saber umas coisas de gestão de produto, criação e gestão de serviços, comunidades, customer care, e fiquei, sobretudo, convicta de que tinha finalmente encontrado a minha vocação. Não me enganei.

Foi com o Terràvista que aprendi que o customer care é uma poderosa ferramenta de marketing, de comunicação e de customer delight (que na altura não se chamava assim).

 

Já tive mais filhos profissionais, depois do Terràvista, claro, com os quais também aprendi muito e dos quais tenho algumas saudades (dos meus meninos, claro), mas, por ter sido o primeiro, para mim e para  muita gente o Terràvista terá sempre um espaço especial na minha memória.

 

Foi um projeto que contribuiu de forma decisiva para moldar a minha carreira nesta indústria, e foi o meu primeiro movimento para fora da minha zona de conforto. 

 

Estamos muito longe do tempo em que eram poucas as pessoas com internet, e longe das dificuldades e obstáculos à produção de conteúdos, já não é preciso fazer-se um cursinho de html ou usar o FrontPage, há centenas de serviços que automatizam e simplificam todos os processos técnicos e tecnológicos que estão por trás do que fazemos online, e tem sido um prazer e um privilégio assistir de perto, muitas vezes de dentro, a esta evolução.

 

Há 25 anos eu não sabia o que ia acontecer. Só sabia que ia ser muito bom. Não me enganei.

Community Manager

Jonasnuts, 22.01.18

Este é um tema recorrente aqui da chafarica, porque é uma das vertentes do meu trabalho e porque sou formadora na área. Interessa-me sempre.

 

Já em tempos descrevi aqueles que deveriam ser os requisitos essenciais de quem gere uma comunidade (auto-link). E aqui sobre ter ou não comunidades.

 

É com alguma frequência que vejo anúncios de emprego a pedir community managers e vou sempre meter o nariz. O resultado é quase sempre o mesmo. Para além de escrever os posts que linkei ali em cima, dou sempre por mim a pensar "mas o que estes gajos querem é uma pessoa para gerir redes sociais, não é uma pessoa para gerir comunidade".

 

O problema está na definição. Quem faz like numa página de Facebook não constitui, juntamente com todos os outros autores de likes à mesma página, uma comunidade. 

Quem segue uma marca no Twitter não faz parte duma comunidade.

Quem usa um determinado serviço de mail, ou de blogs, ou de vídeos ou whatever, não faz automaticamente parte duma comunidade.

 

Entre um conjunto de seguidores (ou fazedores de likes) numa rede social e uma comunidade vai uma enorme distância.

 

Para que haja uma comunidade é preciso que haja sentido de pertença, sentido de identidade partilhada, sentido de diferenciação em relação aos que não pertencem.

 

Quando, há muitos anos, comecei a aceder à Internet e tive mail (olgajoao@telepac.pt - foi o meu primeiro mail), encontrar outra pessoa que também acedesse à Internet era raro. Quando acontecia, era uma festa, era um sentimento imediato de cumplicidade, por partilharmos algo que era estranho à maioria. Era uma comunidade, não formal. Havia sentimento de pertença, de identidade e, claramente, de diferenciação em relação aos que ainda estavam a leste do paraíso.

 

Uma pessoa que faz like numa página, ou que segue uma conta, dificilmente se sentirá, só por isso, como fazendo parte duma comunidade. Na maioria dos casos, não sente nada a não ser que ganhou o direito de participar em passatempos, ou em receber correspondência, ou ficar a par do que aquela marca tem para dizer às vezes. 

 

Para gerir estas pessoas não é necessário alguém que faça gestão de comunidades, basta uma pessoa que faça gestão de redes sociais. Não estou a minimizar o trabalho de quem gere redes sociais. Estou a diferenciar do trabalho de quem gere comunidades.

 

Não há muitas comunidades grandes, em Portugal. Há os clubes desportivos, obviamente, têm de facto comunidades, e são um desafio muito interessante, do ponto de vista profissional. 

 

Mas, assim de repente, exceptuando as desportivas, não me ocorrem comunidades grandes existentes em torno de uma marca. Uma coisa tipo Tifosi (os maluquinhos pela equipa de Fórmula 1 da Ferrari, embora o termo seja mais genérico).

 

É difícil, criar uma comunidade, mais difícil ainda mantê-la, sobretudo quando cresce e passa de um nicho para algo mais robusto e com vida própria, mas é um desafio extraordinário e muito interessante (enfim, dependendo do tema e da liberdade que um gestor de comunidades possa ter).

 

Mas isto não interessa para nada, porque não há necessidades de contratação de gestores de comunidade. O que se pretende, na grande maioria dos casos, são gestores de redes sociais.

 

Anda é meio mundo enganado com a definição da coisa.

Community manager

Jonasnuts, 30.03.16

Há quase 20 anos que tenho imensa dificuldade em responder, nos formulários que me caem no colo, à questão "profissão?".

 

Antes era mais fácil; "publicitária" ou "produtora de publicidade", que era esquisito, mas mesmo assim, era minimamente conhecido e modernaço.

 

Quando mandei a publicidade às favas e passei a fazer profissionalmente algo ainda mais esquisito, a dificuldade agravou-se. Ao princípio escrevia "Internet", porque era suficientemente vago e ninguém sabia bem o que era, só sabiam que era moderno. Depois passei a escrever "gestora de serviços de comunidade", que era mais exacto, mas que literalmente ninguém sabia o que era. Foram muitas as vezes em que, à minha frente, era riscada a parte dos "serviços de comunidade" para ficar apenas o "gestora". 

 

"Gestora" eles percebiam bem o que era, embora, na minha perspectiva, "gestora" seja quase tão abrangente como "Internet". Mas era um abrangente mais conhecido e, sobretudo, na perspectiva "deles" tinha mais élan.

 

Mas, na realidade, o que eu faço há quase 20 anos, entre muitas outras coisas, é mesmo isso; gestora de comunidades online. Devo ser a pessoa que, em Portugal, o faz há mais tempo.

 

Tive a enorme vantagem de poder aprender com as mãos na massa, e tive a sorte de, quando comecei, não existirem redes sociais, pelo que os erros que naturalmente cometi enquanto aprendia a coisa, não tomaram nunca proporções bíblicas. Fui uma privilegiada, na medida em que pude aprender à minha custa e à custa das comunidades que geri, e que me ajudaram, a perceber os "dos and don'ts" duma actividade acerca da qual havia muito pouco know how e o que havia era estrangeiro, que não é facilmente transponível para as idiossincrasias portuguesas. 

 

Foi por isso com muita satisfação que, de há uns meses para cá, vi começarem a aparecer anúncios de emprego para "Community Managers". Olá, pensei, as coisas começam a animar.

 

Vi muitos desses anúncios.

 

A grande maioria deles pede pessoas recém-licenciadas, com frequência, o que oferecem é um estágio (normalmente não remunerado). Pedem pessoas que saibam de SEO e SEM, e de Google Analytics, e de Facebook Ads, e de html e css, e de criação e gestão de conteúdos, e competências de design são factor preferencial. Estou a excluir os pedidos mais idiotas, como php, python, javascript e outros que tais, que se vê mesmo que não sabem muito bem de que é que estão à procura.

 

Em NENHUM anúncio eu vi pedidas as características que são mais importantes num community manager: disponibilidade e bom senso.

 

Disponibilidade, porque se é online, a coisa tem de funcionar 24/7. Bom senso porque é uma característica muito subvalorizada e é a que impede de fazer disparates, num mundo em que é preciso ser-se rápido no gatilho. Comunicação (quase) em tempo real exige MUITO bom senso. 

 

 

Foram raros os anúncios em que foram pedidas as segundas características mais importantes num community manager; a utilização irrepreensível da língua portuguesa e a cultura, quer geral quer específica do meio.

 

Um recém licenciado não sabe escrever. E não me refiro aos recém-licenciados das engenharias. Refiro-me a todos os recém-licenciados, e passaram-me muitos pelas mãos. Mas, pelos vistos, isso não interessa para nada, porque a utilização irrepreensível da língua portuguesa não é fundamental para quem anda à procura dos novos community managers, pelo menos a julgar pelos anúncios que vi.

 

Para mim, sempre foi fundamental, para qualquer posição, mas especialmente para aquelas que contactam directamente com os clientes/utilizadores, customer care incluído.

 

Cultura geral e cultura específica do meio, porque quem gere uma comunidade comunica com muitas pessoas diferentes e quanto mais o seu discurso estiver adaptado a cada interlocutor, mais eficaz será. Cultura geral impede argoladas básicas, cultura específica do meio permite uma resposta no mesmo tom, e deixa antever modernidade e actualidade que são muitas vezes (mas não sempre) factores decisivos. 

 

LuisB.jpg

 

Outra ausência gritante dos anúncios é a valorização da presença online dos candidatos. Em nenhum anúncio vi serem pedidos o endereço do Blog, do Facebook, do Twitter, do Instagram, etc....

Peço sempre isto, nos anúncios que coloco. Permite-me ter uma ideia acerca da personalidade da pessoa, da forma como escreve, há quanto tempo usa determinadas ferramentas, com que frequência, etc..

Tudo dados fundamentais para se desempenhar uma função de gestão de comunidades.

Já me aconteceu, no passado, ter de encontrar alguém que tivesse, também, competências (ou potencial) de community manager (enfim, de acordo com a minha definição da coisa). Não me enganei.

 

E, por último, os salários. À partida, um estagiário, não ganha grande coisa. Se não ganha grande coisa e é estagiário, é sinal de que está a aprender (o que contradiz o pedido frequente para estagiários, com experiência), ora, eu não quereria entregar a comunicação da minha marca ou do meu serviço a alguém que está a aprender porque, lá está, se está a aprender, que não seja às custas da minha marca e do meu serviço. Para community manager, nunca quereria ninguém com menos de 5 anos de experiência específica nesta área, mas essa não parece ser uma preocupação de quem recruta. Confirma-se assim o "If you pay peanuts, you get monkeys".

 

Vai na volta e a definição corrente de community manager é muito diferente da minha. Um community manager, na versão actual, é um gestor de redes sociais. Portanto, algo muito mais simples do que criar e gerir uma comunidade usando, entre outras ferramentas, as redes sociais. 

 

Para mim, community manager é a pessoa que cria e mantém uma comunidade. Por comunidade entende-se um grupo de pessoas que, por usarem o mesmo serviço ou o mesmo produto ou frequentarem o mesmo sítio se sentem incluídas e como pertencentes a algo que as diferencia de quem não tem essa presença ou utilização. E criar essa noção e esse sentimento de pertença num grupo (desejavelmente cada vez maior) de pessoas, não é tarefa fácil.

 

Criar e gerir uma comunidade não é um sprint (como muitos parecem achar), é uma maratona. É um trabalho que exige paciência, tempo, entrega, pertença à comunidade que se quer gerir e, muito importante, ouvir. Uma comunidade que não participa no processo de decisão, ou que não é ouvida nesse processo, não é uma comunidade.

 

Fazer like na página duma marca, no Facebook, não faz de mim membro de nenhuma comunidade. Seguir uma marca no Twitter ou no Instagram não faz de mim parte duma comunidade. 

 

E é assim que chego à conclusão de que hoje, tal como há 20 anos, a profissão de community manager é uma raridade. O resto da malta é gestor de redes sociais e, para mim, isso é muito diferente (faz parte, mas está longe de ser a única competência). 

Acho que vou regressar ao "Internet", nos formulários, para não correr o risco de acharem que sou só gestora de redes sociais.

Nescafé em damage control mode

Jonasnuts, 20.12.11

E por fim, um pouco mais tarde do que seria desejável, mas, mesmo assim, a tempo, a Nescafé a gerir a coisa como deve ser, logo confirmado pelo puto que deu origem à catástrofe.

 

Mas mantenho o que disse inicialmente; um bom gestor de comunidade, nem se dá por ele. Mas quando se lhe sente a falta, é mau sinal.

 

 

Não me vou pôr com grandes apreciações, ou opiniões, deixo isso para os gurus e para os consultores de social media que vivem debaixo das pedras, e só aparecem a mandar postas de pescada quando andam à cata de clientes, e há algum sururu no ar. Há uns que nem sequer voltaram a aparecer desde aquela coisa com aquela empresa e este Blog, aqui quase há 1 ano :)