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Jonasnuts

Jonasnuts

25 de Abril de 1974

Jonasnuts, 25.04.08
Eu sei, toda a gente escreveu sobre o 25 de Abril, e eu não gosto de posts redundantes, mas que se lixe, é 25 de Abril sempre, fascismo nunca mais.

Eu tinha 5 anos. Tenho boa memória. Lembro-me bem desse dia. Inevitavelmente lembro-me de que não houve escola. Mas a minha memória mais forte é a voz na rádio, a avisar, não saiam de casa. E o meu pai a sair porta fora, e a minha mãe ria-se, mas estava preocupada. Passado um bocado o meu pai regressou, e depois voltou a sair.

Os dias seguintes foram uma festa. Por mero acaso, a minha escola, escolhida por ser geograficamente conveniente, era um "ninho" de filhos de presos políticos. Muitos meninos, como eu e a minha irmã, andavam lá normalmente, muitos outros andavam lá, sem pagar nada, por serem filhos de presos políticos. Era o Giroflé. Ainda existe, ali à Estefânea. Evidentemente, para mim e para todos os que frequentavam aquela escola, o ambiente dos dias que se seguiram foram mais festivos ainda.

Era excelente o ambiente que se vivia nas ruas. E alguma instabilidade que sei agora que houve, a seguir, a mim passou-me ao lado, eu queria era ir para as manifestações, às cavalitas do meu pai, gritar palavras de ordem que não compreendia. Fascismos nunca mais, e o povo está com o MFA e essas coisas. Nunca mais gritei palavras de ordem, gosto pouco de carneiradas, mas naquela época valia tudo, e assim como assim eu não percebia nada e engatava na mudança que os meus pais metiam.

Franco, fascista, assassino. O povo unido, jamais será vencido. Força, força companheiro Vasco, nós seremos a muralha de aço. O povo está, com o MFA. 25 de Abril sempre, fascismo nunca mais.

Colar autocolantes à sucapa nas escadas, para a D. Clarinda não nos apanhar, e um dia apanhou-nos, e descobrimos, com surpresa, que afinal, a D. Clarinda, o megafone do prédio, até torcia pela mesma onda. Esquisito.

O 1º de Maio de 1974, na Alameda, foi uma coisa de loucos. O entusiasmo sentia-se, era quase palpável, e toda a gente se ria uns para os outros, e toda a gente se tratava por camarada.

Hoje tento ensinar ao meu filho o que era o tempo antes do 25 de Abril, não que me lembre, mas aprendi, e não consigo. Felizmente o meu filho não concebe um tempo em que não se podem dizer algumas verdades, nem um tempo onde quem diz essas verdades é preso. Não percebe o que é a censura. Não percebe o que são presos políticos. Não percebe nada disso.

Felizmente.

Escolas

Jonasnuts, 24.04.08
A pensar no futuro, ando a "ver" escolas. A escola do meu filho só tem até ao 6º ano pelo que, no 7º vai ter ir para outra escola.

Eu sei, ainda faltam dois anos e tal, mas se eu optar pelo privado, não estou adiantada, porque as inscrições são, frequentemente, muito antes. Prefiro ter tempo para pensar com calma, pesar os prós e os contras, falar com outras pessoas, partilhar experiências e rezar para que tudo corra bem.

A primeira questão é, público ou privado?

Tem andado sempre no privado, mas não ponho de lado a hipótese de o pôr numa escola pública. Depende da qualidade da escola (qualidade de ensino, das instalações, a comida, a segurança, etc.). Conheço muitas escolas privadas em que o que se paga não corresponde (nem pouco mais ou menos) à qualidade do serviço que é prestado, e haverá casos de muito boas escolas públicas.

Como é que se faz a coisa para que não seja uma roleta russa?

Toda a gente me diz "é uma questão de sorte".

Sorte? Sorte uma merda, que eu não ando aqui a tentar dar-lhe o melhor, e depois deixar algo tão importante como a sua formação ao acaso da sorte.

Com base nisto, decido ir à procura de referências sobre o Liceu de Paço de Arcos (que nem se deve chamar assim), e não encontro nada, online. Como é que se sabe mais acerca de uma escola? São os rankings? É preciso ir à P.S.P daquela área perguntar qual é o índice de assaltos naquela zona?

O Ministério da Educação havia de ter um sítio qualquer onde disponibilizasse essa informação sobre as escolas. Área, cursos, professores, um ranking de assiduidade, fotos das instalações, quem é que fornece o catering, qual o ratio número de alunos/número de pessoal de apoio, criminalidade, associação de pais, ranking de classificação, etc. Tudo o que é relevante e que ajude uma mãe a decidir, em função daquilo que quer da escola do filho.

Ainda não me conformei com a ideia de que devo inscrevê-lo em qualquer lado, e esperar para ver se tive sorte.

Nunca gostei de lotarias.

Ainda sobre a erecção dos Blogs

Jonasnuts, 24.04.08
Na semana passada falei aqui dos auto-refresh e da importância que é dada aos números de visitantes dos blogs, e aos tops, e às estatísticas.

Nos comentários a esse post o Bino levantou a possibilidade de fazer uma espécie de Take Over aos tops, e registar uma catrefada de Blogs e colocá-los, artificialmente, a ocupar os famosos tops onde todos querem estar. Adorei a ideia, era um proof of concept engraçado e serviria, provavelmente, para abrir os olhos a muita gente que anda enganada. Enganada porque acha que os números não mentem, e enganada porque acha que são importantes (para estas coisas).

O Gonçalo Silva decidiu meter as mãos na massa e, não tendo tomado de assalto os tops e demais montras, mostrou que é fácil manipular os números, e fê-lo.

Bastaria ele querer repetir o processo com frequência (portanto, mais do que apenas uns minutos, mas uns minutos, todos os dias), e passaria a ocupar o primeiro lugar do Blogómetro. Ele não quer.

A questão que deixo no ar é a seguinte: De todos os que estão no Blogómetro, principalmente os que ocupam os lugares mais visíveis, quantos é que recorrem a este tipo de esquemas para ali estarem?

Nick Cave ontem, no Coliseu de Lisboa

Jonasnuts, 22.04.08
Antes de mais, não sou fã de Nick Cave. Gosto de algumas coisas, mas não sou a fã que sabe as músicas todas de cor, das várias fases, das várias facetas. Eu andei a treinar, e a ouvir intensamente Nick Cave na última semana. Mas ia entusiasmada para ouvir o concerto, para ver se era melhor que o de há uns anos também no Coliseu, a que também fui.

Cheguei em cima das 21h00, que era a hora de início da banda de apoio. Muita gente. O meu esquizitómetro atingiu níveis mais altos do que no concerto dos Editors. Mas a mim, os esquizitóides não me fazem confusão, até animam o ambiente, distraem a vista.

Lá comprei as t-shirts da praxe, porque, havendo, compro sempre merchandising. São óptimas recordações dos espectáculos por onde andei mesmo quando já não servem a não ser para dormir.

Não conhecia a banda de apoio, e não fiquei a conhecer. Não percebo as pessoas que vão para um espectáculo pôr a escrita em dia e falar, alto, como se não houvesse amanhã. Atrás de mim estavam umas galinhas que não se calaram, aos berros, durante todo o concerto da banda de apoio. Não me parece que a tal da banda fosse grande coisa, mas mal por mal era preferível aos cacarejos das meninas. Quando foram à casa de banho foi um alívio, embora os namorados se tivessem esforçado por fazer igual barulheira. Não conseguiram. Não há como duas mulheres para cacarejar irritantemente.

Quando se aproxima a hora do espectáculo, começa a encher mais, o Coliseu. Começam os empurrões, as pisadelas e as cotoveladas. Ok, faz parte, a massa que é o público aninha-se e acomoda-se para passar a próxima hora e meia a ouvir um gajo de quem todos gostam. Só não percebo aquela onde do "dá-me licença" e em vez de passar ocupa o lugar onde eu estava e de onde saí para lhe dar a licença. Olhe, desculpe, eu estava aí. Licença, é para passar, não é para ocupar o espaço onde eu estava. Mas ok, é uma técnica, há mais e mais intrusivas.

Quase no início do concerto propriamente dito, o lugar das galinhas é ocupado por um grupo de sessentões, a reviver o passado da crise de meia idade de há 20 anos, a fingir que são cool, e que estão na onda, e que ainda estão para as curvas e que na tentativa vã de transmitirem esta mensagem, pisam, acotovelam e encostam-se a tudo e a todos. Estive vai não vai para lhes sugerir um concerto dos D'zrt, onde fariam mais sucesso, provavelmente. É tão giro ver avôs a acompanhar as netas.

Entra o Nick com as sementes, e o público ovaciona. É normal. É mais normal ainda no público português que ovaciona por tudo e por nada. Não somos nada parcos no que às nossas palmas diz respeito.

O concerto começa bem. Estou a gostar. Parece haver um desentendimento entre o Nick e os pedais da guitarra, mas pronto. Aquela luz direitinha aos meus olhos e que volta não volta me encandeia também podia estar melhor, mas ok, são detalhes, menores. Se a assistência que me rodeia não consegue cortar-me a boa onda, não são meras minudências técnicas que o vão fazer.

O gajo canta bem. O que é raro, num concerto de Nick Cave. Normalmente nos concertos são fífias atrás de fífias, mas a empatia, a encenação, o poder cénico a força do personagem em palco funcionam, contrabalançam e ultrapassam. Se o querem ouvir cantar afinado, comprem o disco. Se o querem ver, mais à mise-en-scène, vão ver ao vivo. Mas desta vez não. Estava a cantar lindamente. A coisa prometia.

Até mais ou menos à quarta música, a coisa correu muito bem. Depois disso entrou ali num marasmo descendente. Os pedais continuaram a dar problemas e houve mesmo um que levou um chuto que o fez voar para trás do palco. As duas baterias não funcionaram grande coisa e houve mesmo algumas músicas em que os músicos estavam cada um para seu lado. O próprio Cave reconheceu a coisa, no final de uma das músicas, em que disse que aquela, eles ainda tinham de aprender a tocar.

Umas pausas estranhas entre músicas que faziam perder o ritmo, e que não eram aproveitadas pela banda eram sobejamente aproveitadas pelo caramelo que estava ao meu lado, a quem alguém, um dia disse que "motherfucker" era um enorme elogio e que, com base nessa informação, se esforçava por elogiar a banda, frequentemente. Tinha uma paranóia qualquer com o Barbas, por quem também chamava muito.

O fumo era mais que muito, muitos cigarros, mas não só. Não era tão boa como a dos Editors.

Saí antes do fim.

Decidi (mais uma vez) que não me volto a meter no meio do maralhal. Devo ser eu que sou esquisita. O resto do pessoal gosta de porrada, cotoveladas, asnos a berrar aos ouvidos, pisadelas e afins. Eu nunca gostei, não era agora que ia começar a gostar. Meus ricos doutorais, minhas ricas cadeirinhas de orquestra.