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Jonasnuts

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Dúvidas

Jonasnuts, 09.08.11

De férias, e com pouca disponibilidade mental para o Blog (embora os comentários tenham andado animados), sou confrontada com as imagens de Londres. Sim, de férias, mas não me desligo. Não me desligo quando vou de férias para longe de casa, por maioria de razão não me desligo quando vou de férias e fico em casa, que é o que acontece este ano, a crise toca a todos.

 

E acontece-me sempre o mesmo, quando vejo estas cenas, sejam em França, em Inglaterra, na Noruega ou na Cochinchina. A mãe que há em mim, divide-se e enche-se de (ainda mais) dúvidas.

 

O que é que devo ensinar ao meu filho? Se o meu papel, enquanto mãe, é apetrechá-lo de ferramentas que lhe permitam sobreviver (e já agora, ser feliz) quando for adulto, devo passar-lhe os valores (os meus valores), ou devo ensinar-lhe técnicas de guerrilha e de sobrevivência?

 

As imagens que vemos não deixam dúvidas, valores, daqueles básicos do não matar, não roubar, não destruir, ajudar o próximo, ser boa pessoa, são, pelos vistos, valores ultrapassados e em franco desuso. São os meus valores mas, pelos vistos, estão desactualizados.

 

Mesmo nas coisas mais simples e corriqueiras, estou desactualizada. Aquela cena de não fazer barulho no cinema, não passar à frente nas filas, não ser chica-esperta no trânsito, essas coisas pequeninas de respeitar o outro mesmo que não o conheçamos, são decadentes. Há uns anos, um chiu mais veemente no escurinho do cinema, resultava. Agora olham para mim de lado, como se eu fosse maluca, e continuam a conversar alegremente.

 

Pergunto-me se não estou a ensiná-lo a ser um tanso, com a minha mania do respeito pelos outros, e com aquele ditado que me disseram tantas vezes "a tua liberdade termina onde começa a dos outros". Quando os outros se estão a cagar para a tua liberdade, porque é que hás-de tu pensar na liberdade deles?

 

A crise económica preocupa-me ligeiramente. A crise de valores preocupa-me violentamente. Não me importo de deixar ao meu filho um mundo mais pobre de dinheiro, mas chateia-me muito que tudo indique que lhe esteja a deixar um mundo drasticamente mais pobre de valores. Pelo menos dos valores que são os meus.

 

Acho que lhe vou transmitir os valores, enquanto o inscrevo num curso de sobrevivência. Uma no cravo uma na ferradura.

As minhas aventuras no ensino público

Jonasnuts, 18.06.11

Nunca frequentei, enquanto aluna, o ensino público. Os meus pais não tinham estrutura familiar que lhes permitisse que eu apenas estivesse ocupada uma parte do dia.

 

Quando chegou a altura de introduzir o meu filho às delícias da academia, optei por uma instituição privada, mas daquelas onde se paga de acordo com os rendimentos, portanto, onde eram recebidos meninos de todas as classes sociais. Já lá não anda, posso dizer portanto que andou no Infantário Popular de Sintra, e que, desde a sala do 1 ano até à pré-primária, a experiência foi sempre fantástica (obrigada, educadora Paula Nunes).

 

Depois era a sério, ia entrar no primeiro ano (primeira classe para quem é do meu tempo), e tinha de mudar. Novamente optei pelo privado, desta vez sem as vantagens de haver meninos de diferentes classes sociais, que ali, doía a todos por igual, quando chegava a altura de pagar a mensalidade. Não me dei bem com a escola. Não foi o puto que não se deu bem fui eu. Estava muito habituada a intervir e a participar no dia-a-dia do meu filho (vinha "mal habituada" do Infantário Popular de Sintra) e custou-me muito aquela dinâmica do deixa a criança à porta, recolhe a criança à porta, queres falar com a professora marcas hora para daqui a 15 dias, e se queres saber o que comeu ao almoço, perguntas na secretaria e já gozas. Mais informações, não há, tens de confiar na escola, porque a escola é que sabe de educação e de pedagogia, e os pais não são para aqui chamados. Comigo não funcionou.

 

Custou-me, mas mudei-o mesmo a meio do ciclo. Mudei-o para a Escola Raiz (já lá não anda, por isso posso dizer que lá andou). Uma escola pequenina, com um método de ensino algo invulgar, eventualmente com mais sucesso se o meu puto lá tivesse andado desde mais novo. Mas uma escola que me incluía, que me interpelava, onde eu entrava sem problemas, onde via os trabalhos do meu filho (e das outras crianças, evidentemente), e via a sala de aulas, se me apetecesse, e onde falava com os professores sem ser preciso marcação prévia. Foi perfeito? Não, não foi, mas eu não acredito que exista a escola perfeita. Assim como assim, também não existem crianças perfeitas, nem pais perfeitos.

 

O ano lectivo que agora termina foi a minha estreia no ensino público. Fui a medo, confesso. E o impacto e a diferença foram brutais. Mas não por causa da qualidade do ensino. Bons professores e maus professores há em todo o lado, seja no público seja no privado, portanto, também aqui, no liceu, tive direito às duas realidades. Mas, no geral, o balanço é positivo. Muito positivo. Também pode ser que eu tenha tido sorte, mas não creio que tenha sido só isso.

 

Reuniões bem organizadas, com uma directora de turma extraordinária (que é também boa professora), que se desunha para fazer chegar aos encarregados de educação a informação relevante, sem nunca deixar que as reuniões caíssem naquelas coisas típicas dos colégios particulares "ai, o meu Rodriguinho é tão prendado". Assertiva, mas 15 dias depois de começarem as aulas já conhecia os putos todos pelo nome. E, note-se, não estamos a falar de turmas de 15 meninos (que era a isso que eu vinha habituada), estamos a falar de turmas gigantescas, com 30 e mais alunos.

Não sei como é que ela consegue, mais para mais, sabendo que tem mais turmas, mas gostei de, no meio de um liceu com (bem) mais de 1000 alunos, que a coisa fosse, de certa forma, personalizada.

 

As auxiliares conhecem o puto pelo nome? Não. Mas quando ele se sentiu mal e foi preciso chamarem-me, sabiam exactamente onde é que ele estava, e quem é que era, e o que é que tinha, e quais tinham sido os sintomas.

 

Eu ressenti-me.... passar duma escolinha pequenina para uma escola gigantesca, não foi fácil. Sobretudo porque o "gigantesco" implica muitos alunos, todos mais velhos, a conviverem com os mais novitos que, coitados, parecem bebés. E pronto, também há uma catrefada de alunos que não são bem daquela escola, mas que frequentam espaços comuns que não são, dizem, muito recomendáveis. E, sim senhor, já vi cenas de pancadaria à porta, mas foi só uma vez. E há assaltos, e obviamente, os mais novos são as vítimas mais evidentes, mas os assaltos acontecem fora da escola, e a polícia anda sempre por ali.

 

A comida da cantina. Na outra escola aquilo era quase à la carte. O menino não gosta de bacalhau? Não faz mal, eu cozo-lhe uma postinha de pescada. E ficavam lá a ver se ele comia tudo, e havia sopa e fruta. Agora ele diz-me que a comida é boa, que há sempre sopa (e ele nunca come, aposto), que nos dias em que não gosta da comida come menos, e depois come umas bolachas da máquina (pessoalmente, eu dispensava a máquina, mas pronto), e chega a casa com mais fome, ao lanche. O saldo é positivo.

 

Os professores. Teve sorte com uns, teve azar com outros. É como tudo na vida. Não é novidade. No ensino particular também apareceram bons e maus professores. Ou melhor, professores mais empenhados e mais motivados, e professores que não querem saber. O meu trabalho, como mãe, acho eu, passa por ensiná-lo a respeitar todos, e a tentar colmatar as falhas dos professores menos inspirados, de forma a que a falta de inspiração não estrague o gosto do puto por uma determinada disciplina. Inglês, disciplina em que ele é, claramente, um aluno excelente (porra, o puto lê livros em inglês), tocou-lhe uma professora maluca, que ia arruinando o gosto que o puto tem pela língua. Ele percebeu. Também percebeu que às vezes, a professora pode ser boa, mas ele não gosta da matéria (disse-me isso acerca de uma das disciplinas - ó mãe, a professora é boa e ensina bem e é justa, eu é que não gosto nada daquilo), fair enough.

 

Não vai ter negativas. Vai ter mais 3 do que o que eu gostaria, mas é o primeiro ano, é o de adaptação. Para o ano puxo mais por ele (aliás, já comecei a puxar, que o sacaninha está de férias, mas tem livros para ler, e ditados para fazer, que a caligrafia é uma queixa generalizada).

 

Portanto, e porque isto já vai longo. A minha aventura pelos reinos do ensino público foi positiva. Para o ano, gostava que lhe (nos) calhasse a mesma directora de turma. Ajuda muito, ter alguém competente e empenhado, a puxar a carroça (e que me manda as actas por mail, para eu imprimir e assinar e mandar pelo puto - oh, as vantagens das novas tecnologias).

 

Ah, o moodle é uma merda. Para mim, que trabalho nesta área, aquilo é abaixo de cão em termos de usabilidade, navegabilidade, intuição, segurança, interactividade...enfim.....nada se aproveita. Era deitar fora e fazer de novo, mas como deve ser. Ofereço-me para consultoria (graciosa, não comecem já a pensar que eu me quero encher de guito) se alguma vez precisarem de beta testers ou de input de quem trabalha nesta indústria. A sério..... com os putos habituados a Facebook, Youtube, Blogs, jogos e coisas bestialmente bem feitas e ricas, pedirem-lhes para trabalhar no moodle é um turn of do caraças.

 

E pronto.... já ninguém está a ler esta parte do texto, que se fosse eu a ler, já tinha desistido há muito tempo, dum texto tão chato e tão comprido :)

 

E não, não digo em que liceu é que ele anda. Daqui a 5 anos falamos :)

 

Falta dizer que isto começou por ser um comentário a este post, e que depois, quando percebi que me ia alongar, achei que era melhor poluir o meu próprio espaço, e não o espaço alheio :)

O que fazer às criancinhas no Verão?

Jonasnuts, 27.04.11

Isto é um ciclo, todos os anos por esta altura (ou um pouco mais cedo ou, mais frequentemente, mais tarde) começo a debater-me com o problema da ocupação dos tempos livres do meu filho, para o período de Verão. São 3 meses de férias, 15 dias comigo, 15 dias com o pai. Sobram 2 meses. 2 meses é muito tempo.

 

É nestas alturas que tenho pena de não ter uma terra. Já tinha pena quando eu era miúda, ver muitas colegas irem para a terra passar 3 meses de férias, e eu enfiada num apartamento, em Lisboa. Mas nesta família, não há terras, é tudo de Lisboa. Enfiá-lo em casa da avó não é uma opção. Seria para ele, que adoraria passar os dias da televisão para o computador, com almocinho e lanchinho preparadinhos pela avó. Seria bom para a minha mãe, ter lá o neto mais velho. Seria bom para mim, é um descanso e sempre sai mais barato.

 

Mas não.... sedentário já ele tem tempo para ser o resto do ano. Ando à procura. Não procuro um depósito de criancinhas daqueles que anunciam mundos e fundos, e depois não são nada de jeito, gostava duma coisa gira e divertida para ele. Cursinhos de jardinagem durante 3 manhãs não são uma opção.

 

Gostava de um workshop de culinária. Durante uma semana (ou duas), todas as manhãs (incluindo almoço e, eventualmente lanche) ia aprender a cozinhar que é uma coisa que ele adora. Não encontro nada disto. Qualquer coisa com desenho e pinturas, culinária, modelagem, música, que são as coisas de que ele gosta.

 

Alguém sabe de alguma coisa ou tem sugestões alternativas?

Música Erudita para Totós

Jonasnuts, 15.02.11

É o livro de que preciso, a verdade é essa.

 

O meu iTunes faz muito morto dar voltas na campa, por se saber na mesma base de dados de muito outro morto (e vivo), mas tem uma (?) lacuna grave, a música clássica erudita.

 

Se o meu filho me fala de Queen, de Zeca, de Barbra, de Beatles, de Stones, de Trovante, enfim, duma série deles (uns mais obscuros que outros) eu consigo mostrar-lhe e dar-lhe a ouvir (em alguns casos a obra completa), mas quando o meu puto se vira para mim, que virou, e me diz que curte a Lacrimosa de Mozart, eu fico muda e queda.

 

Abençoada internet, que à distância de meia dúzia de teclas me elucida (e que foi, em primeiro lugar, o que lhe deu a conhecer a tal da Lacrimosa, que afinal é o Lacrimosa, porque é um Requiem).

 

E agora? Música clássica erudita no meu iTunes é coisa rara. Tenho um dos melhores álbuns de todos os tempos, o Hush do Bobby McFerrin, mas pouco mais.

 

Como é que eu lhe dou a conhecer um mundo que desconheço?

 

Há algumas músicas e/ou compositores cuja obra seja mais adequada às crianças? Confesso que a tal da Lacrimosa é belíssima, mas porra, é um Requiem, não há coisitas menos carregadas, mas igualmente belas?

 

Vá, ajuda precisa-se, que eu, nesta matéria (e em tantas outras) sou uma totó :)

Os palavrões do dicionário

Jonasnuts, 22.09.10

Leio no DN que há uma nova polémica, por causa de um dicionário recomendado para os alunos do primeiro ano, dicionário cuja edição contém "palavrões".

 

E está toda a gente muito chocada, porque os dicionários têm lá, com todas as letras, as palavras que os pais não querem que os filhos aprendam.

 

Tudo isto está muito bem, e as pessoas têm o direito de se insurgirem contra o que muito bem entenderem, mas a minha pergunta é esta:

 

Como é que sabem que lá estão os palavrões?

 

Não foram as crianças, de certeza absoluta que, estando no início do 1º ano, não sabem ler.

 

Portanto, foram os pais que foram à procura dos palavrões, que aparentemente conhecem, apesar de não terem nenhum dicionário que lhes ensinasse a coisa.

 

Há uns anos tive de comprar um dicionário para o meu filho. Não tinha qualquer referência da professora, portanto, o critério era o meu. Recusei-me a comprar qualquer dicionário que não tivesse pelo menos, a palavra "merda". Vai sabê-la, vai aprendê-la, ao menos que, tendo curiosidade, possa saber como é que se escreve e o que significa, tendo, para além da mãe, outras formas de obter essa informação.

 

Os paizinhos estão convencidos que os filhinhos vão ler o dicionário? Ninguém lê um dicionário. Vai-se ao dicionário à procura do significado duma palavra que se ouviu ou que se leu, o dicionário raramente é a origem da coisa. Mas é o esclarecimento.

 

Prefiro ter um filho que ao dizer ou escrever "caralho" saiba exactamente o que é que está a dizer, do que ter um filho que escreva "keralho", e pense tratar-se duma ferramenta de lavoura.

 

Por último, senhores jornalistas, não escrevam "os pais manifestam-se contra". Escrevam "alguns pais manifestam-se contra", não me incluam no lote de imbecis que não sabe que a silly season já terminou, bem como o século XIX.

 

Ao senhor Albino Almeida, da confederação nacional das associações de pais, que recomenda a manutenção dos tradicionais dicionários escolares, uma informação: a tradição já não é o que era, e phoda já se escreve doutra forma, vá ver o dicionário.

 

Isto deve ser visto pelo lado pedagógico, se por acaso uma criança pegar num dicionário e começar a lê-lo, antes de chegar ao "caralho" já tem mais vocabulário que muitos licenciados.

 

Merda do corrector ortográfico dos Blogs não é dos bons, marca-me ali uma série de palavras como se fossem erros. Há que mudar isso.