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Jonasnuts

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A filha da Olga

Jonasnuts, 26.05.13

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A filha da Olga sou eu, e este é um post sobre a minha mãe.

A minha mãe recebeu ontem o prémio carreira do Clube de Criativos de Portugal. Pois, sempre tive uma mãe muito à frente. As mães dos outros meninos da escola tinham profissões chatíssimas, e a minha mãe era publicitária, numa altura em que a publicidade era um mundo extraordinariamente masculino (estão a pensar em Mad Men? Não... uns anos depois disso, mas em Portugal). Era copy, passou depois a directora criativa, e acabou em directora de agência. Nada mau.

 

Sempre foi discreta, a minha mãe. Nunca foi um pavão, o que é ainda de maior valor, tendo em conta a comunidade pavoneante que caracterizava a coisa. Não sei se ainda é assim, presumo que sim. Já não é a minha guerra.

 

Mas é por causa da minha mãe que o Omo lava mais branco, ou que houve, em tempos, glutões no Presto, ou que Skip foi, durante muito tempo, o detergente recomendado por 67 marcas de máquinas. Por causa da minha mãe, a Denim era para o homem que sabe sempre o que quer, e o Harpic, líquido, super concentrado, era um jacto que de facto, chegava a qualquer lado, limpava, desinfectava e num instante, wc brilhante.

 

Também a minha mãe dizia que os filmes Kodak eram para mais tarde recordar (com música do Luís Pedro da Fonseca) , e se muita gente diz um corneto para mim, um corneto para ti, olá, olá, e a vida sorri, foi porque a minha mãe juntou as palavras, e o Pedro Osório fez a música (ou adaptou-a, já não sei, foi há mais de 30 anos). E o famoso filme de Old Spice, com o caramelo a fazer uma onda de surf ao som da Carmina Burana, foi adaptado pela minha mãe. O very nice a gritar, "Aquela máquina" para o gajo da Regisconta passar, também era da minha mãe.

 

A sabedoria da minha mãe, fez com que em Portugal fosse lançado o sabonete Rexina, e não Rexona, porque, como se sabe, Rexina é um sabonete que lava e perfuma, e Rexona é um sabonete que serve para lavar..... partes do corpo que naquela altura, ninguém tinha, vá.

 

Lembro-me de um filme de preservativos, Control? Durex? Que não passou no crivo da censura, por ser demasiado explícito (metia uma demonstração de como se colocava, numa banana), e de outro da Renova, que chegou a ir para o ar, mas que foi retirado, porque a "esposa" não sei de que administrador tinha ficado afogueada com a coisa (sim, uma campanha a papel higiénico deixava "esposas" afogueadas).

 

As contas que trabalhou foram muitas, não me lembro de todas. Zanussi, Ricard, Omo, Presto, Skip, Tulicreme, Nesquik (o Kangurik, sim), Milo, Moulinex, Renova, Braun, Red Bull, Benetton, Old Spice, Denim, Atlantis, Kodak, Olá, Yoplait, e mais umas tantas que, se me lembrar (ou ela me ajudar) eu acrescento aqui. Mas faltam aqui mais do que as que estão. Escrevo isto de memória. A minha mãe sempre levou trabalho para casa. A maquete do jingle da Olá foi para o cliente numa K7, cantada pelo meu pai, gravada lá em casa, na noite da véspera.

 

Pelo meio, teve duas filhas maravilhosas (enfim, uma mais maravilhosa que outra) que ontem, orgulhosas e tendo levado representantes da descendência - que também estavam todos inchados -  ouviram os aplausos, e perceberam que ela estava contente, comovida, satisfeita e feliz. E os aplausos do público eram sinceros, não eram só da claque.

 

Teve ainda tempo para ajudar muitas pessoas ao longo do seu percurso. Ainda há pouco tempo, encontrei por acaso uma dessas pessoas "tu és filha da Olga? A tua mãe ajudou-me imenso e ensinou-me muito, manda-lhe um beijinho muito grande". Na sua vertente de professora, inspirou algumas pessoas na escolha de carreira "és filha dessa Olga? Foi a tua mãe que me fez decidir ir para comunicação" - já ouvi.

 

Filha dedicada, enough said. Travou muitas batalhas, duas das quais decisivas. Ganhou ambas (auto-link).

 

Ontem, perante a fauna que entretanto tomou as rédeas da indústria, estava nervosa ao aceitar o prémio, e sei que tinha muito mais coisas para dizer, mas, sempre a pensar nos outros, não se estendeu..... muito.

 

Uma palavrinha para o Manzarra (desculpa mãe, não resisti), a quem coube o frete de ser o anfitrião da noite (pelo menos era com ar de frete que estava); quando um dia fores receber um prémio de carreira, e estiveres ali na presença dos teus pares e da tua família, eventualmente comovido e nervoso, também desejo que o palhacito de serviço, enquanto falas e agradeces, passe o tempo a fazer gags, e palhaçadas, e também não seja suficientemente profissional para perceber que há um momento em que a atenção não tem de ir para o apresentador, mas sim para o apresentado. Ficamos assim, que eu prometi à minha mãe que não falava do tema e, sobretudo, que não usava palavrões.

 

Não tive acesso ao discurso completo, mas sei que há algo que gostava de ter dito, e é algo importante a que dedicarei alguma atenção mais tarde, não aqui.

 

A minha mãe ficou com ZERO arquivo. Não tem um filme, não tem um folheto, não tem um spot de rádio, um mupi, um outdoor, um anúncio de imprensa (a não ser aqueles que guardou porque ou eu ou a minha irmã entrávamos, e de que já falei aqui, aqui, aqui e aqui (tudo auto-links).

 

Numa época em que o revivalismo está na moda, um desafio interessante para o Clube de Criativos de Portugal (e não só, as marcas e anunciantes também beneficiariam), era fazer uma recolha (e digitalização) de todo o arquivo publicitário português. Há kilos de material por digitalizar, nos arquivos das produtoras, e nas caves dos jornais, e nas salas dos fotógrafos, no acervo de cada anunciante. Som, imagem, vídeo. A história da publicidade em Portugal, contada através do que viu a luz do dia (fora o resto, muito mais, que nunca chegou a sair).

 

Dava um site do caraças (nessa parte eu posso ajudar). E a minha mãe sempre ficaria com algum arquivo :)

 

Este relambório todo, no fundo, só para dizer, que gosto de ti, mãe, e tenho muito orgulho na tua carreira, mas especialmente, em ti :)

(Aproveita, que, como sabes, isto não é sempre).

 

Cença

Jonasnuts, 12.01.11

Cença é como algumas pessoas dizem com licença. Sabem, quando um empregado nos serve num restaurante, e a cada coisa que coloca na mesa, vai dizendo "cença, cença, cença".

 

Dão-me licença que entre? Já se foram embora as pessoas que só visitaram aqui a chafarica à conta do episódio pessoal do final do ano? Muito agradecida (de facto), por todo o apoio que recebi, mas sinto falta das minhas patetices do costume. A minha mãe ficará feliz, no entanto, por saber que não me sinto ainda completamente à vontade, para usar vernáculo, mas, já faltou mais.

 

Não gosto de exposição (não me acanho, não me retraio nem me atrapalho, mas não gosto), e gosto do ambiente semi-familiar deste Blog. As pessoas do costume, um troll aqui e ali para animar de vez em quando, mas pouco mais que isso.

 

Os números ainda não regressaram à normalidade, mas para lá caminham rapidamente.

 

E, porque falei na minha mãe e de patetices, aqui fica um dois em um. Uma caneca que tenho em cima da minha secretária. Oferecida pela minha mãe. Vinda de Londres há 2 ou 3 anos. Tão convicta está a minha mãe de que esta caneca tem uma mensagem real e fidedigna, que este ano me trouxe outra igualzinha. Ficou para a minha irmã, assim como assim, também lhe assenta que nem uma luva.

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Pronto. Só para regressar às patetices e para saberem o que é que a minha mãe pensa de mim (e da minha irmã :)

A minha mãe

Jonasnuts, 13.10.10

A minha mãe não é uma senhora. A minha mãe é uma gaja. E isto é, obviamente, um elogio.

 

Muito do que eu sou e do que eu não sou, devo-o à minha mãe. Sendo que me refiro às coisas boas que sou, e às coisas más que não sou.

 

Os defeitos, o feitio, nomeadamente o mau-feitio, não são da minha mãe, são meus.

 

A minha mãe é a pessoa mais paciente que eu conheço. Até irrita, tanta paciência. Mas deu-me jeito, quando andava na escola que ela fosse tão paciente. Abençoadas explicações de matemática e português.

 

E isto tudo a propósito de quê? Ela não faz anos (é de Abril), não se assinala hoje nenhuma efeméride, não é dia da mãe. É por causa do meu post de ontem sobre as obscenidades.

 

A minha mãe não é burra, muito pelo contrário. E sabe que eu uso (na opinião dela, abuso) do vernáculo. Faço-o à sua frente, e até sei quais são os palavrões que a arrepiam. Esforço-me por usar esses, amiúde, na sua presença. Aliás, eu e a minha irmã divertimo-nos imenso com este arrepio da minha mãe face a algumas palavras que lhe fazem mais confusão.

 

Por outro lado, sendo uma mulher que toda a vida trabalhou com palavras, usa algumas que não oiço a mais ninguém, sendo que a que me ocorre agora, assim de repente, é a palavra "pirilau".

 

Voltemos à vaca fria, sendo que com isto não pretendo fazer qualquer analogia entre a minha mãe e a vaca, muito menos a fria.

 

Sempre que uso palavrões, aqui, a minha mãe vê, porque, mais coisa menos coisa, ela lê isto. Lê isto via Facebook o que, no caso do post de ontem dá menos jeito, porque a porcaria do Facebook não mostra os vídeos.

 

Portanto, a minha mãe leu o post, cheio de (não posso dizer caralhad**, está bom assim Nika?) palavrões, e não viu o vídeo.

Escandalizou-se, claro.

 

Levei nas orelhas, quer nos comentários do Facebook quer ao telefone :) Expliquei-lhe que havia um vídeo e tal, mas não me ligou nenhuma. Mais tarde disse-me que, de facto, o texto era brilhante. Está mal, o Miguel Esteves Cardoso e o Miguel Guilherme podem usar vernáculo, que são brilhantes, eu, uso o mesmo vernáculo, e sou obscena.

 

Não prometo que não diga aqui mais palavrões, está-me no sangue (não é o teu sangue mãe, não te preocupes), mas redimo-me desta forma.

Este é um post para dizer que gosto de ti mãe.

E como é para ti, termino duma forma mais prosaica.

 

Gosto de ti, pirilau.

 

P.S.: E o vídeo pode ser visto aqui